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Doce que Adoça

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Ela começou fazendo brigadeiros.

Daqueles das nossas festinhas quando criança: tradicionais, cobertos de granulados espetadinhos, nas forminhas cor de rosa ou azuis.

Nessa época todo o dinheiro que ganhava com brigadeiros tradicionais eram minunciosamente aplicados para que mais delícias fossem feitas.

Até que um dia teve ideia de inovar e fazer outros tipos de brigadeiros. Pesquisou, procurou, testou, experimentou e lançou um novo menu.

Alguém pode me dizer que não existem “outros tipos de brigadeiros”.

Que no máximo que há são doces de chocolate com sabores variados.

Eu discordo de Alguém, afinal no mundo do empreendedorismo moderno, as coisas se reinventam a cada dia e sendo assim, o brigadeiro tradicional pode se transformar também em brigadeiro de gengibre, de amarula, de castanha do Brasil, de creme de avelã, de cereja e de pistache.

Logo quando começou a venda de um produto mundialmente conhecido e apreciado com uma roupagem nova foi sucesso imediato.

Para que você não ache que sou doida de vez, justifico minha ideia: quando digo mundialmente conhecido é por acreditar que em cada lugar do mundo exista, ao menos uma pessoa, que se não experimentou, ao menos ouviu falar na delícia que é o brigadeiro.

Muito tempo depois do primeiro brigadeiro, recebeu em sua loja a visita de um cliente:

– Então o Senhor quer 200 brigadeiros de cada um dos nossos sabores, é isso?

“Isso mesmo, senhora, mas para fecharmos o contrato tenho apenas uma ressalva: quero que compre os ingrediente de cada um deles com o dinheiro que recebeu pela produção dos sabores encomendados.

– Como assim? Toda minha matéria prima é de excelente qualidade. O que o senhor quer dizer com essa exigência?

“Minha senhora, quando compra ingredientes para o brigadeiro de creme de avelã com o dinheiro ganho com os brigadeiros de amarula o sabor fica misturado. Os gostos se confundem, eu posso te garantir!”

Ela que começara lá atrás vendendo um brigadeiro por vez, se orgulhava agora por ter expertise suficiente em atender de maneira simultânea várias grandes encomendas.

Já tivera muitos clientes excêntricos, mas nenhum àquele ponto.

Apesar daquela aparente maluquice, do cliente, continuou dialogando:

– Senhor, isso não existe. Tudo é feito de maneira individualizada. Minha equipe é treinada, até os utensílios são separados por sabores. Não contato de um doce com o outro em qualquer fase da produção, eu te garanto.

“Minha senhora, acredite em mim! Caso use o dinheiro ganho com brigadeiro de creme de avelã para comprar os ingredientes do brigadeiro de gengibre os sabores se misturam.”

Foi aí que Ela, com a paciência digna de quem não quer perder um cliente e nem embarcar nos devaneios dele, sentou-se com o rapaz tendo à sua frente uma bandeja de lindos brigadeiros.

– Experimente esse.

O Senhor experimentou com a cara mais satisfeita do mundo.

– Eu comprei os ingredientes com dinheiro ganho com quem?

Ele pensou e respondeu:

“Esse aqui foi com o dinheiro do brigadeiro de amarula.”

E Ela:

– Por isso ele tem gosto apenas de amarula.

E assim ele foi experimentando todos os outros sabores e tendo a mesma conclusão.

“Aqui está senhora, a metade do valor da encomenda. No dia acertado venho buscar e pagar os outros 50%.”

O Senhor despediu-se e foi embora.

Ela sorrindo, concluiu sozinha:

– Nesse doce que aqui adoça, meu querido, o principal vínculo que há é  do sabor com a qualidade. O dinheiro que entra não fica grudado ao doce que o trouxe. Mas ainda bem, como você viu, os sabores são deliciosamente separados. Eu te garanto, nossos brigadeiros farão o maior sucesso em sua festa!

– Ela, o cliente já foi.

-Eu sei, estava aqui só terminando a venda.

E assim, sorridente ficou à espera do próximo cliente.

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