As imagens de Deus que carregamos em nossa mente são muitas e variadas. Normalmente, aceitamos uma porção de contradições na imagem que fazemos de Deus. Como dizemos que Deus é mistério, compreendemos que dentro disso cabe quase tudo. Compreendemos como aquilo que não é possível conhecer. Assim sendo, Deus se torna um produto de tantas mentes, de tantas linguagens e compreensões que, por vezes, não se sabe mais o que algumas pessoas querem dizer quando falam de Deus. Ou melhor, nas afirmações de crentes e até de pregadores, não reconhecemos o Deus de amor que acreditamos. Dito de outro modo, pensamos: “mas o Deus de amor que eu acredito, não é assim como esse pregador está falando”. A questão é que não temos condições de sentar-se numa mesa redonda e debater sobre a ideia de Deus. Cada pessoa, religião, grupo, movimento, vai adentrando numa compreensão de Deus e já não há desejo de discutir e criticar a ideia de Deus que construí. Por isso, Deus se torna um produto de inúmeros rostos. Essa constatação não colabora para que Deus seja mais amado e buscado.
Temos a ideia de que Deus é amor, mas que castiga e mata ao mesmo tempo. Perdoa, mas pune o pecador. É criador, criou um mundo perfeito, mas em vista do pecado de Adão e Eva, castigou a humanidade para sempre. Entrega por amor os mandamentos para que os sigamos, mas pune a não observação deles. Pode tudo, mas permite o mal. Vê nossos problemas e dificuldades, poderia ajudar, mas ajuda só quando quer. Criou o mundo livre e com suas leis, mas faz chover quando quer e como quer. Criou o ser humano livre, mas lhe marca a hora para morrer. É preocupado conosco, mas espera uma prece nossa para ajudar um doente. Vê o problema antes que nós e pode resolvê-lo, mas espera uma prece de nossa parte. Evita algum e outro mal, mas não evita todos porque é livre. Permite o mal porque dali quer tirar um bem maior. É onipotente, pode tudo, mas só evita o mal que quiser.
Todas essas ideias sobre Deus precisam passar pelo crivo da razão. Quando compreendemos que a ciência e a fé não se excluem, mas devem andar juntas, significa que a fé em Deus deve se harmonizar com o pensar Deus. Deus não é e não pode ser contraditório. O ser humano vive em si mesmo as contradições. Deus, porém, embora mistério, não pode ser contraditório. Temos que usar a inteligência, a reflexão para o compreendermos sempre mais. Eliminar as contradições de nossas crenças. Perceber que Deus se torna sempre mais Deus, na medida em que não afirmamos inúmeros conceitos irrefletidos sobre ele. Se alguém me diz que Deus permite o mal, como explicar-lhe que isso não é possível? Como falar a uma pessoa que Deus não pode fazer tudo aquilo que a nossa cabeça pensa, porque que, às vezes, o que pensamos é uma contradição ou algo irreal? Muitas vezes, submeter Deus a razão é possibilitar o julgamento das pessoas. A pessoa pensa um Deus todo contraditório e julga o outro por ter uma ideia diferente de Deus.
Gostaria de desafiar você a pensar um Deus não contraditório. É muito rico criar uma imagem de Deus coerente, a partir no núcleo do amor. O amor é a pedra fundamental para obtermos uma ideia honesta, justa e coerente de Deus.