Segundo Reinado: D Pedro II
Em 1877, quando chegou o dia 19 de março e nenhuma gota de água caiu do céu, os sertanejos anteviam a desgraça. Esse é o Dia de São José, padroeiro do Ceará e das chuvas. Até hoje, quando não chove nessa data, eles já sabem que terão pela frente um ano inteiro de seca.
Áreas afetadas : Região Nordeste do Brasil, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Causas Longo período com índice pluviométrico abaixo do esperado.
A Grande Seca, ou a seca no Nordeste brasileiro de 1877–1879, foi o mais devastador fenômeno de seca, a maior catástrofe da história do Brasil, ocorrido no período imperial, 2º Reinado, brasileiro.
A calamidade é responsável pela morte de entre 400.000 e 500.000 pessoas. De um total de 800.000 pessoas que viviam na área afetada da região Nordeste, em torno de 120.000 migraram para a Amazônia, enquanto 68.000 migraram para outras partes do Brasil. A região mais afetada foi a província do Ceará.
Foram três anos seguidos sem chuvas, sem colheita, sem plantio, com perda de rebanhos e com a fuga das famílias, deixando despovoado o sertão. Tanto esse evento de estiagem quanto anteriores e posteriores estão associados ao fenômeno El Niño e suas interferências diretas ao clima dessa e outras regiões.
O primeiro parlamentar a levar a tragédia ao conhecimento do Senado foi Figueira de Melo (CE). Disse: a horrorosa seca inutilizou todas as esperanças de que a Providência Divina mandasse em tempo chuvas suficientes para alimentação do gado e das plantações.
O Senador Visconde de Jaguaripe (CE) apresentou um relato ainda mais dramático. Num pronunciamento, ele pediu que uma eleição que se realizaria em sua província fosse cancelada. – a província do Ceará é hoje um vasto cemitério. Em vez da população votar, há de se encontrar cadáveres e sombras.
Nas regiões afetadas pela seca, os parlamentares dessas províncias se uniram para mitigar os estragos. No mesmo dia os deputados liberaram verbas. Ao longo dessa seca várias verbas foram aprovadas pelo parlamento e o dinheiro foi aplicado, principalmente, em comida.
A população do Sul organizou ações beneficentes, por vários meios, para prover os socorros necessários.
–A augusta regente [Princesa Isabel] , atual chefe do Estado, tem se mostrado pessoalmente incansável em acudir às vítimas. Abstraindo dos recursos de que pode o governo lançar mão , ela se dedigna de pôr-se à testa do movimento caritativo, de por si mesma promover consertos e leilões de objetos de que possam provir socorros , certa, como está de que a caridade brasileira jamais é invocado em vão – Senador Visconde de Jaguaribe.
Alguns parlamentares foram contra a ideia da caridade para socorrer os afetados pela seca, para esses senadores, a solução seria exigir dos sertanejos , em troca do alimento enviado pelo governo, que trabalhassem em obras públicas , como abertura de ferrovias, a extensão de cabos telegráficos e a construção de açudes.
O senador Teixeira Júnior (RJ) discursou: — Vejo pretexto para se manter a ociosidade daqueles que, tendo-se habituado à indolência, vivendo à custa do óbolo da caridade que o governo distribui em farinha e carne seca, não querem mais sujeitar-se à condição absoluta que rege a sociedade: o trabalho.
O presidente do Ceará (governador) preferiu, em vez de dar esmola, que humilha e abate a quem recebe, proporcionar trabalho assalariado aos indigentes, minorando destarte os sacrifícios do Estado, aproveitando nas obras que hão de perdurar longos anos e ao mesmo tempo mantendo na população os hábitos de ordem e atividade. Esse pensamento pareceu acertado d e digno de animação. (Afonso Celso (MG) Ministro da Fazenda).
Antes da Pandemia Mundial de COVID-19, a Grande Seca era o maior desastre natural do Brasil por número de mortos. Diversos atravessadores surgiram no caso da vacina contra a pandemia do Covid-19, visando o lucro fácil, em detrimento da mortalidade do vírus.
