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Indústria também é lugar de mulher

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Mesmo ainda sendo minoria entre os trabalhadores do setor, mulheres provam que há espaço para crescimento profissional nos fabricantes de produtos de limpeza.

 

Por Ascom/ Abipla

 

A indústria é, possivelmente, o mais masculino dos setores econômicos. De acordo com dados do CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, enquanto as mulheres representam 45,3% dos postos de trabalho do mercado formal, considerando todos os setores econômicos, na indústria de produtos de limpeza, que movimenta R$26 bilhões por ano, o índice é de apenas 26%. Mas este cenário não deve durar muito tempo. A participação feminina, entre os fabricantes de saneantes, vem sendo bastante estimulada nos últimos anos e tem crescido o número de mulheres no setor. “É possível que em cerca de uma década já tenhamos um equilíbrio entre homens e mulheres (confira entrevista completa no final do texto)”, afirma Juliana Marra, presidente da ABIPLA – Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional.

A ABIPLA, por sinal, é um exemplo do espaço que as mulheres vêm conquistando. Além de Juliana, que é a primeira mulher a ocupar a presidência da entidade em 45 anos de existência, a direção da Associação é composta por 28 pessoas, sendo que 14 são mulheres. No Comitê Regulatório, por sua vez, a dominância já é feminina: 87 mulheres e 49 homens.

Desenvolvimento

E a ascensão na carreira não se limita ao trabalho associativo. Na Candura, por exemplo, a química industrial Eloísa Samarini lidera uma equipe de 15 pessoas, tendo construído toda sua trajetória profissional na empresa. “Entrei na Candura como estagiária técnica, em 2001, e permaneço até hoje”, diz, acrescentando: “Nunca sofri nenhum tipo de preconceito por ser mulher, nem entre colaboradores nem na administração. Para mim, isso nunca foi um empecilho”, completa ela, que abraçou a educação e especializações para alavancar a carreira. “Sempre busquei me especializar. Fiz curso técnico, faculdade de química industrial e cursos de especialista de formulação em produtos para casa”, conta.

Eloísa Samarini. Foto: Divulgação.
 

A procura por aperfeiçoamento profissional entre as mulheres, realmente, chama a atenção no setor. De acordo com dados divulgados pelo SESI – Serviço Social da Indústria, a busca por cursos de graduação e pós-graduação nas Faculdades da Indústria (Instituto Euvaldo Lodi e SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) é maior entre as mulheres, mesmo elas sendo minoria entre os trabalhadores. O público feminino é maior na graduação à distância (56%) e na graduação presencial (54%).

 

A última barreira

Apesar do recente crescimento profissional feminino nas empresas, ainda é raro encontrar uma companhia que tenha uma mulher ocupando a cadeira de presidente. De fato, das 46 empresas associadas à ABIPLA, apenas quatro são comandadas por mulheres. “A maioria dos fabricantes de produtos de limpeza são empresas familiares. Com isso, as empresas ainda estão com a liderança masculina, de quem as comprou ou fundou”, explica Talita Santos, diretora-executiva da Gtex Brasil, que deve assumir a presidência da companhia nos próximos anos.

Talita Santos. Foto: Divulgação.
 

Talita, que é filha dos fundadores da empresa, José Domingues e Neiva Santos, também seguiu o caminho do aperfeiçoamento profissional para se preparar para o cargo. É graduada em Relações Públicas, possui pós-graduações em áreas variadas, além de ter atuado em, praticamente, todos os departamentos da Gtex. “Apesar de jovem, eu sempre me preparei. Cresci nos corredores da empresa”, afirma ela.

A executiva conta que a própria estrutura familiar permitiu que ela tivesse as ferramentas necessárias para se desenvolver profissionalmente. “Nasci em uma família em que a mãe tem uma presença muito forte. A Gtex quebrou um pouco esse tabu por ter minha mãe como presidente do conselho. Há uma liderança conjunta na empresa”, analisa ela.

Ciente do desafio que a aguarda, Talita fez parte do programa de líderes femininas globais da Fundação Dom Cabral, mantém contato com outras mulheres em cargos de alta direção e responsabilidade e segue atenta às pautas de diversidade e inclusão. “As empresas do setor estão crescendo e introduzindo novas tecnologias. Isso abre a cabeça para ter um time multidisciplinar, com muito mais diversidade, em que é necessário ter pessoas com características diferentes”, analisa.

 

Toque feminino

Segundo ela, um exemplo simples do que as mulheres podem agregar à alta gerência é a empatia que líderes femininas costumam demonstrar junto às suas equipes. “Tem que olhar pessoas e não só números. A empresa é feita por pessoas. Se eu não tenho pessoas felizes, dedicadas e engajadas com o propósito, eu não entrego o número”, afirma Talita.

