Quase todos os dias da semana, assim que termina seu dia letivo numa turma do 9º ano do Colégio Estadual São João Batista, o estudante Alexandre Santos, 17 anos, vai direto para a Praça da Juventude, situada no início do Parque da Serra do Periperi. Ali, na quadra poliesportiva, ele se junta as outros garotos que participam de um projeto social desenvolvido pela Prefeitura, por meio da Coordenação de Esportes e das secretarias de Meio Ambiente e de Serviços Públicos.
Estão inscritos aproximadamente 60 jovens, com idades a partir dos dez anos. Eles moram em bairros como Pedrinhas, Guarani, Panorama, Alto da Boa Vista, Nossa Senhora Aparecida e Petrópolis, todos situados nas imediações da Praça da Juventude.
“Saio da escola e venho para cá. Já falei com meu pai, está autorizado. Aí, venho direto”, conta Alexandre. A principal atividade é o “baba” de futsal, no qual o estudante, na maioria das vezes, joga como lateral – embora não recuse ir para o gol na eventual falta de algum colega. As atividades ocorrem de segunda a sexta, nos dois turnos, e no sábado, à tarde. No momento, negocia-se a inclusão de atividades matutinas também aos sábados.
Mas, antes de entrar em quadra, os jovens participam de uma conversa com o idealizador e coordenador do projeto, Francisco Chaves – ou “Sola”, como é chamado pelos garotos. “A gente senta com cada jovem e fala sobre as coisas da vida. Sobre drogas, sexo, religião, política. Aí, nós procuramos passar, através desse simples projeto, coisas boas para o jovem. Coisas boas e simples, que funcionam”, relata Francisco.
“Acho muito bom, porque têm pessoas que estão já no mundo das drogas, e isso é bom para eles. Uma conversa, até um conselho para dar para eles, é muito bom”, avalia Alexandre. “Sobre não mexer com essas coisas, com drogas. Não se envolver, porque é um caminho que vai, e não tem volta para algumas pessoas”.
‘Mais perspectivas’ – Em meio a esses bate-papos anteriores aos jogos, Francisco costuma alternar outras atividades, a exemplo da distribuição de lanches e livros com mensagens bíblicas. Aqueles que realmente leem e conseguem sintetizar sua compreensão acerca da leitura, têm direito a brindes.
Mas também há regras. Para participar, o projeto exige que os jovens tenham bom desempenho na escola, respeitem pais e mães e não entrem em brigas durante as atividades esportivas. Com isso, Francisco vai mantendo a disciplina, embora desentendimentos surjam em alguns momentos. “A gente sabe que o futebol é um esporte de contato. Mas aqui, mesmo tendo o contato, a gente explica que todos nós somos irmãos, vimos de Deus. Ensinamos isso, a cumprir as regras. Aí, faz parte do esporte”, explica o coordenador.
Outro participante, Benilton Ribeiro, 30, garante que o projeto, com esse regulamento, já vem dando resultados que ele detecta nos colegas e em si mesmo. “Muitas vezes, eu ficava em casa, sem fazer nada. Tinha amigos meus que estavam se drogando nas ruas, e já estão vindo aqui para brincar futebol. E, hoje, eles já têm mais perspectivas de vida”, conta Benilton, que mora no Alto Maron. Ele estuda à noite no 1º ano do Ensino Médio, e ocupa suas tardes com as atividades teóricas e práticas do projeto. “Acho mais vida, mais sabedoria”, observa.
‘Inclusão social – De acordo com o coordenador municipal de Esportes, Jaldo Mendes, a ideia de iniciar o projeto surgiu depois de algumas ocorrências policiais registradas na região onde se localiza a Praça da Juventude. “As pessoas estavam com medo de ficar aqui na praça, porque estávamos tendo vários problemas aqui dentro”, disse.
Entre as alternativas para trazer os frequentadores de volta, surgiu a ideia de envolvê-los em atividades esportivas. Jaldo já conhecia um projeto pioneiro, desenvolvido por Francisco “Sola” havia cerca de vinte anos, chamado Juventude Atletas para Cristo (JAPC). Após discussões com outros setores da Prefeitura, chegou-se à decisão de desenvolver essa iniciativa na Praça da Juventude.
Francisco, que é servidor público municipal e trabalhava na Secretaria de Serviços Públicos, foi convidado a assumir a responsabilidade de desenvolver seu antigo projeto no novo espaço. Segundo Jaldo, os resultados surgiram dentro de pouco tempo. “Logo no começo, a gente já teve uma resposta muito boa. E a gente fica feliz em dizer isso, porque os próprios meninos que estavam usando drogas aqui na Praça da Juventude, e promovendo problemas aqui para o Poço Escuro, nesta área de reserva ambiental, já estão dentro do projeto”, relata o coordenador de Esportes.
“A gente pode concluir, com isso, que o esporte é uma ferramenta fantástica de inclusão social. E a gente quer muito desenvolver outros projetos como este nas demais partes da cidade”, informa Jaldo.