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Gildásia Silva – Dona Dazinha, viúva de Chiquinho Gavião

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⃰27/10/917†19/072021

 

Gildásia Silva, Dazinha, viúva de Francisco Ramos da Silva, vulgo Chiquinho Gavião, é uma pessoa que conhece muitas famílias brumadenses pelo exercício das profissões de doméstica, comerciante e costureira profissional. É muito bem informada, lúcida, detalha os fatos do seu conhecimento, no seu tempo ocorridos na cidade. Conversa agradável, rica em assuntos, demonstra todos os seus saberes do tempo antigo e do atual, uma prosa agradável.

Nasceu em 27 de outubro de 1917, porém foi registrada em quatro de setembro de 1922, em Piranha, povoado do município de Andaraí. É filha de Joaquim Silva e Hermínia de Jesus, rurícolas. O pai vaqueiro e a mãe lavradora. São seus irmãos: Altelina, Altina, Ana, Maria, João, José e Josemiro.

Estudou até a terceira série primária, que funcionava da seguinte forma: ABC, o 1º, 2º e 3º livros, em anos distintos, perfazendo quatro anos de estudos. Durante a sua infância de rurícola, além de ajudar nos serviços da roça com seus irmãos, protagonizou muitas brincadeiras: brincava com os irmãos e as colegas de esconde-esconde, boneca, cantiga de roda, lagarta pintada e outras concernentes à sua infância. Traquinas, subia em árvores, pulava no rio, brincava de balanço feito com cipó, viveu a felicidade da infância.

Durante a adolescência, enfrentou trabalho duro na labuta dos serviços da roça: carpia, derriçava café, plantava e colhia algodão em roças de terceiros, para se manter e ajudar a família.

Em 1939, com 22 anos de idade, casou-se na Igreja com o garimpeiro Abílio Alves, em Piranha, no município de Andaraí, com quem teve um filho que não vingou. O esposo morreu um ano depois do casamento. Viúva ela continuou trabalhando na roça.

Após viver maritalmente com Francisco Ramos da Silva, conhecido como Chiquinho Gavião, por cinco anos, em 1958, casou-se com ele no religioso, em Redenção, município de Itaberaba, com quem viveu até a morte deste. Tiveram um filho natimorto.

Versátil, perspicaz e inovador, Chiquinho Gavião montou um bar com quatro mesas de sinuca (bilhar com oito bolas e seis caçapas) e um restaurante (o primeiro de Brumado). Dona Dazinha ajudava o marido a administrar os negócios, além dos seus afazeres domésticos. Depois montaram barraca na praça da feira-livre, lugar onde hoje se localiza o Mercado de Artes (Atual Praça Armindo Azevedo), onde vendiam cereais e outros produtos com um grande sortimento e muitas variedades.

Era muito festeira, gostava principalmente de carnaval e costurava as fantasias dos interessados para o evento. Acompanhava o marido, músico e, também festeiro, e organizador de festas. Anualmente acompanhava o marido que fazia romaria à gruta da Mangabeira, situada no município de Ituaçu, terra natal do marido, o qual participava dos festejos pagãos e dos eventos católicos.

Ela acredita na reencarnação, dogma espírita, religião que aderiu e participou fazendo passes e outros trabalhos concernentes. Ingressou no Espiritismo desde a época em que o senhor Albertino Marques Barreto dirigia o Centro Espírita Fraternidade. Hoje, ela  não o frequenta mais, por motivos de saúde, porém crê piamente na reencarnação da alma, sistema de auto aperfeiçoamento do indivíduo.

Com a generosidade e a grandeza do seu coração, “adotou” quatro filhos: com o falecimento das mães, vieram para o seu poder Alba Silva Souza com doze anos, filha da sua irmã Maria; Hildete Pereira Silva com nove anos, filha da irmã Altina.  As meninas já recebiam os seus cuidados e também as suas mães que eram ajudadas por Dazinha. Mais tarde, ficou com um menino de três meses, Evanjivaldo da Silva, filho de Valdete (Dete) que não tinha condições de criá-lo e foi para São Paulo. Por fim, Zelinda Almeida de Souza Caires, amor e paixão da sua vida.  Todos foram criados como filhos biológicos, aos quais dedica amor, carinho e atenção. “Deus me deu essa missão e a oportunidade de criá-los e educá-los conforme as minhas posses”.

