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Dia 20 de novembro: Consciência ou inconsciência?

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Em 2020 se completam 325 anos da morte de Zumbi. No entanto, sabe-se muito pouco sobre sua história. O que é sabido até os dias atuais é baseado em publicações escritas por europeus. Logo, conforme explica professor de História, estes documentos amparam a reconstituir apenas uma pequena parte da história de Palmares.

 

Por  MF Press Global 

 

No período da década de 1630, Palmares adveio por um grande desenvolvimento devido aos tumultos entre holandeses e portugueses no Nordeste. Foi então quando os portugueses reconquistaram a região com novas expedições. Já o declínio do quilombo deu-se a partir do período do ano de 1680. Todavia, a transmissão que colocou fim ao quilombo foi a do bandeirante Domingos Jorge Velho, enviado para destruir Palmares. Ele ganhou o direito de domínio no qual ficaria com parte dos negros que eram capturados e com determinadas terras na região da Serra da Barriga. O Mocambo do Macaco que acabou sendo aniquilado, em 1694, e os sobreviventes evadiram e resistiram até o começo do século XVIII.

Portanto, uma das grandes personalidades do Quilombo dos Palmares foi Zumbi. Segundo o professor de História, Ueldison Alves de Azevedo, o mesmo ficou conhecido por ter sido um dos chefes do quilombo e como resultado acabou pagando com sua vida. “Aliás, ao longo da história pouco se sabe por isto. O que sabemos são pouquíssimos os relatos de sua existência em vida de Zumbi e algumas das terminações que eram avaliadas verdades concretizadas até certo tempo e são presentemente examinadas por alguns historiadores”.

 

Professor de História Ueldison Alves de Azevedo. Foto: Divulgação.

 

Entretanto, até certo tempo, Ueldison conta que permanecia consolidada certa história de que Zumbi tinha sido enclausurado na sua infância, durante um ataque a Palmares, e tinha sido designado por um padre que o nomeou de Francisco e o mesmo alfabetizou. O personagem Zumbi dos Palmares teria evadido, na adolescência, regressado a Palmares e lá assumido uma posição de liderança: “Essa versão, no entanto, tem sido questionada pela falta de evidências que a sustentam”. De acordo com o professor, “essa diferença acontece, porque o autor desse trabalho utilizou-se de cartas que somente ele teve acesso e que ele nunca disponibilizou para mais ninguém. Uma referência a Zumbi é feita pelo rei de Portugal d. Pedro II, em uma carta na qual o rei português propõe perdão para Zumbi caso ele aceitasse viver como súdito de Portugal. Nesta carta faz ele fez a menção a uma esposa e a filhos de Zumbi e, apesar disso, os historiadores não conseguem dizer se de fato ele teve esposa e filhos”, detalhe.

Além disso, Ueldison ressalta que outro problema referente a Zumbi é o fato se ele foi uma pessoa ou esse termo era um título: “Uma parte dos historiadores acredita nos dois casos e, sendo assim, Zumbi, o líder que resistiu e morreu, em 1695, existiu, mas que o termo ‘zumbi’ também poderia ser um título existente em Palmares. Um indicativo disso é dado pelo historiador e pesquisador Felipe Aguiar Damasceno que assinala que documentos holandeses da década de 1640 faziam menção a uma autoridade em Palmares que foi registrada por eles como. A semelhança de ‘Dambij’ e ‘Zumbi’ aconselha uma relação direta do personagem com uma posição de autoridade e do emprego do termo como um título”, destaca.

