O aprendizado contextualizado e integrado é uma das novidades trazidas pelo novo ensino médio, que começou a ser implementado pelo SESI e SENAI em cinco estados no ano passado
Por Paulo Henrique Gomes
A Bahia foi um dos cinco estados escolhidos pelos Departamentos Nacionais do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para fazer parte do projeto-piloto de implantação do novo modelo curricular do ensino médio em 2018.
Sessenta e três alunos, de duas turmas, cursaram o primeiro ano do ensino médio, juntamente com o curso técnico de eletrotécnica na escola SESI/SENAI José Carvalho, em Feira de Santana, – utilizando a nova metodologia. É o que explica a Gerente de Educação e Cultura do SESI da Bahia, Cléssia Lobo. “Começamos o piloto em 2018, com o primeiro ano do novo ensino médio, já no itinerário formativo do ensino profissional, com o curso técnico de eletrotécnica. E nós estamos, esse ano, com a turma no segundo ano. Cem por cento de efetividade dos alunos, no sentido de que nenhum desistiu do projeto. Estamos com a rematrícula acontecendo e nós seguimos com os nossos alunos das duas turmas. São 63 alunos, em 2019, agora no segundo ano”, afirma.
O modelo oferece um currículo integrado por áreas de conhecimento e não mais por disciplinas, e inclui formação técnica que permite aos estudantes iniciarem mais cedo a vida profissional. Os alunos podem escolher uma formação técnica, dentro da carga horária do ensino médio regular. Caso obtenha sucesso, ao final dos três anos, o estudante terá o diploma do ensino médio e o certificado do ensino técnico. Segundo Cléssia Lobo, a previsão é que o método de ensino do novo ensino médio seja expandido para Salvador e outra cidade do interior baiano. “Em 2019, nós continuamos nessa unidade, com essas duas turmas, e a expansão ocorrerá em 2020, quando além do ensino profissional, nós vamos querer mais dois itinerários para esses jovens, numa perspectiva de trazer para Salvador e para outra cidade do interior onde nós temos escola. Nós vamos oferecer itinerário do ensino profissional, da matemática e das ciências da natureza”, disse.
O aprendizado contextualizado e integrado é uma das novidades trazidas pelo novo ensino médio, que começou a ser implementado pelo SESI e pelo SENAI em 2018, em cinco estados – Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás e Espírito Santo – com 226 alunos. O estudante Douglas Oliveira, aluno do primeiro ano do ensino médio da escola SESI/SENAI José Carvalho, em Feira de Santana, que utilizou o modelo de ensino do novo ensino médio, destaca a diferença entre o antigo e o novo método. “A diferença é assim, bastante notável e bastante extrema. É de um universo para outro, na verdade. Porque, primeiro que agora a gente tem mais liberdade e autonomia, tanto para estudar, quanto para poder procurar mais, pesquisar. Você tem mais essa motivação de procurar estudar”, defende.
A nova norma prevê que os alunos do ensino médio terão 1.800 horas de formação geral básica, que será orientada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e até 1.200 horas de itinerários formativos, como aprofundamento de estudos.
Ao todo, são três mil horas para todo o ensino médio, que começa com maior ênfase nos conteúdos gerais e, gradualmente, aumenta o número de horas-aula para a formação técnica e profissional. No primeiro ano, são 800 horas para conteúdos gerais e 200 horas para aulas sobre iniciação ao mundo do trabalho. No segundo ano, são 600 horas para conteúdos gerais e 400 horas para formação técnica e profissional. No terceiro ano, isso se inverte: são 400 horas para formação geral e 600 horas para a habilitação técnica.
Cada município terá de oferecer pelo menos dois dos cinco itinerários previstos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica profissional.
Segundo a pedagoga e especialista em gestão escolar Juliana Diniz, o novo ensino médio é positivo, mas não pode esvaziar o papel da escola, que, por essência, precisa dar conta da formação do sujeito em todas as suas funções: integral, ético, justo e capaz de transformar o mundo no qual atua. “Nos parece que essa proposta traz um quê de modernidade, possibilitando que cada um dos alunos escolha determinados interesses e com isso tenha chance de melhorar a qualidade daquilo que se constrói, processo de escolha, o empoderamento desse aluno, o considerando pessoa de potência. Olhando ainda para uma concepção, essa ideia de trabalhar o ensino médio por percursos formativos, tende a ser uma boa experiência.”
Para 2019, o SESI e o SENAI programam uma expansão do modelo em suas unidades. Novos estados serão atendidos e novas habilitações serão ofertadas. Além de Eletrotécnica, os estudantes poderão optar pelas áreas de Matemática, Ciências da Natureza, Técnico em Mecânica ou Técnico em Rede de Computadores.
O ministro da Educação na época, Rossieli Soares homologou, no fim de novembro de 2018, as Diretrizes Curriculares Nacionais do novo ensino médio. A proposta foi relatada pelo diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, que é integrante do Conselho Nacional de Educação. Segundo ele, nenhum país se desenvolveu sem fazer uma grande aposta em educação, ciência, tecnologia, inovação, que são pilares fundamentais de uma agenda de país, e no Brasil não poderá ser diferente. “A expectativa é da população brasileira. É claro que temos um grave problema na indústria brasileira que é a baixa qualidade, a baixa escolarização da média populacional brasileira, o que faz com que a produtividade do trabalho no Brasil seja muito baixa”, diz Lucchesi.
Brasileiros são a favor de mudanças no ensino médio
Segundo uma pesquisa do IBOPE de 2016, 72% dos entrevistados são a favor de mudanças no ensino médio e 70% são a favor de que os estudantes escolham as disciplinas em que irão se aprofundar e possam optar pela formação técnica no ensino médio.
O que é o Novo Ensino Médio?
A Lei nº 13.415/2017 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu uma mudança na estrutura do ensino médio, ampliando o tempo mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais (até 2022) e definindo uma nova organização curricular, mais flexível, que contemple uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a oferta de diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes, os chamados itinerários formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional. A mudança tem como objetivos garantir a oferta de educação de qualidade a todos os jovens brasileiros e aproximar as escolas da realidade dos estudantes de hoje, considerando as novas demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade.