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Hospital da Mulher reforça importância de cuidados às gestantes que têm pressão alta

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Por Isabel Gardenal – Jornal da Unicamp

Gestantes, após 20 semana de gravidez, devem estar alertas para o risco de pré-eclâmpsia, uma complicação em que a gestante desenvolve pressão alta, com grande risco para a mãe e o filho. Gestantes de risco merecem atendimento especializado, com rigorosa vigilância durante o pré-natal. Esse tipo de atenção é oferecida há anos às grávidas da Região Metropolitana de Campinas pela Unicamp, através do Ambulatório de Pré-Natal Especializado no Hospital da Mulher – Caism. Em média, são atendidas ali cerca de 30 grávidas por dia com condições de alto risco para pré-eclâmpsia, não só gestantes com hipertensão crônica, mas também com antecedente de pré-eclâmpsia, com doença renal, autoimune, hemoglobinopatias e neoplasias.

Esse atendimento tem aumentado por conta de um conjunto de fatores de risco que tem incidido nas grávidas, entre os quais a obesidade que avança no país, gravidez mais tardia, mulheres com mais comorbidades e, além disso, melhor controle clínico de muitas doenças graves, como doenças renais ou anemia falciforme, o que permite a manutenção da fertilidade e mais gravidezes.

No último dia 22 (terça-feira), a Unicamp foi uma voz que se somou a outras para lembrar o Dia Mundial da Pré-Eclâmpsia, em sua segunda edição, já incorporado no calendário de várias organizações internacionais. “A ideia, ao criar essa data, foi fazer com o que o mundo todo discutisse e divulgasse o assunto porque a pré-eclâmpsia é uma das causas de maior mortalidade e morbidade na gravidez e no pós-parto mundialmente”, comentou a docente do Caism, a obstetra Maria Laura Costa do Nascimento.

De acordo com a especialista, complicações hipertensivas representam a principal causa de morte materna no Brasil. “Então abordar o assunto e difundir os sinais e sintomas de gravidade é muito importante para a população, uma vez que no mundo todo morre uma mulher por pré-eclâmpsia a cada 20 minutos”, lamentou. “E o mais triste é que 99% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média rendas.”

Paciente é assistida por médicas no Caism
Paciente é assistida no Caism pelas médicas Maria Laura e Fernanda Surita – Foto: Antonio Scarpinetti/Jornal da Unicamp

A pré-eclâmpsia responde hoje por grande parte dos partos prematuros chamados terapêuticos, ou seja, induzidos pelos médicos para salvar a vida das mães ou dos bebês. Ocorre quando a pressão alta na gravidez é acompanhada de perda de proteína na urina (proteinúria) ou, na ausência de proteinúria, algum sinal de gravidade, podendo denotar disfunção em órgãos como o sistema nervoso central, fígado e rins.

Segundo Maria Laura, a pré-eclâmpsia acontece, na maior parte das vezes, no final da gravidez e não existe ainda uma maneira efetiva para preveni-la ou predizer quais pacientes terão complicações. Contudo, algumas intervenções que mais surtem resultados envolvem identificar os fatores de risco. Estes fatores normalmente estão associados a mulheres com antecedente de pré-eclâmpsia em gestação anterior, presença de hipertensão arterial crônica e doenças autoimunes como lúpus e obesidade.

São algumas das intervenções possíveis a indicação do uso de aspirina para a população de maior risco e a reposição com carbonato de cálcio em populações com baixa ingesta de cálcio [o Brasil é, sabidamente, uma população de baixa ingesta]. “Mas a intervenção mais efetiva mesmo é fazer o diagnóstico precocemente e vigiar as pacientes para determinar o momento ideal para que o parto aconteça, visto que o único tratamento efetivo é o parto”, assinalou a médica.

O Caism integra no momento um grande estudo multicêntrico no Brasil, coordenado pela Fiocruz no Rio de Janeiro, chamado Prepare (Redução da Prematuridade a partir de Cuidados na Pré-Eclâmpsia). Este estudo visa identificar os casos que, diante do diagnóstico de pré-eclâmpsia, possam se beneficiar de conduta expectante (de adiar o parto) com uso de biomarcadores. “Estamos testando a coleta de fatores no sangue (fatores angiogênicos e antiangiogênicos) para verificar risco materno. Este é um projeto que já está em andamento”, informou ela.

Atendimento
O Ambulatório de Pré-Natal Especializado em Hipertensão funciona às quartas-feiras no Caism. As obstetras Mary Ângela Parpinelli, Fernanda Surita e Maria Laura são as suas responsáveis. Ele se destina especialmente a mulheres com hipertensão crônica, mas também com colagenoses, doenças renais, doença falciforme e neoplasia. “Nesse ambulatório, temos as pacientes de maior risco de pré-eclâmpsia”, revelou Maria Laura. Ela explicou que a pré-eclâmpsia é uma patologia evolutiva, multissistêmica e que, portanto, nunca se sabe o quadro que a paciente poderá manifestar.”

Conforme a docente, há mulheres que começam com um quadro de pressão muito alta, outras mostram alteração renal significativa (com insuficiência renal), há aquelas que vêm ao pronto socorro com insuficiência hepática e há outras ainda que convulsionam primeiramente (eclâmpsia).

A obstetra Maria Laura Costa do Nascimento
A obstetra Maria Laura Costa do Nascimento – Foto: Antonio Scarpinetti/Jornal da Unicamp

“Se a mulher tiver hipertensão com pressão acima de 140/90 durante o pré-natal, isso precisa ser valorizado e é fundamental investigar pré-eclâmpsia. Se tiver um ganho de peso superior a 500 gramas por semana; se perceber algum edema importante (inchaço), sobretudo na face e nas mãos; e se começar a ter dores no estômago, náuseas ou alterações visuais (enxergar tudo ‘brilhantinho’), tudo isso é fator de gravidade que merece ser avaliado”, defendeu ela. “Esses sinais devem colocar a gestante em alerta, porque não são comuns no final da gravidez. Por isso, é necessário medir imediatamente a pressão e buscar pronto atendimento médico.”

Por outro lado, a pré-eclâmpsia é a maior causa de prematuridade terapêutica, ou seja, por indicação médica. Logo, além do risco materno de gravidade, tem ainda o risco que ela representa para o feto. Especialmente nos casos de pré-eclâmpsia precoce (antes de 34 semanas), a placenta não funciona adequadamente e então o bebê pode ficar restrito, menor do que devia. Tem um maior risco de sofrimento intra-útero e de sofrer com as consequências da prematuridade.

“Em longo prazo, as mães que já tiveram pré-eclâmpsia possuem um risco aumentado, ao longo da vida, de apresentar hipertensão crônica, doença cardiovascular, doença renal e evoluir para a morte mais cedo. Logo, é fundamental que todas as mulheres que tiveram pré-eclâmpsia façam pré-natal especializado na próxima gravidez, por serem de risco. Também é desejável que sejam acompanhadas dali em diante com clínico para controlar a pressão e os fatores modificáveis para evitar doença cardiovascular. Estes fatores envolvem o controle do peso, a prática da atividade física e o controle da pressão, quando ficarem hipertensas no pós-parto”, ressaltou Maria Laura.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744