Eloísa concorda: “A mulher é mais acolhedora, sabe ouvir, enxergar o ser humano, saber que, por trás de um colaborador, de um cargo, existe uma pessoa”.

 

Juliana Marra. Foto: Divulgação.
 

 

Setor de Produtos de Limpeza e Saneantes está atento à diversidade, diz presidente da ABIPLA

 

Pela primeira vez, desde 1976, a ABIPLA – Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional, entidade que representa o mercado de saneantes do Brasil, setor que movimenta R$ 26 bilhões anuais e emprega 58 mil pessoas, é comandada por uma mulher. Desde março do ano passado, Juliana Marra ocupa a presidência da entidade, com a meta de modernizar a associação e consolidar a ABIPLA como a principal referência em sanitização no Brasil. Para ela, todos os players do setor já têm trabalhado a questão da diversidade, o que deve fazer com que aumente o número de mulheres que podem construir carreira em um fabricante de produto de limpeza.

Confira a opinião de Juliana Marra sobre a ascensão feminina no mercado de trabalho e no setor:

1) As mulheres representam apenas 26% da força de trabalho do setor, mas diversas companhias já têm pessoas do sexo feminino assumindo cargos de liderança. Acredita que as empresas estão criando políticas para que essa inclusão ocorra no nível gerencial?

Juliana Marra: O setor de bens de consumo tem trabalhado bem essa pauta afirmativa e uma empresa influencia a outra. Isso é muito bom nesse mercado. É uma concorrência saudável. Uma empresa cria um compromisso de usar menos plástico, por exemplo, e a outra empresa também o faz. A questão da inclusão, da igualdade de gênero, é presente em quase todas as empresas. Por isso, vemos cada vez mais posições estratégicas ocupadas por mulheres. Muitas delas foram formadas e preparadas dentro da própria empresa, dando valor ao desenvolvimento dos colaboradores, e outras chegam para reforçar o time vindas de outras companhias e até de outros setores.

2) A própria ABIPLA é um retrato disso, já que a diretoria é ocupada por 14 mulheres e 14 homens.

Juliana Marra: Sim, são líderes de diversas áreas. Mas isso só é possível porque temos nas empresas uma dinâmica que possibilita isso. Existe um movimento e um olhar para a liderança feminina. O que mostra que os associados, ao indicarem nomes, entenderam que essas pessoas tinham potencial para representá-los na ABIPLA. Mostra que as empresas vêm investindo nessa pauta.

3) Acredita que a ABIPLA, por ser composta por um time com a presença de muitas mulheres, pode influenciar o setor e até outras associações?

Juliana Marra: A dinâmica associativa pode ser mais bem aproveitada se a gente tiver uma equidade como a que existe na ABIPLA. A gente precisa ter cada vez mais certeza de que as entidades representam aquilo que é importante para as empresas. É preciso trabalhar essa conexão e a maior participação das mulheres pode ajudar a dar esse novo status às associações. Além disso, nós, mulheres, somos mais sensíveis às causas que envolvem cuidado, como saúde, que agora é um tema muito falado.

4) Com plantas de produção cada vez mais modernas e automatizadas, precisando menos de força física, avalia que a presença das mulheres pode aumentar, também, nas áreas fabris?

Juliana Marra: Quanto mais modernizada for a indústria, mais mulheres entrarão. Mas vale ressaltar que as mulheres já são maioria nos cursos de graduação (nota: de acordo com relatório Education at Glance 2019, da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 25% das mulheres entre 25 e 34 anos têm Ensino Superior no Brasil. A proporção de homens na mesma faixa etária é de apenas 18%) e, claramente, isso vai refletir no mercado, pois elas estarão cada vez mais preparadas para ocupar postos qualificados. Além disso, há oportunidades em diversas áreas, como comunicação, por exemplo, já que, mesmo sendo uma indústria, é um setor que reúne marcas, muito famosas, que têm que trabalhar sua imagem. Claro que o desenrolar da carreira e o momento que a mulher decide casar e ter filhos podem fazer com que elas acabem priorizando a família, o que pode ser um fator inibidor de crescimento de carreira. Talvez as novas e futuras gerações façam escolhas diferentes.

5) Em quanto tempo prevê que o setor de saneantes terá uma divisão equilibrada entre homens e mulheres?

Juliana Marra: Acredito que, em uma década, devemos conseguir avanços e teremos proporções mais equilibradas entre homens e mulheres na indústria de produtos de higiene, limpeza e saneantes. Essa dinâmica da educação já vai estar estabelecida e é uma questão do aproveitamento do espaço que vai ser criado. A independência de escolha da mulher, em relação à carreira, família e filhos, somada à educação e às políticas de igualdade podem fazer com que fiquemos perto do equilíbrio.

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