Por André Naves*
Perdoem-me. Hoje não escreverei algo doce.
As minhas crônicas são recheadas de saudades, valores e esperança. Cada um de vocês, das mais diferentes maneiras e ainda que não o saibam, acabam sendo coautores das historietas: é que conforme a leitura avança e a imaginação toma conta, as suas saudades se misturam às minhas! É aí que os sorrisos de cada um sempre brotam. JUNTOS!
Mas hoje não! É impossível sorrir com tamanha crueldade.
Mais de um ano depois, volto a escrever sobre a família Bibas, mas para dar a notícia que o mundo mais temia: Kfir, Ariel e Shiri Bibas, sequestrados de suas casas pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 e mantidos reféns em Gaza desde então, foram assassinados e tiveram seus corpos entregues a Israel.
Eu, vocês me conhecem, sempre fui um ativista dos Direitos Humanos, um militante da Inclusão Social… E era repetido diariamente por mim que o respeito aos Direitos Humanos é fundamental, já que eles tratam de tudo quanto é essencial para os seres humanos. Eles são a própria essência da pessoa!
Mas que Humanidade é essa? Que “Xou da Xuxa” é esse???? Pura monstruosidade!
A vida sempre foi pródiga em injustiças e indecências. Como dizem, ela é “um fiofó de vaca”! Mas hoje em dia… Assaltos, criminalidade, assassinatos. Insegurança pública! Vidas que valem menos que um celular! Senhoras brutalmente espancadas por causa de uma aliança que, depois de mais de 40 anos, não sai mais dos dedos.
E a emergência climática, então? Ondas de calor, tempestades que aniquilam tudo por onde passam. Imagens conhecidas, dramas repetidos, autoridades inertes! Semana que vem tem mais!
E, aos poucos, vamos construindo mais muros. Nos escondemos. Blindamos nosso carro. Aceitamos o inaceitável. E, ao invés de juntos, passamos a sozinhos. SOLITÁRIOS!
Cada um com seu idioma diferente, sem compreender o outro… Sem ENXERGAR! A vida nos impõe a cegueira de se ver mas nunca enxergar…
Hoje não são sorrisos. Hoje são lágrimas. Perdoem-me, mas a minha esperança foi assassinada!
Desculpem-me, mas não consigo sorrir nem cantar. Uma profunda depressão parece ter tomado conta de mim. Minha fé na humanidade foi massacrada junto com aqueles ruivinhos que simbolizavam a construção de um novo mundo. Um reino de PAZ!
* André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador cultural, escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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Foto: Arquivo pessoal/ André Naves