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Dr. Tranquilino Leovigildo Torres, pessoa extraordinária, de inteligência ímpar e grande homem público, assertiva da escritora Consuelo Pondé em seu artigo publicado no jornal Tribuna da Bahia em 12/09/2012.

Publicado em

Mesclo, nesta biografia, dados do artigo da escritora Consuelo Pondé; do livro O Município da Vitória, escrito por Ruy A. H. Medeiros, “um dos mais eruditos historiadores de nossa região”, afirmação de Humberto José Fonsêca em sua introdução ao referido livro; livro Memoria descritiva do Município de Condeúba de Tranquilino Torres; Livro OS TORRES – árvore genealógica, compilada e escrita por Mario Torres e outros.

Tranquilino Leovigildo Torres, filho do vigário Belarmino Silvestre Torres, (31/12/1829-07/08/1896) e da viúva Umbelina Emília dos Santos (12/10/1824-16/06/1887). Tranquilino é natural de Condeúba (município que tinha a denominação de vila de Santo Antônio da Barra), zona da Serra Geral, no Estado da Bahia. Nasceu em 30 de agosto de 1859.

BATIZADO:

Belarmino Silvestre Torres, Presbytero Secular do Habito de S. Pedro, Vigario Collado da Freguezia do Santíssimo Sacramento e Santo Antonio da Barra.

Certifico que revendo um livro findo de assentos de baptismo, consta à ff. 90 o assento do theor seguinte: Aos quinze de janeiro de mil oitocentos e sessenta, o Reverendo Coadjutor Esperidião Gonsalves dos Santos baptisou solenemente e poz os Santos Oleos a Tranquilino , branco, de quatro meses e meio, filho  natural de Umbelina Emíia dos Santos, forão padrinhos o Comandante Superior Exupério Pinheiro Canguçú e sua mulher D. D. Umbelina Barbara de Souz Meira, por procuração que apresentou D. Maria Amalia dos  Santos e para constar fiz esse assento. O Vigario Bellarmino Silvestre Torres. E nada mais se continha no dito assento, que bem e fielmente transcrevi do proprio livro, a que reporto, em fé do que me assigno. Villa de Santo Antonio da Barra, 20 de junmho de 1868. A) Vigario Bellarmino Silvestre Torres. N. 22 Rs. 200 Pg duzentos reis. Barra 23 de junho de 1868 – Silva.

(Copiado do livro:  OS TORRES, editado por Mario Torres).

 Por ser filho de padre católico professava essa religião e permaneceu fiel a sua fé católica até o final de sua vida.

O vigário Belarmino Silvestre Torres, pároco da Freguesia de Santo Antônio da Barra foi Deputado Provincial nas legislaturas de 1882-1883 e 1886-1887.

Umbelina Emília dos Santos era bem-educada e prendada, casou-se com José Rodrigues Coelho em 02 de dezembro de 1843, em Salvado/BA, sendo testemunhas: José Caetano dos Santos e Ana Matildes Campos Pitombo. Enviuvou-se em 29 de abril de 1845. Umbelina Emília dos Santos teve com o comerciante José Rodrigues Coelho, os seguintes filhos: Álvaro Rodrigues Coelho nascido em 1845, Maria Amélia dos Santos Coelho (1846-1888), Umbelina Rosa dos Santos Coelho (1848-1850) e José Rodrigues Coelho Júnior (1849-1850).

Da união com o pároco Belarmino Silvestre Torres e a viúva Umbelina Emília dos Santos, nasceram os seguintes filhos: João Nepomuceno Torres (1855-1913), Belarmina Augusta Torres nascida em 1857, Tranquilino Leovigildo Torres (biografado) (1859-1896), Américo Arnulfo Torres (1861-1910), Elpídio Benígno Torres (1865-1886) e Cecílio (natimorto).

Da segunda união de Belarmino Silvestre Torres com Francisca Benta de São José, natural de Salvador (Bahia), (1857-1934), o casal teve os filhos: Tercília (1886-1913), Leonídia (1888-?), Jovenal Franklin Torres (1889-?), Benjamin Torres (1894-?) e Brasilina (1896-?).