Mas não há só incertezas sobre Zumbi

Determinadas certezas sobre Zumbi são que, apresenta o professor de História, é que, “em 1678, ele se desentendeu com o então líder do quilombo, Ganga Zumba. Isso aconteceu porque Zumba tinha recebido uma oferta de paz das autoridades portuguesas. Nessa oferta, ele aceitava mudar-se para uma aldeia estipulada pelos portugueses, e os negros nascidos em Palmares continuariam livres, mas os fugidos seriam reencaminhados à escravidão”. No entanto, “Ganga abrigou a oferta dos portugueses, porque estava sendo chantageado pelos portugueses. Determinados de seus parentes haviam sido sequestrados e acabaram sendo usados como moeda de barganha para forçar o líder do quilombo a aceitar a oferta de paz. O aceite dele dividiu Palmares e elemento dos quilombolas voltaram-se contra ele, incluindo o próprio Zumbi”.

Após este fato, Ganga Zumba foi morto, “não se sabe se foi morto por portugueses ou pelos próprios quilombolas, e Zumbi tornou-se líder. Além disso, o Zumbi também entrou em conflito com o irmão de Ganga Zumba, chamado Gana Zona, mas acabou prevalecendo. Em 1678, tornou-se líder de Palmares e conduziu a resistência palmarina nos últimos anos”, relata Ueldison.

A verdade sobre a morte de Zumbi

Outro ponto interessante a ser lembrado, define Ueldison Azevedo é que, logo após a expedição de Domingos Jorge Velho ter extinguido o Mocambo do Macaco, Zumbi e outros sobreviventes evadiram e esconderam-se nas matas da Serra Dois Irmãos. “Durante um ano e meio, resistiram embrenhados no mato. Essa informação foi obtida por novos estudos que desmitificaram a ideia de que Zumbi teria cometido suicídio em 1694”, reforça.

O professor explica que Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695, depois que um de seus companheiros chamado Antônio Soares revelou sob agonia o local de esconderijo de Zumbi. Um bandeirante chamado André Furtado de Mendonça preparou uma emboscada que o localizou. Por fim, após ser morto, sua cabeça foi decepada e exposta em Recife.

Outro ponto de curiosidade que cerca a História, o Zumbi dos Palmares foi sequestrador de negros? Segundo Ueldison, essa história não é tão bem verdade assim: “O que existia de fato era a lembrança de sua origem, todos os quilombos faziam ritos que estavam ligadas ao continente africano. Com a chegada dos europeus na África, eles percebem a escravidão de tribos que existia nas variadas regiões, a escravidão não é algo do branco em si, mas ela já remonta desde a Mesopotâmia. Então com a formação dos quilombos, existia sim essa prática quanto dívida do passado daquele povo, havia uma classe social dentro dos quilombolas, mas, vale lembrar, isso não significa que não houve uma luta pela resistência contra os brancos e que o Zumbi dos Palmares era carrasco”.

A importância da data para os tempos atuais

Desde 2003, em homenagem a Zumbi e aos negros do passado, é instituído no Brasil o dia da consciência negra. Mas, o professor lembra, essa conquista não mostra ainda um progresso em definitivo dos negros: “Onde num país que só lembra dos negros nesse dia, os demais 364 ele é esquecido, violentando em vários sentidos? A questão que coloco aqui é o que passa na cabeça das pessoas quando se trata de consciência. O racismo ainda é estrutural? Qual é o sentido desse feriado para pessoas que poucos sabem das lutas contra a aristocracia e a liberdade de um povo que era tratado como objeto? Ainda temos muito a explicar sobre o tema. O que passa na cabeça dessas pessoas?”, questiona.

Ueldison Azevedo ressalta que é preciso valorizar as lutas atuais do movimento negro. “Nas eleições americanas, por exemplo, uma das pautas foi os protestos da sociedade negra a respeito das mortes ocorridas este ano por violência policial. No Brasil, em 2016, um comerciante foi morto por proteger homossexuais e por ser negro”. Neste sentido, ele propõe uma reflexão: “A consciência negra está dentro de nós como uma sociedade laica e acolhedora? Simplesmente, não está. Mas ao menos essa é uma vitória dos negros é fundamental para lembrarmos de toda a importância deles para nossa sociedade”, finaliza.

 

Foto de Capa: Reprodução.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745