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FEVEREIRO, DO JACATIRÃO E DO CAMBUCÁ.

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Fevereiro está quase terminando e, tão longe de casa, no outro lado do Atlântico, não posso esquecer que o jacatirão nativo está terminando a sua florescência gloriosa que colore todos os caminhos e que este é o mês do cambucá, a minha fruta da infância. Então volto a falar do enorme e único pé de cambucá que conheci quando menino, em Corupá, e que povoou toda a minha vida. Nunca me esqueci dele.

O pé de cambucá é um marco na minha infância, pois sempre esperei encontrar uma outra árvore com aquela fruta de sabor único, de textura única, que se parece um pouco com pêssego, mas é só um pouco e só na aparência. Pensei nunca mais encontrar um cambucazeiro, parecia que eles se escondiam de mim, ou pior – pensei que eles talvez não existem mais, por aqui.
E não dá, mesmo, pra esquecer aquela árvore majestosa, enorme cambucazeiro com uns dez metros de altura. Ela ficava na casa de um vizinho, na Plantagem, e nós íamos lá, quando os cambucás estavam maduros, pedir para subir e comer alguns. E os vizinhos deixavam e a gente subia e subia naquela árvore gigantesca e apanhava os frutos amarelos e duros por fora, mas suculentos e macios por dentro, com uma semente dura e lisa, talvez do tamanho de uma semente de pêssego, mas redonda. O tamanho da fruta também regulava com o tamanho de um pêssego grande, só que era redonda. A polpa não tinha separação da casca, então a gente abria a fruta com os dentes, tirava a semente e comia a parte macia até chegar na parte mais resistente.
O pé de cambucá deve ser parente da jabuticabeira, pois as flores e os frutos dão direto no tronco e nos galhos, e o sabor é até um pouquinho parecido, mas é característico, só dele, porque é agridoce, ácido, incomparável.
Andei procurando, numa das minhas idas a Corupá e encontrei um pé de cambucá, ainda que bem jovem, na casa de uma tia minha, vejam vocês. E também encontrei um cambucazeiro já bem grandinho, na casa do meu amigo escritor Flávio José Cardozo, em Santo Antonio de Lisboa, na Ilha de Santa Catarina, na nossa querida Florianópolis. Há alguns anos fui à casa dele quando os cambucás estavam maduros e ele me presenteou com vários frutos deliciosos. Neste verão, em fevereiro, gostaria de visitá-lo, para subir naquele belo pé de cambucá e poder brincar de ser menino de novo. E voltar a sentir na boca o sabor da infância. Mas fica para o ano que vem.

 Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 43 anos de trajetória. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br

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