Deny Anderson dos Santos é docente da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), faz uma narrativa histórica desde o surgimento da vacina e destaca a importância no mundo
Por Ascom Unicid
Segundo o docente Deny Anderson dos Santos, do curso de Biomedicina da Universidade Cidade de S. Paulo – Unicid, instituição que integra a Cruzeiro do Sul Educacional, foi a partir da descoberta da vacina contra a varíola, no final do século XVIII, por Edwar Jenner, que o desenvolvimento de vacinas e o aprimoramento dessa tecnologia ganhou força como uma das principais ferramentas médicas e de controle de saúde pública no mundo.
O biomédico explica que, a partir desse cenário de descoberta, a pauta vacina ganhou o interesse de organizações de saúde, governos e até mesmo da indústria farmacêutica. “O processo de imunização foi realizado como rotina estendida à população em diversos países, incluindo o Brasil, quando a vacina chegou no início dos anos 1800”, aponta.
O especialista da Unicid contextualiza que após a vacina contra a varíola, foi descoberta a vacina da raiva, por Pasteur (1885), e na primeira metade do século XX, foi desenvolvida a vacina contra a difteria (1923), tétano (1926), coqueluche (1926), tuberculose (BCG, 1927) e febre amarela (1935).
“Com o surgimento e a urbanização de novos patógenos e a necessidade de vacinas mais viáveis e com menos reatividade, na segunda metade do século XX, com o auxílio da engenharia genética, foram criadas as vacinas contra a poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, varicela (catapora), hepatite A e B, pneumococo, meningococo e Haemophilus influenzae tipo B. No século XXI, além da vacina contra varicela zoster e HPV, houve a tendência a agrupar várias vacinas na mesma aplicação, as quais foram denominadas de vacinas polivalentes”, explica.
VACINAS E IMUNIZAÇÃO
As vacinas são ferramentas de caráter imunológico com ou sem influência genética de alta eficiência médica, e servem para combater doenças infectológicas. “À medida que a vacinação atua induzindo no indivíduo uma resposta imune existem variedade de caso a caso, vacina à vacina, de efeitos colaterais indesejáveis. Os objetivos principais das imunizações são prevenir o desenvolvimento do quadro clínico no indivíduo e, ao se alcançar um nível de imunidade elevado em grandes segmentos da população, se obtém o controle ou mesmo a eliminação de determinada virose ou bactéria”, avalia.
Dr. Deny argumenta que além da imunização básica realizada na primeira infância, vacinas virais podem ser utilizadas em outras fases da vida, como a vacinação antirrábica, que é realizada quando há suspeita de que o indivíduo atacado por animal possa ter se infectado pelo vírus.
“No caso da hepatite B, por exemplo, além da imunização dos indivíduos vivendo em áreas de risco ou apresentando maior possibilidade de infecção por suas atividades profissionais, busca-se evitar a passagem do vírus da mãe portadora de hepatite B para o recém-nascido, o que é obtido pela aplicação da vacina o mais cedo possível após o nascimento. Vale mencionar, que a produção de um possível candidato vacinal é algo complexo e pode variar de acordo com o patógeno, via de infecção, localização e população alvo”, avalia.
TIPOS DE VACINA E PROCESSOS
Em geral, as vacinas virais são classificadas como: vacinas vivas, que contêm vírus vivo e atenuado em laboratório, vacinas mortas, que contêm vírus ou suas subunidades submetidas a agentes físicos ou químicos que os inativam, isto é, eliminam a capacidade de vírus se multiplicarem no hospedeiro e vacinas biotecnológicas, como aquelas que requerem tecnologia de DNA recombinante para a produção de RNAs vacinais, VLPs organismos quiméricos.
“As vacinas virais com partículas capazes de se multiplicar nos vacinados tiveram como trabalho pioneiro aquele desenvolvido por Jenner, em torno do final do século XVIII, quando utilizou material obtido de lesões de pele de animais para imunizar contra a varíola. Inicialmente se utilizou o cultivo dos vírus em animais, técnica usada por Pasteur para criar sua vacina antirrábica, através da passagem do vírus em cérebro de coelho e posterior tratamento por métodos químicos. O ovo embrionado de galinha, introduzido na década de 1930, permitiu o cultivo de alguns vírus, como o grupo varíola vacínia e o vírus da influenza, cujas vacinas são até hoje preparadas nesse sistema”, explica.
