Por Ascom (https://www.justicasocial.ba.gov.br)
A disputa por 871 hectares de terra, localizados na Fazenda Conjunto São Francisco, no município de Ribeirão do Largo, região Sudoeste da Bahia, colocou sob risco a cacica Tanara e mais 50 famílias da Aldeia Alto da Abrobreira, do Povo Indígena Kamacã. 107 famílias indígena Imboré da Aldeia Cachimbo e 34 famílias na comunidade Tupinambá Juriti do Pardo.
“Desde que saiu a decisão do judicial que determina que a Funai faça a demarcação, de que essa terra é nossa, eu e o meu povo estamos sendo ameaçados. São diversos episódios que nos deixam ainda mais vulneráveis e assustados”, revela a Cacica.
Segundo Tanara, na noite do último dia 13 de novembro, foram ouvidos disparos de tiros dentro da reserva durante a madrugada e, ao amanhecer, diversos projéteis foram localizados em diferentes pontos da aldeia, incluindo várias marcas de tiros nas paredes do barracão, que é uma casa coletiva, que abarca diversas famílias, incluindo crianças, anciões, gestantes, jovens. “Toda a comunidade ficou apavorada, sem saber o que fazer. Um clima de medo e terror se espalhou. Essa não foi a primeira vez que foram ouvidos disparos de tiros próximos da reserva”, relatou.
“É uma situação de muita tristeza para nós, essa terra é nossa por direito e o meu povo tem direito a esse território, pelo qual lutamos há décadas. Os latifundiários querem que a gente desista, mas essa é a luta de um povo e nós não iremos recuar” disse Tanara, que ainda relatou não poder transitar livremente pelo município de Itambé, vizinho a Ribeirão do Largo.
“Recentemente fui ao município e um rapaz fez fotos da placa do carro em que eu estava e fez fotos minhas também, ampliando ainda mais o clima de insegurança e tensão dentro da reserva, que se encontra em situação de vulnerabilidade social, econômica e alimentar”.
Foi para pedir auxílio que Tanara procurou a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS).
“Estamos diante de um caso clássico: a disputa pela propriedade de terra indígena e a coação de um povo tradicional e economicamente mais frágil. Uma situação que requer muita atenção, pois a comunidade tem sido palco de ataques partidos de latifundiários da região”, ressaltou o secretário da SJDHDS, Carlos Martins, que se reuniu com Tanara e lideranças Kamacã.
Durante a reunião, foi exposta a preocupação do Governo do Estado com a integridade dos indígenas e, em especial da cacica, o que motiva a SJDHDS a iniciar um processo de acompanhamento e envio para o Condel, que avaliará os critérios de inclusão de Tanara no Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos (PPDDH). “É preciso que a gente tenha sensibilidade e agilidade para tratar dessa questão, estamos falando de uma liderança que está sendo ameaçada, não só ela, mas toda a sua família e comunidade”, declarou Martins.
O secretário ainda destacou que atualmente dezenas de indígenas estão incluídos no programa. “Temos dezenas de casos como esse por diversos territórios da Bahia, a disputa por terra é algo sério, que vem acompanhado de muito sofrimento e violência para os índios, e nós temos um compromisso efetivo na proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas”, disse ele, reforçando também que a SJDHDS irá permanecer no acompanhamento do caso e caminhando ao lado povo Kamacã.