Histórico
O fenômeno El Niño interfere diretamente nas condições climáticas de determinadas regiões brasileira. No Brasil a variação no volume de chuvas e/ou outras mudanças depende de cada região e da intensidade do fenômeno. Historicamente, no Nordeste os registros de mudanças climáticas mostram-se ora mais brandos, ora mais críticos – não sendo estabelecido um padrão.
A população de certo modo foi pega de surpresa, já que a última grande seca ocorrida nas ‘províncias do Norte’ havia sido há mais de 30 anos, entre 1844 e 1845. Nessa época, nada ou pouco pôde ser feito para amenizar suas consequências pela falta de recursos da engenharia.
Na seca de 1877, as famílias abastadas partiram em busca de refúgio junto a parentes que habitavam as serras e o litoral. Os adultos iam montados nos cavalos seguidos pelos carros de bois cheios de mulheres, crianças e bagagens, tendo na retaguarda os vaqueiros e os ajudantes conduzindo o que restara do gado.
Os pobres seguiam a pé, na poeira das estradas, os adultos levando as crianças menores, puxando o que restava do rebanho de cabras ou vacas, o cachorro de estimação atrás. Esses eram chamados de retirantes ou flagelados, que eram perseguidos e expulsos quando estacionavam nas vizinhanças de um povoado. O sertão se transformou em grande vazio, não só por causa das mortes, mas também pelo êxodo em busca de sobrevivência, em outros locais, por exemplo, o litoral de Recife e Fortaleza.
Os moradores temiam os saques nos comércios e armazéns, como rotineiramente acontecia. As cidades, além dos vales férteis, ficavam apinhadas de flagelados. Aracati, que contava com cinco mil habitantes, passou a abrigar mais de 60 mil pessoas. Fortaleza converteu-se na capital do desespero: de 21 mil habitantes pelo censo de 1872, passou a ter 130 mil.
Muitos dos retirantes morriam nas veredas e estradas. Os que alcançavam os centros urbanos chegavam à beira do colapso e impressionavam pela desnutrição. As colônias que os abrigavam eram verdadeiros campos de concentração.
Para se verem livres dos flagelados e fazerem a limpeza das capitais, os enviavam de graça para o Rio de Janeiro e São Paulo para as plantações de café, via navios e outros para os seringais da Amazonia.
Essas promessas de se combater os efeitos da seca, geralmente, são esquecidas, dizem que o brasileiro só fecha a porta depois de roubado. O fenômeno climático, é hoje, uma preocupação governamental em relação às chuvas e queimadas, principalmente na Amazonia e no Pantanal.
Além do problema da fome e das doenças, os retirantes flagelados sofriam discriminações e eram tratados sem nenhuma humanidade. O chicote era muita vez o pão que eles recebiam quando diziam: temos fome.
A economia provincial, já abalada pela crise do algodão, quase acaba de vez. Escravos eram vendidos para o sudeste; os rebanhos, salvo algumas cabeças conduzidas pelos retirantes, eram dizimados pela ação das zoonoses, furtos, extravios, fome e sede. A flora e fauna praticamente desapareceram; as lavouras exterminadas. Para agravar o quadro da tragédia, um surto de varíola dizimou milhares de pessoas. Mulheres se restituíram em troca de comida, multiplicaram-se os casos de roubo, furto e estupros.
Na seca de 1877, o Ceará – a região mais afetada das províncias do Norte – perdeu o equivalente a um terço de sua população: estima-se que 200 mil pessoas morreram e outras migraram para outras regiões.
Enquanto a população sofria com a estiagem e a escassez de água e alimentos, alguns setores beneficiaram-se com a seca, como algumas casas comerciais estrangeiras, a exemplo da Boris Frères, que comercializava artigos de primeira necessidade.
Consequências da seca:
“A peste e a fome matam mais de quatrocentos por dia”, escreveu o escritor Rodolfo Teófilo, horrorizado com o que assistia; parado numa esquina, em pouco tempo viu passarem vinte cadáveres. “E as crianças que morrem nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela manhã os encarregados de sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco: e, ensacados os cadáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a um pau e conduzido para a sepultura”. As notícias incomodavam a Corte, onde o imperador chegou a dizer: “Não restará uma joia da Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”.