Após a morte do marido, fez o curso de corte e costura com a professora Manoelita Rocha Coqueiro, recebendo diploma de conclusão com direito a festa de formatura. Desenvolveu outras habilidades: bordados manuais e a máquina, fiação, renda, crochê, ponto de cruz e ponto cheio. Com esses serviços, atendia a comunidade e a elite brumadense, obtendo daí o necessário para a sua manutenção e da família.

Hoje, (2017) com 100 anos de nascimento está lúcida e com raciocínio lógico, continua fazendo trabalhos manuais e costura como distração para preenchimento do seu tempo de aposentada. Não abre mão desse trabalho, apesar da sua condição de saúde (artrite severa) de, ela própria, faz os serviços domésticos, principalmente de cozinha, nesse particular, é exigente quanto à limpeza e a higiene. Para tanto, conta com a companheira Marilete Teixeira dos Santos (Lete) que trabalha nos afazeres domésticos há mais de dez anos.

A sua família é composta das filhas de criação:   Binha, Dete, Zelinda e o filho Vange, além dos netos, bisnetos, genro, nora e trinetas com os quais convive em harmonia e saudável relação de amizade. Procura estar presente em suas vidas com aconselhamento de pessoa mais velha e com experiência de vida. Compara a vivência da sua antiga infância com a criação de hoje, díspares na forma e no conteúdo.

Envolvimento político: Na época da ARENA, dava apoio ao Dr. Juracy Pires Gomes (prefeito por três mandatos) e participava de quase todas as inaugurações. É defensora de “Fazer o bem sem olhar a quem e sem esperar nada em troca”, princípios cristãos e preceitos observados pelo espiritismo. Segue os conselhos dos pais: ajudar, o próximo sempre que puder. Esses procedimentos dignificam as pessoas.

Gosta de ouvir músicas, com   preferência pelo cantor Roberto Carlos. Tem mania de limpeza e de colecionar dinheiro antigo.  Com relação a animais domésticos, cria cachorros, gatos, periquito, papagaio e uma calopsita aos quais dedica tempo, carinho e atenção.

Dazinha relatou, como curiosidade, que seu Agnelo dos Santos Azevedo foi o primeiro comerciante a ter uma funerária em Brumado e o primeiro caixão foi vendido para ela inumar o corpo de Chiquinho Gavião que faleceu em 06 de outubro de 1968, com 62 anos de idade e está enterrado no cemitério municipal Senhor do Bonfim. E acrescenta: “Com a doença de Chiquinho Gavião, lutei para restabelecer a sua saúde. Fiz tudo que pude por ele. Infelizmente a doença o ceifou”.

Diz que a maior loucura que cometeu em sua vida foi a sua ida para São Paulo, sem conhecer o lugar, em companhia de uma família conhecida que visitava a sua localidade, na esperança de ganhar melhores salários. Foi para o Instituto da Imigração Paulista. Lá os fazendeiros levavam os imigrantes nordestinos para o interior, para trabalharem na lavoura, principalmente de café, algodão e cana-de-açúcar. Trabalhou nessa condição em fazendas de Araçatuba, Santa Fé do Sul e outras.

Muito tempo depois, morou em Salvador, em um apartamento que pertencia a uma família brumadense, por quatro anos, tomando conta dos filhos menores deste casal. Finalmente retornou para Brumado e aqui se encontra muito feliz, ao lado dos seus filhos, parentes e amigos a quem devota muita consideração.

Contou que, quando alguém visitava a casa dos seus pais, a sua mãe tinha o hábito de presentear o visitante com algo. “Era um costume dela, hoje, eu procuro fazer o mesmo.

Com relação à sua aposentadoria, contou que agradece primeiramente a Deus e ao médico Dr. José Álvaro Dantas – Dr. Zezito – que, com o seu relatório minucioso sobre a sua saúde, foi possível aposentar-se, fato que ocorreu em 12/04/1983. Recebeu dele a recomendação de que, ao entregar o relatório ao colega, não citasse que foi enviado por Dr. Dantas, nome pelo qual era conhecido no meio médico. Porquanto, citando o nome Zezito, denotaria a intimidade do conhecimento com ele, o que poderia prejudicá-la.

Os depoimentos são de Gildásia Silva (Dazinha) a quem agradecemos a colaboração.

 

Gildásia Silva, Dazinha faleceu em 19/07/2021 com 103 anos de idade e o corpo está sendo velado no Salão Paroquial.

 

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