Por Natália Silva/Gisele Costa
Cresce em uma velocidade espantosa, em todo o país, na região de abrangência da circulação do JS notadamente, um problema aparentemente sem solução: o elevado e preocupante número de acidentes envolvendo motociclistas. Respaldado pelo expressivo aumento da frota, é flagrante a fragilidade das políticas públicas direcionadas para a Educação, Engenharia e fiscalização no trânsito das cidades, o que contribuí para que o número de acidentes e vítimas venham aumentando consideravelmente. E, por consequência, o aumento de ocorrências envolvendo motociclistas tem contribuído para tornar ainda mais ineficiente o atendimento nos Hospitais Públicos, que estão sendo obrigados a deixar de atender pacientes com diversas patologias para se concentrar nas vítimas de acidentes de trânsito que tem como protagonistas motociclistas. E o sentimento que existe, entre a população e os profissionais que atuam nas Unidades Públicas de Saúde é de impotência diante da tragédia diária e da omissão das autoridades na busca por uma solução para o problema.
Um problema que não é novo e não se restringe ao Brasil, a Bahia ou aos municípios da abrangência da circulação do JS. É mundial. Tanto que a Organização das Nações Unidas instituiu, em 2011, a Década para a Segurança no Trânsito [2011/2020]. Em 2013, no Relatório Sobre a Situação Mundial da Insegurança no Trânsito, a mais recente publicação sobre o assunto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) – agência vinculada à Organização das Nações Unidas especializada em ações de Saúde – já advertia que as lesões causadas pelo trânsito é a oitava causa mundial de morte e a primeira entre os jovens na faixa etária de 15 a 29 anos.
Á reportagem do JS, o titular da Superintendência Municipal de Trânsito e Transporte de Brumado, André Luís Dias Cardoso, disse que o órgão tem feito um trabalho de identificação dos locais onde os acidentes envolvendo motocicletas são mais frequentes para elaboração e execução de projetos viários visando dar mais segurança aos trechos. Outra medida que vem sendo adotada pela SMTT, segundo destacou André Cardoso, é a de conscientização da sociedade. “Estamos buscando fazer palestras e mais palestras nas Escolas municipais, estaduais e até em Faculdades, nas empresas, como já fizemos na Ambev, EPCL, Coelba, Intercement, entre outras. Faremos agora também mais uma blitz educativa na cidade, mostrando aos condutores [motociclistas] os tipos de infrações que mais estão sendo notificadas; a notificação que perde a Carteira de Habilitação, que é pilotar sem o uso do capacete. Sabemos que é difícil, a Policia Militar faz blitz para coibir condutores que não tem habilitação, ou está [com a CNH] vencida. Apreende várias motos, mas ainda tem os que continuam rodando sem a devida habilitação”, destacou.
Otimista, o superintendente da SMTT diz acreditar que será possível, embora não tenha arriscado a precisar o lapso temporal, alterar os hoje preocupantes indicadores de acidentes envolvendo motocicletas. “Acredito que um dia conseguiremos mudar esse número de acidentes, mas isso só vai acontecer com a Educação. Temos que dar continuidade nas Escolas com as campanhas sobre trânsito, mostrando suas diversas consequências, só mudaremos dessa forma, não acredito em outra, Educação é tudo”, ponderou.
Já o coordenador de Educação para o Trânsito da Superintendência Municipal de Trânsito e Transporte de Brumado, Jansen Ricardo Rocha da Silva, aponta diversos fatores que influenciam nos dados negativos de acidentalidade. Segundo Jansen Ricardo, além do fator subjetivo, do ímpeto dos motociclistas, a maioria deles sem nenhum preparo, muitos até sem habilitação, de dirigir ofensivamente, há também uma falha na fiscalização. O que se observa nas ruas, segundo o coordenador de Educação para o Trânsito da SMTT de Brumado, é que os motociclistas estão sempre correndo atrás do tempo, principalmente os que hoje atuam na atividade de mototaxista.
“A SMTT está se estruturando e buscando capacitar os condutores de veículos (ônibus, automóveis, vans e motocicletas) envolvidos no transporte público, inclusive já preparando os processos de regulamentação do transporte público de passageiros e dos serviços de transporte de passageiros por motocicletas (mototaxi) e a partir de então o superintendente André Cardoso vai firmar parceiras com a Polícia Rodoviária e a 34ª Companhia Independente de Polícia Militar para intensificar as blitzes e tentar influir na redução dos índices de acidentes de trânsito, principalmente envolvendo motociclistas”, apontou Jansen Ricardo.