VACINAS VIVAS (ATENUADAS)
“As vacinas vivas apresentam algumas vantagens importantes sobre as vacinas inativadas. A principal delas é o envolvimento de todos os componentes do sistema imune no desenvolvimento da imunidade contra a partícula vacinal íntegra e que se multiplica no organismo do vacinado. Com isso a resposta imune é completa e mantém-se por longos períodos, reproduzindo muito proximamente a resposta à infecção natural. As vacinas vivas, em geral, apresentam menor custo de produção, o que possibilita a sua utilização em grande escala, como foi o caso das vacinações contra a varíola e poliomielite, ambas com a finalidade de erradicar estas doenças do mundo. Entre as desvantagens das vacinas vivas destaca-se a possibilidade de efeitos adversos que surgem quando da multiplicação no hospedeiro, seja por fatores individuais, seja por uma reversão genética da amostra vacinal, tornando-a mais virulenta”, aponta.
O professor explica ainda que, os processos de atenuação de virulência tradicionalmente utilizados para a obtenção de vacinas vivas se baseiam em passagens dos vírus em células de hospedeiros diversos e em diferentes condições e temperaturas, levando ao surgimento de mutantes menos virulentos, sendo frequentemente difícil definir com clareza os mecanismos dessa atenuação.
“O avanço da biologia molecular permitiu reconhecer algumas mutações envolvidas com a modificação de virulência de alguns vírus, como o da poliomielite, sendo este o mais bem estudado desse ponto de vista”, indica.
VACINA MORTAS (INATIVADA)
“As vacinas inativadas são utilizadas rotineiramente na prevenção de inúmeras doenças, como a influenza, poliomielite (vacina tipo Salk), raiva e hepatite A. Os vírus são inativados por vários métodos químicos, em particular o formol ou detergentes, como na influenza. As vacinas inativadas oferecem como grande vantagem mais segurança, pois não há multiplicação do agente no organismo do vacinado, porém, tendem a induzir uma imunidade menos duradoura e a exigir, com isso, a aplicação de mais de uma dose no esquema de imunização, bem como a repetição das imunizações ao longo dos anos. Exemplo típico são as vacinas inativadas contra a influenza, que devem ser aplicadas a cada ano. Este fato significa um custo mais alto na utilização desses produtos”, explica o biomédico da Unicid.
VACINAS BIOTECNOLÓGICAS
“As vacinas biotecnológicas são aquelas produzidas com o auxílio das técnicas de biologia molecular. Entre as novas tecnologias que têm colaborado para o desenvolvimento de vacinas inativadas destaca-se o uso da tecnologia do DNA recombinante para o preparo de antígenos protetores em mais larga escala, como no caso da hepatite B. São empregadas principalmente células de leveduras, de insetos e de mamíferos. Os procedimentos para a expressão desses antígenos incluem várias fases. De início devem ser identificados com precisão os antígenos produtores da imunidade a serem produzidos pelas células ao nível laboratorial. Esses antígenos devem ser induzidos de forma que as quantidades obtidas sejam elevadas e sua purificação tecnologicamente viáve”, relata.
O especialista ainda explica que dentre as ferramentas imunobiotecnológicas de vacinação, um novo método de se obter imunidade foi desenvolvido por meio da inoculação, diretamente no indivíduo, a partir de fragmentos genômicos de células contendo DNA viral do vírus contra o qual se quer imunizar, juntamente com fatores promotores de sua multiplicação.
“Há algumas tecnologias importantes, entre as quais, a produção de organismos quiméricos. Eles são partículas não existentes na natureza e que são obtidas por introdução de fragmentos de um vírus em outro, mas não necessariamente, da mesma família. Exemplifico: a utilização do vírus vacinal da febre amarela para expressar fragmentos de outros flavivírus, como dengue e encefalite japonesa B, por exemplo”,
Por fim, o docente e biomédico da Unicid explica, que a mais moderna tecnologia aplicada na produção de vacinas é a denominada vacinologia reversa, que foi desenvolvida nos últimos três anos.
“Essa tecnologia se dá a partir do sequenciamento do genoma do agente, a análise de suas proteínas, previstas por meio da bioinformática e com base nas características hidrofóbicas ou hidrofílicas, determinando-se a posição provável das proteínas dentro do microorganismo. Finalmente é avaliada sua capacidade teórica de produzir resposta imune. Os peptídeos selecionados podem, então, ser sintetizados ou expressos em vetores para a comprovação de sua real capacidade de induzir imunidade em animais”, explica o biomédico.