Dezessete pra dezoito anos, acho que eu não tinha mais do que isso, menino bonito, cabelos pretos encaracolados, cara cheia de cravos e espinhas, dentes encavalados, mas perfeitos (naquela época ainda não se usava esses aparelhos cheio de borrachinhas coloridas, o tal do sorriso com grade) eu gostava de usar calça xadrez, boca de sino, camisa volta ao mundo, sapato de salto carrapeta. Eu fui o rei das meninas, com meu fuscão 1500, tala larga, escapamento Kadron, volante pouco maior que uma bolacha Maria.
Nos bailinhos de garagem não podia faltar, cuba libre, ponche, picles, Creedence, Bee Gees e eu.
Foi num desses que apareceu a Leonarda, uma loirinha do outro mundo, até hoje eu não sei de que galáxia ela surgiu, Dentro de uma calça Lee, tão apertada, que parece que foi embalada à vácuo, uma blusa amarela com os dois botões de cima abertos, coisa de doido, um pitéu.
A macacada quando viu a mina, ficou de quatro, babando, cada carinha chegava com um galanteio diferente, …e ai gatinha, quer dividir seu ping pong comigo? …garota, você tem a medida certinha do meu abraço …e mais uma porção de baboseiras típicas dos anos 70.
Então chegou o degas aqui, devagarinho, como quem não quer nada, conversando macio, sem muito balacobaco, sem dar trela pros invejosos e faturou a moça, (não repare no traquejo do meu palavreado e nem na minha gíria esdrúxula, é que a gente sai dos anos 70, mas os anos 70 não sai da gente.)
Enquanto no long play do Marmelade se ouvia The changing of sunlight to moonlight reflections of my life, eu cochichava na orelhinha da gata, hora jogando uma cantada, outra hora tentando acompanhar a música com meu inglês mal acabado.
Dois dias depois, a gente já estava no maior amasso no muro da casa dela e os coroas só de olho no vitrô e nós dois só se malhando e prometendo amor eterno.
Depois que ela entrava, eu escrevia com xixi o nome dela no muro, Às vezes só conseguia escrever Leo, outras vezes, com mais inspiração, eu escrevia, Leonarda meu amor, te amo e ainda sobrava pra desenhar um coração.
Nossa paixão com o tempo só foi aumentando, já estávamos pensando em casamento, filhos, casa, troquei meu fuscão por um opalão quatro portas, câmbio em cima, nos bailes de garagem, com The Hollies e os Fholhas, hi-fi, pão de forma com patê de presunto, não deixamos de ir e as escritas no muro era de lei, tinha que ter, a não ser que chovesse.
Uma noite, quase madrugada, os pais dela (hoje, meu sogro e sogra) saíram e foram conversar com a gente. Então sem rodeios ele falou…quando eu era jovem e namorava esse anjo que está aqui ao meu lado, eu bem que gostaria de escrever o nome dela no muro também, porém a gente morava no sítio e não tinha muro, só cerca. O que você faz, não é certo, mas é compreensível. Escrever com xixi, o nome da namorada no muro é até romântico, é coisa da juventude, uma bonita demonstração de amor, mas seja sincero e fala pra mim…, a caligrafia é da nossa filha, não é?..e era.