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É hora

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Dessa janela em forma de balcão, eu vejo o mundo.

Aqui, entre a entrega de um cachorro quente e outro, vi casais se formarem, se desfazerem,
irem e voltarem.

Vi meninas se transformarem em mulheres e vir aqui com suas menininhas.

Vi moleques irresponsáveis virarem homens de valor.

Magrinhas se transformarem em gordinhas e bolinhas virarem pontos de exclamação.

Aqui deste lugar, vi o mundo passar e se transformar.

E eu?

Enquanto com os pés fincados  aqui estava, eu me transformei.

Aprendi e ensinei.

Sonhei e aconselhei.

Chorei com o fracasso dos meus clientes em desenvolvimento, sorri com suas vitórias.

Servi de conselheira matrimonial e fui mãe que acalentou o choro sofrido de uma desilusão
amorosa.

Com alguns, aprendi o que é ser paciente e nunca desistir.

Troquei receitas, conheci gostos e desenvolvi meus talentos para agradar, para cultivar o gostar.

E, agora, depois de mais de duas décadas, chegou a hora de me movimentar.

Chegou a hora de fechar a janela vagarosamente e ir contemplar novos horizontes.

Não sei se alguém vai querer vir ocupar o meu lugar.

Talvez nunca tenha outro alguém para preparar o lanche da noite e
esperar que eles venham aqui, só buscar.

Não sei o que deles será.

A única coisa que sei é que é hora de partir.

Tirar meus pés de onde estiveram nos últimos 20 anos e percorrer novos caminhos.

Onde o cheiro não seja de chapa quente e gordura, onde o som não seja de gente faminta e
satisfeita.
 

É hora de fechar a janelinha e partir. Espero continuar sendo feliz, fazendo feliz, mas, agora, com outro perfume.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744