Sempre reitero uma defesa esperta das autoridades brasileiras para demonstrar quanto nossa sociedade é permissiva com a distorção da realidade.
Quando a gente faz uma sugestão prática para algum governo, logo é rechaçado sob a pecha de simplista e que se deve cuidar das coisas mais importantes; quando se propõe algo mais sofisticado, a rebatida é imediata de que não é tão simples de solução como se pretende. O mesmo vale para as informações. Elas faltam tanto nas coisas simples quanto nas complexas. Alguns relatos concretos.
Um dia, numa correria para pegar uma carona, o cidadão não conseguiu sair na porta giratória do condomínio. Ele tentava sair pela porta que só permitia a entrada. Existia uma porta específica para saída de pedestre, só faltava uma placa com essa informação.
Na mesma semana, outro se queixava que teria ido ao sacolão, em São Paulo é o local de venda de frutas e verduras, que na verdade, vende de tudo. Saiu de casa com tempo determinado para essa compra porque tinha um compromisso importantíssimo depois. Era o primeiro dia num emprego. Tudo certo até chegar ao caixa. Um determinado produto não registrava, não “passava”. O leitor não conseguia registrar o código de barras. Depois de umas dez tentativas, a caixa detectou o problema. Aquele produto não estava relacionado no sistema. Problema resolvido em 40 minutos. Produto registrado; emprego perdido.
Num outro dia da mesma semana, outra pessoa narra que deixou o carro num estacionamento. Na placa de preços, incluía-se uma promoção para lavagem completa. Era muito vantajosa e resolveu aproveitá-la. Correria na saída e o caixa adverte: só recebe no cartão o valor do estacionamento, a lavagem só em dinheiro. O cidadão estava sem nenhum centavo. Mais de uma hora até sacar num caixa eletrônico e voltar para quitar a lavagem com grana viva. Não adiantou mostrar que a placa avisava a aceitação de todos os cartões de crédito ou de débito e não havia nenhuma ressalva sobre os pagamentos diferenciados.
Pelo menos o cidadão chegou a tempo no laboratório para exame da esposa. Maquininhas padronizadas de água, outra de café ou chá, com aquelas bolachinhas fabricadas sob medida para laboratórios. Durante a espera, resolve beber um copo d’água. Aperta o botão verde de água gelada, não sai. Força o de água natural, nenhuma gota. Já com os dedos doloridos, uma diligente balconista avisa que só sai água no botão híbrido natural/gelada. Nenhum símbolo universal para mostrar que os outros dois não funcionavam.
No caminho de volta, um site anotado resolveria a limpeza do sofá. Resolveria, se a web o reconhecesse. Não existia. A placa tá lá.
Em tudo neste país existe precariedade nas informações, seja por falta, insuficiência, imprecisão ou distorção. Quando se reclama, a resposta vem à brasileira: “não é bem assim”.
Que bom fosse ficção! Mas, o cara que passou por tudo isso? Esse cara fui eu.