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Encantos do falar e maravilhas do calar

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Admiro quem consegue resolver seus problemas em silêncio.

Aquele que, apesar do turbilhão de emoções, possíveis soluções, e dúvidas, consegue permanecer quieto consigo.

E não estou falando aqui de guardar tudo em segredo.

Não é isso.

Não é só isso.

Ou talvez, quem sabe, não seria isso, mas poderia também sê-lo.

Refiro-me aqui àquela pessoa que, tendo um problema/desafio, consegue ficar parada, quieta, observando o ar e achar na própria introspecção a solução para a tormenta.

Você conhece alguém assim?

Ou, quem sabe, você pode se apresentar para mim, caso seja assim?

Eu já disse aqui, em algum momento que não sei qual foi, que minha admiração se fundamenta geralmente naquilo que eu não consigo fazer.

Isso é justificativa suficiente para que eu admire quem fica quieto e consegue encontrar a solução a partir disso.

Posso justificar: tudo meu é resolvido com muito barulho.

Quando aparece algo para ser feito ou mesmo resolvido, eu preciso falar para elaborar.

As coisas só começam a acontecer de fato, só se desenrolam se eu falar, falar e falar.

Aí está a justificativa para tantas horas de conversa solitária.

É isso mesmo que você leu: quando não há com quem conversar eu discuto a situação sozinha, com direito a réplica e tudo o mais.

Tudo em alto e bom som, xingamentos, gestos acalorados e tudo.

Depois de muito ouvir as diversas opiniões que tenho sobre o assunto, eu e eu mesma chegamos a um acordo e à decisão.

Aí, quando escuto sobre alguém que faz exatamente o contrário, fico encantada.

Li uma vez de um engenheiro que passou semanas em frente ao projeto que deveria desenvolver.

Ele chegava ao local de trabalho, debruçava-se em frente ao projeto e passava o dia olhando para ele.

Dava voltas na mesa para ver aquilo de todos os lados, por todos os ângulos.

Levantava-se, sentava-se.

Ao final do expediente, ia embora.

Sem falar nada, sem anotar nada.

Ele simplesmente olhava e, ao final do dia, se retirava.

Faço ideia, vagamente, do turbilhão que passava em sua cabeça enquanto ficava ali parado.

Ele estava parado por fora, por dentro, a atividade era intensa.

Tanto isso é verdade que, num dia, ele chegou, nem olhou para o projeto, e, simplesmente, de uma só vez, colocou no papel de maneira detalhada tudo que deveria ser feito.

Ele construiu tudo quietinho, em silêncio.

Talvez eu aprenda que o silêncio, o meu silêncio, é um aliado.

Talvez eu aceite e compreenda que o meu barulho, discussão interna que extrapola os limites de mim, é sim a melhor de todas as maneiras de se viver.

E que a minha pessoa é mesmo a melhor companhia para discutir qualquer assunto e pauta comigo.

Afinal, tanto o calar como o falar tem sim os seus encantos.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744