Para além de beleza e estilo, o cabelo afro representa luta, cultura, pertencimento e representatividade
Por: Mayara de Moraes Neudl /mayara.neudl@seomarketing.
Dos black powers aos dreadlocks, é fato que os cabelos crespos fazem parte de um elemento estético característico da cultura afro. No entanto, engana-se quem pensa que os penteados limitam-se apenas a esse fator.
A valorização da beleza negra, tal como o reconhecimento de sua ancestralidade fazem parte de um movimento muito maior, que cresce a cada dia e que tem como objetivo recuperar as raízes históricas que, durante muito tempo, foram depreciadas pela sociedade.
O orgulho e a aceitação dos fios encorpados, volumosos e que fogem dos padrões eurocêntricos carregam um enorme simbolismo e possuem uma importância expressiva para a cultura negra no Brasil e no mundo.
O cabelo afro na história do Brasil
Desde que chegaram às terras tupiniquins, os europeus impuseram seus costumes, padrões e crenças a todos aqueles que, de alguma forma, se mostravam diferentes a eles.
Desde a colonização, homens e mulheres negras sofreram com a opressão e precisaram abandonar sua cultura para se enquadrar no que era considerado aceitável para os homens que dominavam o território.
Durante um longo período de tempo e, principalmente durante a escravidão no Brasil, as raízes africanas que marcavam um povo foram abandonadas, dando lugar á uma população que sofreu grande manipulação para não enxergar a beleza em sua própria história.
A negação da beleza negra perdurou mesmo após o fim do regime escravagista e, ainda nos dias atuais, deixa profundas marcas em um povo que, ano após ano, luta para recuperar os significados enraizados em sua cultura.
Essa realidade é ainda mais expressiva quando direcionamos o olhar para a mulher negra, que desde pequena, se vê cercada por referências pautadas em um ideal de beleza eurocêntrico e busca se enquadrar dentro do que a sociedade considera bonito.
O alisamento capilar, a manipulação do corpo, bem como os rituais para se encaixar em um estereótipo aceitável eram consideradas formas de garantir a aceitação e o tão desejado pertencimento social.
Símbolo de luta e resistência no exterior
Embora a história no exterior seja bem semelhante em que, pessoas negras com cabelo afro eram marginalizadas e discriminadas, os movimentos para alterar essa realidade começaram bem antes que no Brasil.
Em 1858, nos Estados Unidos, John Swett Rock já discursava em prol da exaltação da beleza negra e, é considerado um dos precursores no assunto, que serviu como base para que outros pudessem se inspirar e lutar pelo reconhecimento da cultura afro.
Movimentos como esse se espalharam não só pelo país, como também em outros continentes. Na África do Sul, por exemplo, diante do regime racista do Apartheid, nomes como o de Steve Biko ganharam destaque na luta contra a discriminação de seu povo.
O Black Power, como hoje o penteado é conhecido, igualmente teve grande importância para essa luta, considerado um dos principais símbolos de resistência dos Panteras Negras, grupo afro-americano que tinha como pauta a aceitação e exaltação da beleza negra.
A recuperação da identidade e o empoderamento negro
A grande onda de movimentos voltados para valorização estética dos traços negros, colocou a população e cultura afro sob uma nova ótica.
O reflexo dessas ações se deu não só no resgate da identidade, como também se tornou motivo de orgulho, empoderamento e, principalmente, reconhecimento de um povo que, antes, precisava se diminuir para caber nos padrões inalcançáveis de beleza.
Hoje em dia, homens, mulheres e crianças exibem seus cabelos naturais carregados de história e legado de um passado que os conectam diretamente com suas raízes e simbolizam a luta para chegar até aqui.
Embora ainda encontrem discriminação, a ressignificação da estética negra representa um movimento de resistência social contínua, que tem se mostrado cada vez mais forte e potente no combate ao racismo enraizado na sociedade.
O cabelo e seu impacto cultural e social
Como pudemos observar, os cabelos na cultura afro vão muito além da beleza e estética. Representam um complexo sistema que busca promover o autoconhecimento, retomar a conexão com a ancestralidade e, principalmente trazer um novo discurso aos holofotes.
A aceitação do cabelo crespo dá voz à liberdade de homens e mulheres que passaram anos reprimidos, considerados fora dos padrões estéticos socialmente aceitos.
Além disso, coloca em pauta um assunto extremamente necessário para a sociedade: a importância de combater qualquer forma de exclusão ou discriminação racial e o respeito às diferenças.
A criação de políticas que promovam o ensino sobre a cultura afro, bem como a disseminação de conhecimento sobre assuntos que envolvam o cabelo crespo, provocam mudanças ainda mais expressivas no quesito coletivo.
Não à toa, cresce a cada dia o número de mulheres que decidiram abandonar os cabelos alisados, passaram pela transição capilar e agora exibem suas madeixas naturais e poderosas por aí.
Novos mercados também surgiram para atender à demanda crescente de crespas e cacheadas: produtos especiais para cuidados com o cabelo, profissionais especializados e até a venda de cabelo humano crespo para turbinar os penteados já são uma realidade.
Tudo isso, graças àqueles que, mesmo diante de uma sociedade estruturalmente racista, não abriram mão de lutar por seus direitos e resgatar a beleza, a força e representatividade dos cabelos afro.
Que artigo excelente! O mesmo mostra a evolução dos negros que valorizam a raça, valorizando seus costumes e aparência.
BLACK IS BEAUTIFUL!