Já a superintendente da Superintendência Municipal de Trânsito da Prefeitura Municipal de Guanambi, Eleuza da Silva Nogueira, entende que a reversão dos preocupantes indicadores de acidentes envolvendo motociclistas exige que se conheça os fatores que contribuem para esses números. E aponta, como os principais fatores, os condutores sem habilitação e menores na condução de motocicletas. “À vista disso”, aponta, “mesmo que se invista em sinalização, estes recursos não surtirão os efeitos desejados, uma vez que esses condutores não respeitam, seja por desconhecer ou mesmo por imprudência”.
A superintendente da SMT ressalta que o órgão vem combatendo esses acidentes com fiscalização, retirando motocicletas irregulares de circulação, autuando os infratores e promovendo campanhas educativas tentando conscientizar o perigo de uma motocicleta nas mãos de pessoas erradas. “Outro fator que leva a esses acidentes é a alta velocidade, as motocicletas são veículos leves que possibilitam uma rápida retomada da velocidade em um curto espaço, sem falar que devido ao seu tamanho possibilita maior agilidade no trânsito, valendo-se disto, muitos condutores não respeitam os limites de velocidade das vias, não dando tempo para enxergar nos cruzamentos, as placas de parada obrigatória, o que causa boa parte desses acidentes”, observa.
De acordo com Eleuza Nogueira, “[A SMT] no intuito de evitar esse tipo de acidente, procura trabalhar nesses locais de maior incidência, com sinalização vertical (placas) e horizontal (pintura de solo), fiscalização e como último recurso implantar lombadas ou faixas elevadas”. Ressaltou ainda entender que o trabalho de Educação e sinalização por si só não surtirão efeito rápido se a população não abraçar a causa, “procurando respeitar a sinalização, apoiar as fiscalizações e incentivar em casa o respeito à vida no trânsito!”.
A coordenadora do Setor de Habilitação da 18ª Circunscrição Regional de Transito (18ªCiretran), de Brumado, Meirielle Thaiara da Silva Ferreira Rocha, embora ressaltando que o órgão não disponibiliza dados referentes ao número de ocorrências envolvendo motociclistas nos municípios sob sua jurisdição e sugerindo que as informações devessem ser solicitadas à Polícia Militar ou à Secretaria Municipal de Saúde, apontou existir um crescimento expressivo do número de motocicletas frente ao de automóveis, justificado “não só como um instrumento de fácil acesso como também pela efetividade nas conduções”.
A coordenadora da 18ª Ciretran pontuou, no entanto, que a contrapartida à ampliação da frota de motocicletas é “um aumento expressivo das taxas de acidentes e, consequentemente, da mortalidade em todas as regiões do país”. Para ela, a grande quantidade de condutores inabilitados, “que desconhecem as normas e legislação de trânsito, assim como a fadiga do dia a dia e elevação do fluxo de veículos nas áreas urbanas”, explica as causas dos elevados indicadores de acidentes envolvendo motocicletas”.
Meirielle Thaiara prossegue afirmando que “grande parte dos acidentes de trânsito são provocados por falhas humanas como sua saúde física, maturidade de discernimento, análise de informações, tomada de decisões e principalmente a necessidade de uma direção defensiva que priorize a segurança e a vida. Por isso, destacamos a importância do condutor estar constantemente instruído e preparado para conduzir da melhor forma possível, sabendo como evitar e agir diante de fatores de riscos que aumentam a probabilidade de acidentes”, ressaltando ainda a necessidade “de uma maior fiscalização dos órgãos de trânsito responsáveis no que diz respeito à legalização de veículos e condutores” como ferramenta para minimizar os atuais índices de acidentes de trânsito envolvendo motociclistas. “A campanha do Maio Amarelo já mostra um avanço frente ao problema com ações de sensibilização e conscientização de diversas entidades para um trânsito mais seguro”, pontua.
Concluindo, a coordenadora da 18ª Ciretran destaca que preocupação do órgão em firmar parcerias e compromissos “com os Centros de Formação de Condutores e Clínicas Médicas credenciadas ao Detran [Departamento Estadual de Trânsito], instituições essas responsáveis pela formação emocional e comportamental dos condutores, no sentido de um comprometimento maior com o trânsito mais seguro para a sociedade como um todo”.
Contatada pela reportagem do JS, a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, através da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, por meio da Secretaria Municipal de Comunicação Social, informou que a equipe de Educação para o Trânsito vem desenvolvendo ações educativas, com orientação nas vias, palestras em diversas empresas onde os colaboradores utilizam as motocicletas como principal meio de transporte. A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana acrescentou, para finalizar, que ações de fiscalização tem sido constantes em parceria com a Polícia Militar, objetivando tornar o trânsito de Vitória da Conquista “mais seguro para todos os atores desse cenário: motociclistas, ciclistas, pedestres e condutores”.
