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Gosto gostoso

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Sabe aquela festa em que mal você chega o garçom vem oferecendo um salgadinho minúsculo e com a cara mais linda e apetitosa do mundo?

Então, a festa era desse tipo.

Eu amo festas!                                                                                                                     

Gosto muito, muito mesmo.

Graças ao Pai, meus amigos têm três requisitos maravilhosos: bom coração, pois me chamam para suas festas.; gosto apurado, pois fazem festas incríveis e grana, pois se faz necessário esse ingrediente para a grande maioria das festas incríveis.

Por isso e somente por isso, vivo em festas encantadoras.

Para mim, festa que se preze precisa ter música e comida boas.

Você pode estar me perguntando sobre a bebida.

Eu não bebo.

Aliás, eu bebo, mas para mim água bem gelada é a melhor de todas as bebidas.

Estou trabalhando para abandonar o refrigerante em definitivo.

Acredito poder descobrir se vou gostar ou não da festa pelo convite.

Recebo o convite e gosto?

Vou me esbaldar na festa.

Recebo e acho sem graça?

Vou gostar, mas com ressalvas.

O termômetro do convite não é o mais preciso de todos.

Já recebi convites dos quais não fui tanto com a cara e as festas em questão foram incríveis.

Assim como também já recebi convites por que fiquei apaixonada de cara e a festa não foi lá tudo isso.

Mas aí, quando você chega e já é recebido com um salgadinho pequenininho que parece uma obra de arte, obviamente começa a comer antes de encontrar seu lugar para sentar.

Quando encontra já comeu uns cinco.

Agora que está acomodado, começa a comer em definitivo.

E aí, como está confortavelmente instalado com seus amigos, ouvindo uma boa música, só lhe resta comer o que o garçom traz.

E lá vai você.

Comendo três de cada salgadinho que passa.

Nesse momento, você vê que algumas pessoas vêm lá de longe com  delícias de boteco.

Terminantemente não tem como dispensar.

E lá vai a sua pessoa.

Volta sorridente com um escondidinho de carne de sol.

E come feliz como se não houvesse amanhã.

E segue assim, ao ritmo da música, comendo tudo que passa á sua frente.

Lá pelas tantas quando está com a nítida impressão de que, se der um soluço, é o seu fim, os docinhos começam a ser servidos.

E você, para não fazer desfeitas com doces tão lindos, começa a comer ao menos um exemplar de cada.

Bem na hora em que se senta para tentar respirar um pouco, aproxima-se um garçom sorridente. Em uma das mãos ele traz lindas colheres, e na outra uma vasilha cheia até a boca de brigadeiro de colher.

Como dispensar brigadeiro de colher?

Aí, passados alguns instantes, lá vem o bolo.

Mas com esse, caso você não dispense, a explosão é certa.

Agradece e declina a oportunidade.

Na hora de sair dá um jeito e leva um pedaço para casa.

Lá chegando, guarda no fundo, bem no fundo da geladeira.

Na segunda, você corre o dia inteiro e não come, mas pensa nele.

Na terça se esquece do lindo completamente.

Na quarta pensa nele o dia inteiro, mas, ao chegar à casa, já não lembra mais.

Na quinta, quando abre o olho dá um pulo e corre até a geladeira para se encontrar com o gostoso.

A essa altura não se lembra mais cara da vasilha em que guardou a delícia.

Abre uma por uma até que ela  sorri para você lá do fundo da geladeira.

Você retribui o sorriso, abre a vasilha e dentro dela está aquele pouquinho de feijão que
sobrou no almoço de ontem.

Seu coração chega diminui a velocidade do tum-tum.

Em uma rápida investigação com os membros da família, que já estão de pé, descobre que o bolo foi comido na segunda-feira de manhã.

Sua decepção é tão grande que você fica com a vasilha em uma mão, a tampa na outra e um olhar fixo na parede da cozinha.

Depois de um longo suspiro de decepção, declara como quem acaba de ter uma revelação:

“Nunca guarde para amanhã o que você pode comer hoje!”

Levanta, bebe um como d’água e vai começar o dia.

 

 

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744