 Tranquilino Torres iniciou seus estudos em sua terra natal, onde completou o curso primário. Em Salvador, estudou nos Colégios São João e 7 de Setembro, dos quais foi interno, destacando-se entre os melhores alunos.

Foram seus diretores e educadores: Luiz da França Pinto de Carvalho e João Estanislau da Silva Lisboa, ilustres professores daquele tempo. Fez os preparatórios em e o curso superior em Salvador. Tranquilino estudou na Faculdade de Direito de Recife iniciado em 1877 e colou grau em 25 de novembro de 1882, portanto com 23 anos de idade. Deixou ali provas de sua inteligência e foi alvo dos mais merecidos louvores, provenientes de um procedimento irrepreensível e de uma aplicação incomum.

Formado em Direito, Tranquilino Torres, iniciou a carreira pública como o primeiro Promotor Público da Imperial Vila da Vitória, hoje Vitória da Conquista, onde ocupou também o cargo de juiz de direito. Nessa cidade   nasceram três dos seus filhos. No exercício do cargo teve contato com a tradição oral o que lhe favoreceu a observação direta pela acuidade de escritor. Posteriormente foi Juiz Preparador em Santa Isabel do Paraguassu (atual Mucugê). Em 1890, com o advento da República, foi nomeado Juiz de Direito em Macaúbas, onde exerceu o cargo por quatro anos.

 Lutou pela regularidade na distribuição da justiça, pela dignidade, pureza e independência da magistratura. Quando se levantou a ideia em Macaúbas pela organização e instalação de um instituto de ensino secundário modelo. Ele esteve à frente desse desiderato que, infelizmente, não chegou a ver a sua conclusão.  Foi nomeado pelo governador, membro do Tribunal de Conflitos e Administrativo, como representante do Senado da Bahia. Fez parte da confecção dos códigos do Processo Civil, Comercial, Criminal e Formulários.

Tranquilino Torres casou-se na freguesia de Sant’Anna em Salvador no dia 21 de abril de 1883 com Maria da Purificação Coutinho da França, que acrescentou Torres ao seu nome de solteira. Nascida em Salvador em 02/02/1867. Filha do Capitão Henrique da França Pinto de Oliveira Garcez e D. Maria José Coutinho da França. O ato nupcial foi celebrado pelo vigário Vitório João Pinto das Neves em sessão especial na casa do Major Antonio José Teixeira, sendo testemunhas o Comendador Antonio Ferrão Moniz de Aragão e o Conselheiro Cincinato Pinto das Neves. O registo civil, então facultativo, foi feito em 14-05-1883.

O casal teve os seguintes filhos: Mario Torres nascido em Condeúba no ano 1884; Octávio Torres (Mucugê) em 1885; Celso Torres (Conquista) em 1886; Oscar Torres (Conquista) em 1887; Jayme Torres (Conquista) em 1889 e falecido em Salvador em 1918; Fábio Torres (Macaúbas) em 1891 e falecido em 1892; Carlos Torres (Salvador) em 1892; Enock Torres (Salvador) em 1894 e Maria Madalena (Salvador) em 1895 e falecida em 1896.

 Com a viúva Ana Rosa Borges da Silva, anteriormente ao casamento, Tranquilino teve a filha Josefina Augusta Torres, nascida em Recife/PE em 25/02/1881 e reconhecida em 14/11/1881. Faleceu em 04 de março de 1898 no Convento dos Humildes em Santo Amaro/BA onde se educara e lá está enterrada.

Tranquilino, na qualidade de Promotor e usando as prerrogativas da Lei, requereu nova certidão de nascimento do filho Mario Torres, tendo em vista que o funcionário do cartório da Vila de Santo Antonio da Barra (Condeúba), Adolpho José Ramos, incendiou toda a escrituração havida. Fez uma declaração de que no dia 28 de janeiro de 1884 na casa de Umbelina Emília dos Santos na vila de Santo Antonio da Barra, nasceu o filho do apresentante e de sua mulher Maria da Purificação França Torres, para que o filho não fosse prejudicado, solicitou novo registro através petição para esse fim.

