Você sai e encara a vida sem pensar tanto nos obstáculos. Você quer seguir em frente como qualquer pessoa faz. Mas de repente vem o outro e questiona a sua capacidade. Isso acontece muito com quem têm as suas limitações físicas. Eu já ouvi por diversas: Você é capaz disso? Você é capaz daquilo? Quando não questionam afirmam: Você não pode. Você não consegue. Raramente alguém lhe pergunta se você precisa de ajuda. Certa vez me perguntaram se eu conseguia fazer sexo como se isso me limitasse a ter desejos e excitações.
A humanidade em si é mais limitada que uma pessoa com problemas físicos. Eu sei bem o que é se sentir diferente das outras pessoas. Você é diferente porque as pessoas olham você com indiferença. E a vida passa diante dos seus olhos como se andasse tão depressa, menos você. Eu sempre vi olhos que me ignoravam e outros que me viam. No entanto, os que me viam não me olhavam com naturalidade. Tudo que eu parecia era um ser estranho pra eles.
E quem não é estranho um para o outro? O desconhecido sempre será estranho. No meu caso eu sou estranha por usar andador ao mesmo tempo que eu sou estranha por causa da pele escura. O próprio ser humano é estranho! Vão se passar séculos e eu não vou conseguir entender tanta estranheza. Talvez eu nem queira. Pra que saber de tudo? Às vezes têm coisas que precisam ficar nas entrelinhas.
Talvez o ser humano morra sem jamais entender o sentido da vida. E ainda eu vou me perguntar: É errado ser diferente dos outros? Eu não quero ser igual, eu quero ser quem eu sou. Acho que falta ao ser humano se pôr no lugar do outro. É muita hipocrisia achar que a terra é dos iguais! Eu olho pra cada detalhe do mundo e vejo que a vida me chama. Só não dá pra acelerar o passo.
E eu digo: calma, já estou indo. Então ficam para trás as risadas irônicas e preconceituosas, e os olhares de indiferença. Porque eu quero seguir em frente, mas têm coisas que marcam e dificilmente esquecemos.