Depois do sucesso da temporada do ano passado, o grupo mineiro volta à cidade, mais uma vez a convite da RHI Magnesita
Com 37 anos de história, o Grupo Galpão se consolidou como um dos grupos teatrais mais importantes do país. São 24 espetáculos montados, mais de 4.000 apresentações e um público total de quase 1.800.000 de pessoas. Em 2018 o grupo, que tem sede em Belo Horizonte (MG), se apresentou pela primeira vez em Brumado (BA), em duas sessões que reuniram cerca de duas mil pessoas na Praça da Prefeitura. Esse ano o Galpão volta à cidade baiana com outra montagem, um clássico do teatro e grande sucesso de público da companhia, Os Gigantes da Montanha, dirigida por Gabriel Villela e escrita por Pirandello. O grupo – que conta com patrocínio master da Petrobras e patrocínio da RHI Magnesita – se apresenta na Praça da Prefeitura, nos dias 18 e 19 de maio, sábado às 20h e domingo, às 19h, com entrada franca. A programação, toda gratuita, conta ainda um bate-papo com os atores no dia 18, das 14h às 16h, na Prefeitura Municipal de Brumado, e oficinas de Prática Teatral e Produção Cultural, que serão realizadas na sexta-feira, 17 de abril, das 18h às 22h, e no sábado, dia 18 de abril, das 9 horas às 13 horas, respectivamente, ambas no Centro Estadual de Educação Profissional (antigo Colégio Modelo).
O texto de Os Gigantes da Montanha foi uma escolha do diretor Gabriel Villela para celebrar o reencontro com o Galpão, cuja parceria iniciou-se em 1992, com a montagem de Romeu e Julieta, seguida por A Rua da Amargura, de 1994. O espetáculo narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila isolada do mundo, cheia de encantos, governada pelo mago Cotrone. A trupe de mambembes encontra-se em profundo declínio e miséria, por obsessão de sua primeira atriz, a condessa Ilse, em montar “A Fábula do filho trocado” (peça escrita por um jovem poeta que se matou por amor não correspondido da condessa). Cotrone, o mago criador de “verdades que a consciência rejeita”, começa a construir os fantasmas dos personagens que faltam para a companhia montar a peça. Ele convida os atores a permanecerem para sempre na Vila, representando apenas para si mesmos a “A Fábula do Filho Trocado”. Ilse, no entanto, insiste que a obra deve viver entre os homens, sendo representada para o público.
A solução encontrada, que resultará no desfecho trágico da peça é sua apresentação para os chamados “Os Gigantes da Montanha”, povo que vive próximo da Vila. Os gigantes, por terem um espírito fabril e empreendedor, “desenvolveram muito os músculos e se tornaram um tanto bestiais”, e, portanto, não valorizam a poesia e a arte. O ato final da peça, que ficou inconcluso, mas que chegou a ser vislumbrado pelo autor em leito de morte, descreve a cena em que Ilse e a poesia são trucidadas pelos embrutecidos Gigantes. A peça termina com os atores da companhia carregando o corpo da atriz na mesma carroça em que chegaram à primeira cena.Os Gigantes da Montanha traz uma contundente discussão sobre o possível lugar da arte e da poesia num mundo dominado pelo pragmatismo e pela técnica. A morte de Ilse representa a morte e também o renascimento da arte. Como a Fênix que ressurge das cinzas: a velha arte precisa morrer para que novas sensibilidades artísticas brotem e floresçam.
PIRANDELLO
Nasceu em Agrigento (Sicília), em 1867. Considerava a atividade teatral menos importante em sua condição essencial de poeta (Mal Jucundo), romancista (O Falecido Matias Pascal, A Excluída, O Turno) e contista (364 escritos), mas foi como teatrólogo, curiosamente, que Pirandello ganhou êxito. Em 1934, o escritor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, por sua audaz renovação e questionamentos sobre a arte cênica e dramática. Com pinceladas de realidade à ficção, Pirandello explorava, em sua obra, a tradição elisabetana da “peça dentro da peça” e temas referentes aos bastidores da maquinaria cênica. Em 1936, o autor morre vítima de uma forte pneumonia.
MÚSICA
Gabriel Villela e o Galpão experimentam a música, ao vivo, tocada e cantada pelos atores, como um elemento fundamental na tradução do universo da fábula para o teatro popular de rua. Para compor o repertório da peça foram selecionadas algumas árias e canções italianas, populares e modernas. “Ciao Amore”, “Bella Ciao” e outras músicas ganham novos arranjos e coloridos para ambientar a atmosfera onírica de “Os Gigantes da Montanha”. Para chegar a esse resultado, durante meses, os atores passaram por treinamento musical com parceiros antigos, como Babaya e Ernani Maletta, e por uma pesquisa sobre a antropologia da voz, com a performer e musicista, Francesca Dell Monica, que trabalha a partir da técnica de espacialização vocal.
CENÁRIO E FIGURINO
A ponte Brasil – Minas – Itália é costurada pelas mãos antropofágicas de Gabriel Villela e seus assistentes de direção, Ivan Andrade e Marcelo Cordeiro, que misturam referências diversas. Num mesmo caldeirão estão reunidas Sicília, Carmo do Rio Claro, macumba, magia, Commedia Del’Arte e circo- teatro, Vaudeville, Totó e Vicente Celestino, Ana Magnani e Procópio Ferreira, Mamulengo e ópera, festival de San Remo e seresta mineira. “Os Gigantes da Montanha” convida o público para um mergulho teatral que funde e sintetiza o brasileiro com o universal, o erudito com o popular, a tradição com a vanguarda. Um desafio à altura da trajetória de 37 anos de buscas e desafios do Galpão. Toda essa alquimia fica claramente representada nos figurinos e no cenário do espetáculo. Construído por madeira feita de demolição, o cenário de “Os Gigantes da Montanha” traz 12 mesas robustas, objetos, armários e cadeiras que se movimentam para elevar a encenação e caracterizar a atmosfera de sonho da fábula. Coloridos e brilhantes, concebidos especialmente para apresentações à noite, os adereços e figurinos do espetáculo carregam detalhes e referências do teatro popular, que surgem das ideias inventivas de Villela e das mãos criativas de seu parceiro antigo, José Rosa. Os bordados da costureira Giovanna Vilela realçam e dão toque especial ao acabamento das peças. Tecidos trazidos da Ásia, do Peru e de outros cantos do Brasil, pelo diretor, adornam as roupas. Velhas sombrinhas bordadas de “Romeu e Julieta” reaparecem e ganham nova função em “Os Gigantes da Montanha”, com efeitos que tornam a Vila de Cotrone fantasmagórica e cheia de encantamentos. Gabriel e sua equipe também se utilizam de máscaras inspiradas na Commedia Del’Arte e fabricadas pelo artista natalense Shicó do Mamulengo, para trazer à encenação um aspecto burlesco e, ao mesmo tempo, sombrio.
*Com informações de Izidy Ramel (Assessoria de Imprensa/Brumado) e Comunicação do Grupo Galvão.
Foto de Capa: Grupo Galpão