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Fada da Limpeza

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Quando terminou o expediente, elas saíram e foram caminhando calmamente até o ponto de ônibus.

– O que você fará essa noite – perguntou enquanto procurava o cartão de passagem na bolsa.

“Hoje é quarta-feira, dia internacional da faxina lá em casa.”

– Ué? Faxina a gente faz no sábado!

“A gente quem, cara pálida? O sábado é de descanso. Faxina a gente faz na quarta!” – falou sorrindo como se fosse um programão para uma noite tão bonita.

– Você parece animada com o seu programa – falou a amiga achando graça.

“Animada? Nunca! Ainda mais hoje. Geralmente, na quarta, deixo tudo guardado, as coisas todas para cima, nada na pia, a roupa da semana toda lavada… Deixo a casa organizada só para chegar e começar a limpeza, mas, nesta semana, está um atropelo só. Não lavei roupa no começo da semana, saí correndo deixando para trás cama desarrumada, a pia cheia, tudo espalhado. O meu reino encantado está um caos.”

Ela contou todos esses detalhes ainda animadinha.

E a amiga começou a rir:

– E você ainda me diz tudo isso sorrindo? Sua noite será longa!

E Ela, com a cabeça erguida, o peito estufado:

“Minha irmã, de que adianta lamentar? Vou encarar o reino encantado da bagunça com pose de madame que, assim, dou conta de tudo mais rápido.”

Foi quando o ônibus da madame faxineira chegou:

“Eita! Meu motorista. Beijos, neguinha, até amanhã.”

– Beijos, madame. Divirta-se!

E Ela foi pela estrada afora sacolejando no ônibus, sentadinha – naquela parada, o ônibus ainda estava vazio- como se madame fosse em sua limusine.

Quando chegou à sua parada, despediu-se dos companheiros de viagem e desceu.

O sol esperava que ela chegasse para ir embora e, por isso, foi andando calmamente, como se desfilando estivesse até chegar à sua rua.

“Colocar a roupa na máquina, arrumar a cama, lavar a louça, guardar tudo que está fora do lugar, lavar o banheiro, meu quarto, o quarto do príncipe, a sala, o chão da cozinha e, para fechar a noite, a garagem. Mas, antes de tudo, tenho de colocar o lixo fora, está quase na hora do caminhão passar.”

Enquanto ia elaborando o plano de ação de sua faxina, viu de longe que na porta de sua casa tinha um pacote.

“Pai eterno, o que será aquilo ali na porta de casa?”

Apertou o passo. Afinal, a curiosidade era um ótimo combustível.

Chegou e foi dando uns chutes para tentar descobrir do que se tratava.

O volume estava em dois sacos de lixo.

Abaixou-se e viu a garrafa de suco que deixara em cima da pia. Junto, havia a bandeja de queijo e um copo de iogurte.

No outro saco, um vidro de creme e uns papéis coloridos que ela colocara no lixo do banheiro naquela manhã.

“Misericórdia! É o meu lixo” – falou sozinha já ficando apavorada.

“Divino Pai Eterno, proteja sua filha. Quem esteve na minha casa hoje?”

Abriu o portão e se sentiu o cheiro: a garagem completamente limpa e perfumada.

“Quem quer que tenha estado aqui jogou o lixo fora e lavou minha garagem. Jesus, abençoe a criatura.”

Agora Ela já estava tremendo dos pés à cabeça.

Era uma mistura de medo e empolgação:

“Acho que estou com medo de entrar. Que alguém esteve aqui eu tenho certeza, mas será que ainda está? Não tenho outro jeito, tenho que entrar. Senhor, proteja sua filha!”

Orou e abriu a porta.

Lá de dentro, veio o mais delicioso de todos os perfumes: o de produto de limpeza!

Ela, completamente atônita, começou a andar pela casa: não tinha louça na pia, as roupas sujas tinham desaparecido. Sobre o fogão, um bolo ainda morno.

“Meu Deus! Ninguém tem a chave da minha casa, quem foi o anjo que esteve aqui?”

Ela não sabia se ria, se chorava, se cantava, se dançava.

Continuou correndo pela casa e encontrou o banheiro lavado, no quarto, a maior, melhor e mais arrebatadora de todas as surpresas: sobre a cama, todas as roupas, que estavam acumuladas há meses, perfeitamente passadas.

Até as que estavam sujas tinham sido lavadas e passadas.

Ela não podia acreditar.

“Meu Deus, obrigada! Eu não faço ideia de quem fez isso, mas obrigada por mandar o anjo da limpeza aqui em casa. Eu prometo que nunca mais acumulo roupa pra passar!”

Foi enquanto ria, chorava e falava sem parar sozinha que Ela viu um bilhete no espelho do banheiro, escrito em letras grandes:

QUERIDINHA, ISSO FOI UMA AMOSTRA GRÁTIS DE COMO SUA CASA PODE SER A PARTIR DE AGORA.

AINDA BEM QUE ESCOLHI VOCÊ, SUA GELADEIRA ESTAVA UM HORROR!

E ESSE TANTO DE ROUPA ACUMULADA? FALTA UM POUCO DE ORGANIZAÇÃO NA SUA VIDA.

AÍ ESTÁ MEU TELEFONE, POSSO VOLTAR NA PRÓXIMA QUARTA PARA TE AJUDAR DE MANEIRA PERMANENTE COM TUDO ISSO.

MINHA DIÁRIA É DE R$ 150,00.

UM GRANDE ABRAÇO, FADA DA LIMPEZA.

Ela, que estava saltitando de felicidade, ficou muda olhando o bilhete.

“Mas, gente, que vaconilda! Invade minha casa, mexe onde não foi chamada e ainda me paga sapo falando das minhas roupas e geladeira? Tô dizendo mesmo.”

Deu um sorriso maroto, colocou de volta sua pose de madame:

“Fadinha querida, – falou sozinha enquanto caminhava pela casa –  acho que você não está mais aqui, mas muito obrigada pela geral, valeu mesmo. Deu até vontade de ficar com raiva de você, afinal falou mal da minha geladeira, reclamou da roupa que eu não dei conta de desencalhar, mas não vou perder tempo com rancor por suas palavras. – disse colocando as mãos na cintura, olhando para o alto –  Vou sim aproveitar a noite de folga que você me deu. Obrigada!”

E Ela, mais madame que tudo, pegou a bolsa e voltou pra rua!

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745