A grande seca em sua severidade impôs um movimento de ‘diáspora’ em território brasileiro ao povo nordestino. Isso porque as estiagens anteriores – embora severas – não ocorreram com tamanha intensidade, já que nessa ocasião, tanto a população, quanto a flora e fauna foram severamente atingidos e nem haviam forçado o povo a abandonar suas terras em grande escala na busca pela sobrevivência. Grandes massas populacionais moveram-se para as regiões Norte e Sudeste, numa calamidade que atingira tanto pobres quanto ricos.
Hoje, se calcula que morreram cerca de quinhentas mil pessoas em consequência da seca de 1877. O engenheiro André Rebouças, abolicionista, negro, respeitado por suas ideias progressistas, calculava em mais de dois milhões as pessoas atingidas pela seca, ainda em novembro de 1877. Dos mortos de 1877 a 1879, calcula-se que 150.000 faleceram de inanição e 100.000 de febres e outras doenças, 80.000 de varíola e 180.000 de fome, alimentação venenosa e sede.
Acredita-se que a Grande Seca que ocorreu de 1877 a 1879 ceifou a vida de mais da metade das 1.754.000 pessoas que residiam na área atingida pela tragédia. Esse foi de longe a maior catástrofe gerada por fenômenos naturais que ocorreu no país. O termo seca se aplica a um período de tempo onde a escassez de chuva produz um desequilíbrio hidrológico grave: as represas esvaziam, os poços secam e as colheitas são prejudicadas.
Desde a década de 1840 – especificamente desde a seca de 1844 – a ideia de transposição das águas do rio São Francisco já era considerada como a única solução para a seca no Nordeste. Entretanto, estudos feitos pelo Barão de Capanema após a Grande Seca de 1877 demonstraram não haver recursos técnicos para fazer com que as águas transpusessem a Chapada do Araripe, localizada na divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco.
Em razão da situação calamitosa do Nordeste o governo imperial enviou, no período 1877/1879, uma comissão de engenheiros que determinaram a perfuração de poços, a construção de estradas de ferro e de rodagem e o armazenamento de água. Os resultados dos estudos na região ainda indicaram a construção de barragens ou açudes.
O Açude do Cedro foi umas das primeiras grandes obras de combate à seca realizadas pelo Governo Imperial. A ordem de construção foi dada pelo imperador D. Pedro II em decorrência do grande impacto social provocado pela seca de 1877, porém o início das obras deu-se durante os governos republicanos entre 1890 e 1906.
Denúncias de desvio de socorros públicos começaram a aparecer nos jornais. As notícias falavam de remessas de carne podre e farinha misturado com cal que eram dadas aos retirantes, sacas compradas pelo governo que chegavam com menos alimento que o contratado , funcionários públicos das províncias que repentinamente enriqueciam e intermediários entre o governo, os empresários e os flagelados que contabilizavam lucros estratosféricos.
O ministro da Fazenda Afonso Celso, admitiu a possibilidade de abusos por parte de agentes subalternos da administração ou de fornecedores de gêneros, porque os abusos são invitáveis em tempos ordinários, quanto mais em épocas calamitosas. Uma vez provadas, as fraudes devem acarretar contra seus autores toda severidade das leis.
O termo seca se aplica a um período de tempo onde a escassez de chuva produz um desequilíbrio hidrológico grave: as represas esvaziam, os poços secam e as colheitas são prejudicadas. O Nordeste brasileiro já conheceu, de 1605 até a atualidade, mais de trinta períodos de seca, algumas de extrema gravidade para a economia local e a sobrevivência física das populações carentes como a Grande Seca de 1877. O governo federal tem tentado combater os efeitos da seca com a construção de grandes açudes, como o de Orós, perfuração de poços tubulares, cacimbas e construção de estradas
Em 1880, quando chegou o Dia de São José e caiu água do céu, os sertanejos respiraram aliviados. O governo Imperial também.
Fontes:
Enciclopédia livre Wikipédia ;
Arquivo S do Senado Federal volume 7 – baseado no texto de Ricardo Westin;
©Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda.;
Enciclopédia Encarta.