Tranquilino Leovigildo Torres, dedicado pesquisador e estudioso da História, e   conhecimentos jurídicos, publicados na ‘Revista dos Tribunais’ e na ‘O Direito’ do RJ, teve a ideia de revitalizar o Instituto Providencial da Bahia, criado em 1855, que teve duração efêmera. Envidou esforços para a criação do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, instituição fundada em 1855 e restabelecida em 13 de maio de 1894, do qual foi considerado, com justiça, o fundador, além de ter sido o primeiro presidente daquela instituição que a exerceu por outras vezes. Em 1923, ergueram ali, em sua homenagem, um busto de bronze e afixaram seu retrato na parede da sala da presidência.

 O instituto Histórico e Geográfico da Bahia era a sua paixão predileta, o alvo dos seus esforços, desempenhando seu cargo com excessivo escrúpulo e zelo meticuloso.

Idealista e visionário teve pouco tempo para experimentar as alegrias da sua profícua semeadura. Seus dois últimos anos de vida foram voltados para o IGHB, apesar de dedicar-se, com empenho ao trabalho, à sua família e cuidar da educação dos seus filhos.

Tranquilino Leovigildo Torres faleceu em 22 de maio de 1896, com 37 anos de idade, em Salvador/BA, muito moço, porém de uma vida fecunda e de várias realizações. Dona Maria da Purificação Coutinho França Torres sobreviveu-lhe e contraiu segundas núpcias com o seu primo o Professor Dr. Gonçalo Moniz Sodré de Aragão, com quem teve os filhos:  Luiz, falecido ainda criança, e Alice Moniz Sodré de Aragão, nascida em 14/04/1903, que contraiu núpcias em 1934, com o laureado pintor Presciliano Silva.

Compareceram ao seu féretro além do Governador do Estado o presidente da Revista (IHGB) e vice-presidente do Instituto e orador da entidade, secretários, parentes e amigos.

O Dr. Eduardo Veloso salientou as qualidades do falecido e eminente cidadão e falou da perda irreparável para a sociedade que ele honrara e elevara. O Doutor Felinto Bastos, representando o Instituto Histórico fez a seguinte alocução: “Adeus benemérito e infatigável companheiro de sacrifício, a ti acompanham as dores e saudades dos teus amigos, dos teus filhos e dessa associação também benemérita que é obra especialmente tua, do teu patriotismo e da tua vontade altruísta e potente”.  Felinto Bastos consignou ainda: “Um caráter moldado à antiga, sem rebuços, sem hipocrisia, encarando os homens e as cousas tais quais eram, sem sacrificar a dignidade para auferir proventos. Aliando a uma inteligência fina ininterrompido estudo e não vulgar critério, conseguiu estar sempre entre os melhores estudantes, desde os tempos de colegial”.

Braz do Amaral disse: “Sabia criar e administrar, duas condições que raras vezes se juntam em um só indivíduo”. A revista do (IHGB) manifestou o seu pesar a toda a família do Dr. Tranquilino Leovigildo Torres.

Seus filhos foram cidadãos prestantes, honrados, conceituados e respeitáveis na sociedade baiana. Beneméritos, contribuíram para várias instituições locais com ajuda inclusive pecuniária. Dessa forma agiam os Irmãos Torres, como eram conhecidos.

Tranquilino Leovigildo Torres era um sonhador, fez da sua curta existência uma jornada de realizações, perseverante nos seus propósitos e dedicado a suas ações. Coube-lhe, pois, fundar uma instituição cultural do porte do IGHB, numa cidade sem espaços para os debates das ideias e das iniciativas do espírito. Escutou de muitos a descrença e de outros tantos experimentou a indiferença.

