A Comissão de Justiça e Paz de Vitória foi criada em 1978 pelos Bispos Dom João Baptista da Motta e Albuquerque e Dom Luís Gonzaga Fernandes.
O Brasil vivia sob regime ditatorial, pois estava em vigor o Ato Institucional Número 5. Não havia garantias. Era o primado do arbítrio.
A CJP de Vitória, embora criada sob a égide de Bispos, não era uma instituição católica. Dentre os seus primeiros membros havia dois ministros evangélicos – o Pastor Claude Labrunie e o Pastor Jaime Wright. Nem era mesmo uma instituição integrada, obrigatoriamente, por crentes, por pessoas que professavam a fé em Deus. Um dos membros supunha ser ateu, mas eu contestei seu ateísmo.
Disse-lhe certo dia –
Você não é ateu, querido companheiro. Você tem colocado sua vida em perigo defendendo a Justiça. Não é crente quem beija o anel do Bispo, ajoelha-se nos bancos da catedral, mas não pratica a Justiça e explora o irmão. Tem Fé, uma Fé autêntica, que não precisa ser explicitada, aquele que faz do zelo pela Justiça um Evangelho. Quisera eu ter sua Fé.
Ele ficou emocionado, mas contestou – eu não sou isto não.
Esta pessoa, que estou relembrando, assumiu mais tarde uma Fé explícita. Passou a frequentar Missas.
Trata-se do Advogado Ewerton Montenegro Guimarães.
Ocorre-me neste momento a lembrança desse lutador, hoje falecido. Ele não gostava de elogio público. Se estivesse vivo, este artigo lhe traria desconforto. Dirijo meu pensamento a Ewerton pedindo que, lá na mansão de Deus, onde ele está, peça por nós, que ainda estamos aqui.
Durante sua existência, a CJP procurou ser a voz de quem não tinha voz. Opôs-se a despejos coletivos que mandavam para a rua dezenas de famílias miseráveis. Denunciou abusos contra presos e torturas praticadas nas prisões. Apelou a advogados voluntários para que defendessem pobres, antes de ser instituída, com muito atraso, a Defensoria Pública.
Fui membro da Comissão de Justiça e Paz e exerci a presidência da entidade.
Considero isto muito mais importante do que se tivesse sido ministro do Supremo Tribunal Federal.