Ficar ali deitada ouvindo o barulho da chuva bem que podia resolver todos os seus problemas.
Talvez quando ela se fosse e o sol voltasse secaria suas lágrimas para sempre.
O passarinho corajoso soltou novamente seu canto forte e feliz.
Ao som do único que parecia contente naquela manhã ela adormeceu.
Ela chegara até ali com a única intenção de lhe fazer companhia:
“Irmã, está tendo o Mundial de Motrocroos Freestyle, vamos?”
– O que é isso?
“O campeonato mundial de motocross que os caras ficam voando com as motos.”
– E se cair?
“O povo acode. Vamos?”
– Tenho medo que eles caiam.
“Você fica de olhos fechados. Vamos?”
– Vamos, garoto chato.
E lá foram eles. Ela sem o menor interesse em ver motos voadoras, foi mesmo só para servir de companhia para o irmão pequeno.
– A gente vai, fica um pouquinho e depois toma outro rumo – pensou.
De longe, bem de longe era possível ouvir a música ensurdecedora.
Mesmo assim os dois avançaram entre a multidão.
Ela andando e olhando para cima:
– Irmão do céu, eles estão voando! Menino, você vai cair daí! Sua mãe sabe que você faz isso?
O Irmão não resiste e gargalha:
“Para com isso, garota. Isso é um campeonato mundial, a mãe de todos eles sabem que seus filhos voam.”
– Deus que me livre. Eu nunca ia deixar você sair voando pelo mundo desse jeito.
* Ele é seu filho?
Ela se assustou e virou para o lado já sorrindo:
– Não! É meu irmão. Mas se ele se metesse a querer voar desse jeito eu morria!
Falou já olhando para aqueles olhos profundamente azuis.
Foi ali.
Envoltos por aquela música que Ela não entendia uma só palavra e Ele sabia todas de cor que eles trocaram o primeiro olhar.
Com a admiração dela por cada manobra finalizada, cada voo mirabolante e a naturalidade com que Ele via as mesmas coisas fez com que a conversa engrenasse rapidamente.
Eles foram chegando perto, chegando perto para se fazerem ouvir e quando perceberam estavam sussurrando um no ouvido do outro.
Um número de telefone foi.
O outro voltou.
Marcaram de encontrar-se e assim fizeram uma vez , duas, três…
Passaram a andar de mãos dadas.
Ela ouvia músicas que nem sabia que existiam.
Ele ia a lugares que nunca ouvira falar.
Algumas vezes as informações até então desconhecidas para um e tão familiar para outro causavam trovoadas e temporais.
Eram brigas longas, sofridas.
Depois que a chuva ia e o sol voltava eles continuavam vivendo como se elas nunca tivessem existido.
Mas ficava o arranhãozinho.
Lá e cá.
Um dia resolveram que iriam andar de mãos dadas para sempre.
– Então, Irmão. Daqui a um ano.
“Sério, Irmã?” – ele pareceu preocupado.
– Sério, irmão! Bendita hora que você me convidou para ir ao Mundial de Motocross Freestyle – falou ela toda sorridente.
“Mas vocês são tão diferentes. Tudo que você gosta Ele detesta, tudo que ele ama você abomina. Tem certeza disso?”
– Ô meu irmão, eu sei que você me ama, por isso se preocupa. Mas fique tranquilo, eu tenho certeza.
Ele pareceu triste:
“Maldita hora que te chamei para ir àquele lugar.”
Ela avança nele, beijando e abraçando o irmãozinho:
– Eu te amo. Eu te amo e juro que vou ser feliz.
Ele parecia descrente:
“Sei não.”
Um ano depois eles disseram sim.
Os trovões mostraram a que vieram e trouxeram junto chuva e vento muito vento.
Foi o que a fez acordar.