Por João Paulo Machado
Principal responsável pela formação técnica e profissional de jovens e trabalhadores brasileiros para vários setores da indústria, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), está com a atual estrutura ameaçada.
O governo federal tem sinalizado, desde o período de transição, no ano passado, executar cortes de 30% a 50% nas verbas repassadas a instituições do sistema S, do qual faz parte o SENAI. Para especialistas, a decisão pode provocar graves consequências para a educação técnica e, até mesmo, para serviços de saúde prestados à população brasileira.
Ao todo, no Brasil, o SENAI mantém 541 escolas de todos os estados e no Distrito Federal, que registraram mais de 2,3 milhões de matrículas, em 2017. A instituição, calcula, porém, que casos os cortes sejam realizados, 162 escolas terão de fechar as portas.
“Além de acabar com empregos de educadores, técnicos, especialistas e pesquisadores, se forem feitos, os cortes prejudicarão a educação, pesarão sobre a saúde e afetarão a economia do país como um todo”, explica o diretor-geral do SENAI e também diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.
A avaliação de Lucchesi é corroborada por especialistas em educação como, por exemplo, o ex-diretor geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Cláudio de Moura e Castro. O especialista conta que o sistema educacional aplicado pelo SENAI pode ser comparado aos aplicados nos países mais desenvolvidos do mundo.
“Por quase 15 anos trabalhei na Organização Internacional do Trabalho (OIT), no Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Me coube, nesse momento, visitar muitas escolas profissionais, dezenas. Algumas em países avançados, mas a maioria nos países, ditos, em desenvolvimento. Mas uma coisa me chamou a atenção. Eu não vi nenhuma escola em países em desenvolvimento que chegasse próxima das escolas do SENAI. Pelo contrário, essas escolas (SENAI) estão praticamente no mesmo nível daquelas escolas que a gente admira nos países avançados”, analisa.
Atualmente, cerca de 70% dos cursos do SENAI são oferecidos de forma gratuita. De acordo com Rafael Lucchesi, os possíveis cortes nos recursos tornarão inviável a oferta de ensino em todos os estados do país, com consequências mais graves, sobretudo, nas regiões Norte e parte do Nordeste.
Mas, a chamada “facada no sistema S”, prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, terá efeito não apenas no SENAI, mas em instituições como Senac, Sebrae e SESI, entre outros.
O Serviço Social da Indústria (SESI), por exemplo, também tem uma rede de escolas de que beneficia 1,2 milhão de jovens com educação básica, principalmente de famílias de trabalhadores da indústria. Além disso, oferece prestação de serviços de saúde que inclui desde a oferta gratuita de vacinas e exames de mamografia para trabalhadoras. Um corte nos recursos deste sistema pode acarretar na falta de atendimento para 1,2 milhão de pessoas, que teriam que buscar os serviços na rede pública ou custeá-los na rede particular, segundo informações do próprio SESI.