A Secretaria de Estado de Infraestrutura de Transporte, Energia e Comunicação da Bahia (Seinfra), através de sua Assessoria de Comunicação Social, por e-mail, informou que buscando viabilizar e contribuir para a melhoria na segurança viária promoveu, em 2018, a entrega de novas viaturas e etilômetros para o Batalhão de Polícia Militar Rodoviária Estadual (BPRv), possibilitando, a partir de então, que as fiscalizações nas estradas fossem intensificadas. “Além disso”, prossegue a nota, “a Seinfra, também promove ações com foco na promoção de um trânsito mais seguro, como exemplo, realiza workshops, cursos para policiais rodoviários e campanhas educativas como o Programa de Educação para o Trânsito”.
Especialistas e estudiosos ouvidos pela reportagem do JS foram unânimes em apontar que o crescimento da frota de motocicletas decorrentes principalmente do estímulo dado pelo Governo Federal e pelas empresas concessionárias para a aquisição de motocicletas, contribuiu para o aumento do número de ocorrências no trânsito, considerando, principalmente, que grande parte dos condutores não estaria preparada para conduzir os veículos defensivamente. Para os especialistas, alguns fatores – lançamento de modelos populares, facilidades para aquisição e parcelamento das motocicletas e para habilitação – não apenas tem servido para democratizar o acesso ao meio de transporte, como para aumentar de forma significativa o número de ocorrências no trânsito, muitas delas com vítimas fatais ou que ficam com sequelas graves.
Dados disponibilizados pelo Hospital Geral de Vitória da Conquista apontam que as motocicletas estiveram presentes em quase 65% das ocorrências de acidentes de trânsito registradas na Unidade em 2018. Dos 1.066 pacientes admitidos no Hospital, 691 foram vítimas de acidentes com motocicletas. Este ano, até 31 de março, a estatística se manteve. Dos 272 pacientes que deram entrada na Unidade vítimas de acidentes de trânsito, 177 estiveram envolvidos em ocorrências com motocicletas.
O Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu 192) da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista confirmam a gravidade do problema. Em 2018, as Unidades do Samu atenderam 1.001 acidentes envolvendo motocicletas, enquanto com veículos automotores foram 2.388 ocorrências. Nos primeiros quatro meses deste ano o Samu atendeu a 556 ocorrências envolvendo motocicletas.
Esses dados, segundo apurou a reportagem do JS, mostram que os acidentes envolvendo motocicletas são mais frequentes que os imaginados e respondem pela grande maioria dos internamentos causados por acidentes de trânsito, comprometendo ainda mais o atendimento e a oferta de vagas nos Hospitais Públicos, uma vez que as vítimas necessitam de procedimentos que vão desde os simples aos mais graves e, como destacou uma auxiliar de enfermagem do Hospital Municipal Professor José Maria de Magalhães Neto, de Brumado, que pediu para não ser identificada, “como geralmente são casos que exigem intervenções cirúrgicas e internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), precisam ser atendidos imediatamente, comprometendo o atendimento aos pacientes que às vezes estão aguardando há um bom tempo”, pontuou.
Invariavelmente, acidentes com motocicletas incapacitam jovens no início da vida produtiva, diz médico
Por Gisele Costa
Acidentes com motociclistas sobrecarregam os Sistemas de Saúde Pública e Previdenciário e contribuem para que um expressivo número de jovens fiquem incapacitados no início da vida laboral. A avaliação foi feita pelo médico Ortopedista, Traumatologista e Cirurgião de Joelho do Hospital Samur de Vitória da Conquista, Leonardo Barros Mascarenhas.
Para o médico, que também é professor de Medicina da Universidade Federal da Bahia, os acidentes envolvendo motociclistas devem ser vistos pelas autoridades como um problema de Saúde Pública, que tem comprometido a capacidade – já insuficiente – de atendimento nos Hospitais Públicos de todo o país, além de ter impacto negativo nas combalidas contas do Sistema Previdenciário, uma vez que um expressivo número dos envolvidos acabam incapacitados para as atividades laborais.
Na última semana o médico Leonardo Barros Mascarenhas abriu espaço em sua agenda para responder a questionamentos feitos pela reportagem do JS.
JS – Como o senhor encara o problema do grande e crescente número de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas?
DR. LEONARDO BARROS – Com preocupação. Trata-se de um verdadeiro problema de Saúde Pública. Acompanhamos diariamente o sofrimento de dezenas de vítimas de acidentes com motocicletas com os mais diversos tipos de lesões, sendo as fraturas expostas da tíbia (osso da canela), a mais comum.
JS – Quais as consequências, na opinião do senhor, desse crescente número de acidentes com motociclistas para o Sistema Público de Saúde?