Dele Disse Sátiro Dias: “Moço vigoroso, e mais que isto, coração cheio de fé e de amor pelas cousas da Pátria; espírito de largo e forte orientação nas lucubrações da jurisprudência e no estudo da ciência e das letras; tinha aberto diante de si o horizonte que o futuro reserva aos homens que transitam por este mundo fazendo do trabalho um dever, do dever uma religião, e desta a suprema preocupação da consciência”.

Em homenagem a Tranquilino Torres, por iniciativa da Intendência Municipal de Condeúba, no dia 2 de julho de 1923, no salão nobre do Júri foi colocado pelo Conselho de Justiça local, o seu retrato no Fórum da sua cidade natal, por justo merecimento. A cidade de Piripá o homenageou, dando o seu nome a um logradouro municipal, por proposta do Prefeito Arlindo Alves Pereira.

Também foram inaugurados “post mortem”, seus retratos no Arquivo Público da Bahia, na Pinacoteca do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e na Associação dos Funcionários Públicos da Bahia onde a sala da biblioteca tem o seu nome (sessão de 08/08/1932). Por ato de 08/04/1937 o Diretor do Departamento da Instrução mandou denominar “Escola Tranquilino Leovigildo Torres”, o grupo Escolar de Condeúba. O seu busto, em bronze, foi inaugurado por ocasião das festas do cinquentenário do Instituto Geográfico e Histórica da Bahia, sendo orador o Dr. Celso M. Spínola. A “Revista” do IGHB lhe dedicou um número especial, Ano III – junho de 1896.

 Em 1924 o advogado e Secretário do Intendente João da Silva Torres, Sr. Nestor Evangelista de Carvalho, escreveu: “Doutor Tranquilino Torres foi um dos mais eminentes filhos de Condeúba, pelo seu raro talento pelos elevadíssimos cargos que dignamente ocupou na magistratura e a cuja memória curvemos com respeito”.

 O corpo do Conselheiro Tranquilino Leovigildo Torres encontra-se sepultado em mausoléu da família, no cemitério do Campo Santo em Salvador/BA.

Um de seus biógrafos escreveu: “Era um homem que sabia querer! Tinha duas qualidades um tanto raras no brasileiro: iniciativa e perseverança”.

Com tão pouca idade de vida, Tranquilino acumulou conhecimentos culturais diversos, jurídicos e históricos, fatos invejáveis da sua inteligência rara e produtiva. (Antonio Torres).

Destaque-se o que escreveu: Memórias Descritivas do Município de Condeúba; O Município de Vitória, em 1888, “De início, o trabalho fora escrito para figurar no Dicionário Geográfico e Histórico do Brasil, de Alfredo Moreira Pinto, porém foi antes publicado em páginas do jornal Diário da Bahia e, depois, na Revista Trimestral do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, dividido em duas partes, respectivamente no número 12, ano IV, paginas 157 a 174, [1897] e numero 13, ano V, páginas 529 a 545. Na década de 20, a obra foi publicada por partes no jornal A Notícia, de Vitória da Conquista, Bahia, e depois pela Universidade Estadual do Sudoeste”, com informações do emérito pesquisador Ruy H. A. Medeiros, publicada no livro História Local e Memória – limites e Validades, editora Librum, 2013. Em 08//01/1890, fez manifesto conclamando os cidadãos e jurisdicionados, mostrando as vantagens da República, regime que aspirava desde os tempos de acadêmico.

 Em 03/03/1895, discursou na abertura da sessão magna do primeiro aniversário do Instituto Geográfico e História da Bahia; Memória Histórica sobre o IGHB, fundado em 1855; Cartas sobre colonização nacional e estrangeira; Dicionário de nomes próprios, cognomes e apelidos; Memoria sobre os municípios de Santa Isabel do Paraguassú e Poções. Explicador de Aritmética; Estudo sobre as Correições; Questão dos índios e aproveitamento das tribos aborígenes; Esses escritos figuram no Dicionário de Intelectuais Baianos, de Afonso Costa.

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