redacao@jornaldosudoeste.com

“Em que cidade você se encaixa?”

Publicado em

WhatsApp
Facebook
Copiar Link
URL copiada com sucesso!

Por Ascom Uesb

Ao traçar uma linha divisória em sua própria cidade, em que espaço econômico e social você está inserido? A questão trazida pela banda Baiana System nos versos da música “Duas Cidades” faz alusão à divisão de Salvador em cidade alta e cidade baixa, mas é possível perceber a segmentação mesmo nos municípios do interior.

É com a proposta de analisar essa realidade na cidade de Caetité, que o mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Roberval Santos, está desenvolvendo a pesquisa “Cidades e muros: discurso da insegurança e do medo à produção de espaços exclusivos”.

De acordo com ele, o estudo surgiu de inquietações e observações do município, que impõe limites socioespaciais à população, revelando características já conhecidas do processo de produção capitalista do espaço urbano, especialmente, em cidades médias. Nesse sentido, ele destaca o processo de verticalização e a concentração da riqueza em lugares específicos das cidades.

No caso de Caetité, foi possível observar a dicotomia entre as regiões norte e sul do município. Enquanto na região norte (bairros Ovídio Teixeira, Prisco Viana e Nossa Senhora da Paz), as casas apresentam acabamentos pobres e as ruas são esburacadas, sem pavimentação, esgotamento e saneamento, na região sul, o cenário é diferente. São espaços marcados por projetos arquitetônicos sofisticados e onde se percebe a utilização de equipamentos tecnológicos ligados à segurança e proteção.

Impacto social da divisão espacial –  Essas profundas diferenças espaciais expressam fenômenos do processo de segregação social. “A maior parte da população que mora no setor norte exerce trabalho informal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010”, comenta o mestrando. Já a região sul é predominantemente habitada por uma população com altos rendimentos.

Segundo o pesquisador, a principal estratégia utilizada pelos produtores dos “espaços exclusivos”, e presente no discurso dos próprios moradores, são as condições de segurança e tranquilidade. No entanto, “a pesquisa demonstrou que os índices de violência urbana utilizados como pretexto para a insegurança em Caetité são baixíssimos”.

O mestrando pondera ainda outra forma de interpretação: “a difusão do medo, do caos e da desordem serviu sempre para deflagrar estratégias de disciplinamento e controle de massas empobrecidas”. Para ele, é possível observar que “o discurso da insegurança e do medo não ficam presos no imaginário dos sujeitos, eles se materializam em formas e em conteúdos ligados, principalmente, à produção social do espaço”.

Alcance da pesquisa – Para o orientador da pesquisa, professor Mário Rubem, a iniciativa contribui para a compreensão da dinâmica capitalista. Ele explica que esta, ao se apropriar dos discursos de qualidade de vida, associando a eles a ideia de segurança ou violência, contribui para a segregação e traz consequências como a especulação imobiliária.

“Mesmo considerando que o estudo é aplicado a uma realidade urbana do interior da Bahia, pode-se dizer que os processos de produção do espaço urbano dentro do capitalismo tem uma atuação mais homogênea, que pode ser vista como algo a ser aplicado a qualquer realidade”, conclui.

Deixe um comentário

Jornal Digital
Jornal Digital Jornal Digital – Edição 746