DR. LEONARDO BARROS – No âmbito mais simplista, podemos pensar na vaga do Hospital que ele ocupa e nos custos do tratamento, mas é muito mais complexo que isso. A grande quantidade de vítimas dos acidentes com motociclista causa superlotação em todos os níveis de atendimento da rede de Saúde Pública e também da Seguridade Social. No Nível Primário (Postos de Saúde), estão os paciente que tiveram acidentes no passado, mas frequentam o Posto para atendimento pós-operatório recente ou para auxílio com as sequelas que ficaram, como ferimentos crônicos, dor crônica ou deformidades. No Nível Secundário, estão os pacientes com lesões de menor complexidade, e no Nível Terciário estão os grandes Hospitais superlotados de casos de Alta Complexidade com seus corredores abarrotados de pacientes por todo o país.
JS – E para os envolvidos (motociclistas) nos acidentes?
DR. LEONARDO BARROS – Os acidentados são na maioria homens jovens que sofrem lesões gravíssimas. Em uma parcela razoável das vezes, perdem parte de algum membro ou tem lesões graves que deixam sequelas permanentes. Isso contribui com a sobrecarga também do sistema previdenciário que lida com pessoas que se tornam incapazes logo no início da sua vida produtiva.
70% das indenizações do DPVAT em 2018 foram para acidentes de trânsito com invalidez permanente
A maioria dos acidentes envolvem motocicletas e homens jovens, com
idade entre 18 e 34 anos
Por Paula Batista/Lide Multimidia
O mais recente Relatório do Seguro DPVAT, produzido pela Seguradora Líder, destaca um panorama atualizado das ocorrências de trânsito no país.
Conforme a publicação, somente em 2018 foram mais de 320 mil indenizações, que cobriram morte, invalidez permanente e reembolso de despesas com assistências médicas e suplementares.
Do total de indenizações pagas no ano passado, a seguradora destaca que 70% se destinaram para acidentes de trânsito com vítimas que adquiriram algum tipo de invalidez permanente, chegando a registros de 228 mil ocorrências. Em relação às motocicletas, que representam 27% da frota nacional, elas foram responsáveis por cerca de 75% das indenizações pagas em 2018, acumulando mais de 246 mil pagamentos.
Uma das novidades trazidas pelo estudo é o ranking com Estados e Capitais com mais indenizações pagas, considerando um cruzamento proporcional à frota, no ano da análise. Rondônia, Roraima, Tocantins, Piauí e Maranhão encabeçam a lista de pagamentos de indenização em 2018. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal compõem os estados com menor número de indenizações, com relação à frota.
Mas é a cidade de São Paulo que lidera o ranking de pagamentos por morte e invalidez no trânsito entre as capitais, respondendo a mais de 2% em cada uma das modalidades.
Maioria dos acidentes envolvem motocicletas
O mapa das indenizações ainda mostra que os acidentes envolvendo motocicletas são bastante expressivos, representando 75% das ocorrências. A maior incidência desses acidentes ocorreu no período do anoitecer, entre 17h e 19:59h (23% das indenizações), seguido pela tarde (21%).
Cerca de 88% das indenizações por morte em acidentes com motocicletas foram para vítimas do sexo masculino, bem como 79% das indenizações com vítimas com sequelas permanentes envolvem os homens, que, em sua maioria, são jovens em idade economicamente ativa, entre 18 e 34 anos, concentrando 49% dos acidentes fatais e 53% dos com sequela permanente.
Conhecer e respeitar as Leis de trânsito salva vidas
A realidade destacada no relatório do DPVAT mostra que ainda há muito o que fazer para termos um trânsito mais seguro. O primeiro passo é conhecer e respeitar as leis de trânsito, entre elas: utilizar os equipamentos de segurança dos veículos, como cinto e capacete, respeitar a sinalização, não realizar conversões proibidas, e obedecer os limites de velocidade. “Menos de 5% dos motoristas são infratores contumazes. A imensa maioria respeita a vida, as leis e os demais usuários da via, e entende que a fiscalização eletrônica é um importante instrumento de segurança e cidadania”, explica Luiz Gustavo Campos, especialista em trânsito e diretor da Perkons. “Lamentavelmente, a minoria que não respeita causa um número cada vez maior de sinistros e óbitos no trânsito”, comenta.
Quem busca conhecimento e informação para um trânsito mais seguro pode contar, ainda, com uma excelente ferramenta, o CTB Digital, que disponibiliza de forma gratuita todo o conteúdo do Código de Trânsito Brasileiro comentado por especialistas. Nele é possível realizar pesquisas e, inclusive, tirar dúvidas.