Infectologistas detalham os sinais de cada doença e orientam buscar atendimento médico para fazer os exames e tratamento adequado
Por: Paloma Custódio/Brasil61
Febre, dores no corpo e indisposição. Esses são alguns dos sintomas mais comuns em doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, e que podem ser confundidos com os sinais de infecção da nova variante do coronavírus, a Ômicron.
O entregador Maciel Ferreira de São Carlos (SP) foi infectado pela dengue. Por desconhecer os sintomas da Covid-19, pensou que pudesse estar com a arbovirose. “Eu enchi de calombo, me deu desânimo, febre. Hoje eu sei que estava com dengue, porque logo depois eu tive Covid-19, e é diferente. Mas mesmo assim, na época, eu fiquei com medo de ser coronavírus. Quando cheguei no médico, ele descartou Covid-19 na hora, porque sabia que era dengue.”
“20% dos casos de dengue podem ocorrer com sintomas respiratórios. Então pode confundir bastante com Covid-19. A dengue começa com febre, dor do corpo, dor nas articulações, dor por trás dos olhos. Já a Ômicron, como hoje temos grande parcela da população vacinada, provavelmente terá sintomas gripais mais leves”, detalha a infectologista Ana Helena Germoglio.
A infectologista e professora da Universidade de Campinas, Raquel Stucchi, esclarece que os infectados pela Ômicron apresentam quadro clínico de Covid-19, “que nas pessoas vacinadas costuma ser mais leve, com febre baixa ou mesmo sem febre, dor no corpo, dor de garganta, tosse seca, obstrução ou coriza.”
“Em todo caso, o correto é fazer os exames para ter a correta detecção e não ser pego de surpresa”, recomenda a infectologista Ana Helena Germoglio.
Segundo o sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, Claudio Maierovitch, os primeiros dias são os mais difíceis para se ter um diagnóstico preciso, pois os sintomas característicos de cada doença só devem aparecer após três ou quatro dias. Ele detalha os sintomas da dengue.
“Dengue, em geral, começa com febre alta, dor de cabeça intensa, principalmente atrás dos olhos, dor no corpo e um cansaço, uma indisposição muito grande. Eventualmente pode ter manchas na pele, pode ter algumas dores articulares. Mas o mais importante em dengue é febre, dor de cabeça, dores pelo corpo e indisposição.”
Tanto para o tratamento da dengue, quanto para Covid-19, a infectologista Raquel Stucchi recomenda o uso de medicamentos para combater febre e demais sintomas.
“Nas duas doenças a gente faz uso de medicação comum para a febre. Na dengue é importante [fazer] uma hidratação oral muito vigorosa e ficar alerta para os sinais de alarme que são sinais de sangramento. Para a Covid-19, os sinais de alarme são principalmente a hipoxemia, que a gente controla através do oxímetro.”
Queda nos casos de dengue
Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, houve uma queda considerável do número total de casos prováveis de dengue entre 2020 e 2021, quando foram notificados 947.192 e 543.647 casos, respectivamente.
No entanto, alguns estados registraram alta no período, como Acre (7.457 em 2020 e 14.733 em 2021); Amazonas (5.956 em 2020 e 8.553 em 2021); Pará (3.529 em 2020 e 4.893 em 2021); Amapá (60 em 2020 e 271 em 2021); Tocantins (1.897 em 2020 e 9.983 em 2021); Piauí (2.212 em 2020 e 3.553 em 2021); Ceará (24.039 em 2020 e 36.062 em 2021); Paraíba (6.676 em 2020 e 16.096 em 2021); Pernambuco (20.013 em 2020 e 39.143 em 2021); Alagoas (2.322 em 2020 e 7.361 em 2021); Espírito Santo (7.294 em 2020 e 8.263 em 2021); Santa Catarina (11.804 em 2020 e 19.988 em 2020) e Rio Grande do Sul (3.991 em 2020 e 10.498 em 2021).
Casos (n) 2020 | Casos (n) 2021 | % Variação | Incidência (casos/100 mil hab.) 2020 | Incidência (casos/100 mil hab.) 2021 | |
Norte | 23311 | 40780 | 74,94 | 128,21 | 215,69 |
Rondônia | 3924 | 2220 | -43,43 | 223,26 | 122,30 |
Acre | 7457 | 14733 | 97,57 | 857,85 | 1624,59 |
Amazonas | 5956 | 8553 | 43,60 | 145,96 | 200,30 |
Roraima | 488 | 127 | -73,98 | 84,64 | 19,46 |
Pará | 3529 | 4893 | 38,65 | 41,45 | 55,75 |
Amapá | 60 | 271 | 351,67 | 7,23 | 30,88 |
Tocantins | 1897 | 9983 | 426,25 | 121,98 | 621,08 |
Nordeste | 149442 | 133832 | -10,45 | 263,28 | 232,07 |
Maranhão | 2561 | 1298 | -49,32 | 36,40 | 18,15 |
Piauí | 2212 | 3553 | 60,62 | 67,76 | 108,02 |
Ceará | 24039 | 36062 | 50,01 | 264,87 | 390,26 |
Rio Grande do Norte | 6873 | 4301 | -37,42 | 197,56 | 120,78 |
Paraíba | 6676 | 16096 | 141,10 | 167,05 | 396,46 |
Pernambuco | 20013 | 39143 | 95,59 | 210,75 | 404,59 |
Alagoas | 2322 | 7361 | 217,01 | 69,88 | 218,73 |
Sergipe | 1844 | 1285 | -30,31 | 80,94 | 54,95 |
Bahia | 82902 | 24733 | -70,17 | 559,67 | 165,05 |
Sudeste | 298899 | 194959 | -34,77 | 340,77 | 217,51 |
Minas Gerais | 81798 | 23396 | -71,40 | 388,76 | 109,27 |
Espírito Santo | 7294 | 8263 | 13,28 | 183,62 | 201,12 |
Rio de Janeiro | 4431 | 2880 | -35,00 | 25,82 | 16,49 |
São Paulo | 205376 | 160420 | -21,89 | 450,99 | 343,89 |
Sul | 278882 | 67238 | -75,89 | 937,29 | 221,16 |
Paraná | 263087 | 36752 | -86,03 | 2318,16 | 316,90 |
Santa Catarina | 11804 | 19988 | 69,33 | 166,83 | 272,37 |
Rio Grande do Sul | 3991 | 10498 | 163,04 | 35,23 | 91,55 |
Centro-Oeste | 196658 | 106838 | -45,67 | 1222,55 | 639,47 |
Mato Grosso do Sul | 52009 | 11209 | -78,45 | 1892,60 | 394,80 |
Mato Grosso | 34817 | 22149 | -36,38 | 1011,53 | 620,90 |
Goiás | 62732 | 57715 | -8,00 | 906,38 | 800,86 |
Distrito Federal | 47100 | 15765 | -66,53 | 1583,35 | 509,48 |
Brasil | 947192 | 543647 | -42,60 | 454,30 | 254,85 |
(Boletim Epidemiológico SVS – Semanas epidemiológicas 1 a 52)
O sanitarista da Fiocruz, Claudio Maierovitch, destaca que 2020 foi um ano de muitos casos e, por isso, não se deve relaxar com a aparente queda de contágios em 2021.
“Mesmo não tendo havido aumento de um ano para o outro, uma vez que o ano anterior foi de números altos, essa não é boa comparação. Há motivos para preocupação sim, porque as medidas de controle não têm sido adotadas. Boa parte da campanha e da atividade de combate aos vetores foi interrompida ou foi muito diminuída desde que começou a pandemia [da Covid-19]”, alerta.
Casos de Ômicron no Brasil
Em nota, o Ministério da Saúde (MS) informa que, até esta quarta-feira (05), foram registrados 170 casos confirmados da Ômicron no Brasil, com 518 sob investigação.
Confirmados:
- SP: 27
- DF: 1
- RS: 4
- GO: 38
- MG: 16
- RJ: 3
- SC: 38
- ES: 1
- CE: 40
- RN: 2
Sob investigação:
- DF: 25
- RS: 47
- MG: 114
- RJ: 309
- SC: 23
“Cabe ressaltar que a pasta continua em constante monitoramento do quadro epidemiológico da Covid-19. Logo nos primeiros indícios sobre a chegada da Ômicron ao país, a pasta montou uma sala de situação para monitorar o cenário e avaliar os riscos para a adoção das medidas necessárias. A pasta continua trabalhando para aumentar a cobertura vacinal, aplicar a dose de reforço na população, reforçar a vigilância laboratorial e minimizar a disseminação das variantes”, afirma o MS.
Prevenção às doenças
O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, recomenda evitar qualquer tipo de água parada em pneus, vasos de plantas e outros recipientes que permitam a reprodução do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
“É importante lembrar de tapar os tonéis d’água, manter as calhas limpas, deixar garrafas e recipientes com a boca para baixo, limpar semanalmente e encher os pratos de vaso de plantas com areia, manter lixeiras bem tampadas, ralos limpos, com aplicação de telas, além de manter lonas para material de construção e piscinas sempre esticadas para não acumular água.”
Já a Ômicron apresenta uma maior transmissibilidade que as demais variantes do coronavírus. Segundo o infectologista do Hospital das Forças Armadas de Brasília, Hemerson Luz, mesmo pessoas assintomáticas podem passar o vírus umas para as outras.
“Por isso, todas as medidas que evitem aglomerações e quebrar o distanciamento de segurança – além de utilizar máscara em locais fechados e higienizar as mãos constantemente – fazem parte da estratégia para enfrentar essa ameaça. A vacina é de suma importância e deve estar em dia”, orienta.
Fonte: Brasil 61