Dados do IBGE apontam que o aumento nos preços da gasolina contribuiu para o índice do mês
Por Zildenor Dourado/ Agência Brasil 61
A inflação oficial de julho foi registrada em 0,12%, de acordo com os números apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este resultado representa uma alta de 0,20 ponto percentual em relação à deflação de 0,08% observada no mês anterior. Comparado a julho de 2022, quando a variação foi de -0,68%, o cenário atual é de recuperação. No acumulado deste ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mensura a inflação, demonstrou um aumento de 2,99%, enquanto nos últimos 12 meses, o índice atingiu 3,99%.
O especialista em finanças e diretor da Valorum, Marcos Melo, enfatiza que, apesar do índice um tanto elevado em julho, os números permanecem dentro das expectativas projetadas.
“Embora esta taxa supere as estimativas, é pouco provável que ela decepcione as previsões do governo e do mercado quanto à meta de inflação para este ano, estipulada em 3,25%. A inflação acumulada nos últimos dez meses está dentro de um limite razoável, situando-se em torno de 3,5%. Além disso, ainda há uma margem de variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo em relação à meta de inflação.”
André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), destaca o aumento previsto do IPCA nos últimos 12 meses e a tendência de crescimento até o final do ano.
“Este cenário é resultado do terceiro trimestre do ano passado, entre julho e setembro de 2022, quando o IPCA registrou quedas acentuadas. Esse período coincidiu com a época das eleições, quando houve cortes de impostos em energia elétrica, gasolina e telecomunicações, fatores que pesaram significativamente no IPCA. Neste ano, a inflação esperada para julho, agosto e setembro, embora baixa, não será tão reduzida quanto no ano anterior, impulsionando a aceleração do índice em 12 meses.”
Análise Setorial No mês de julho, o setor de Transportes apresentou a maior variação, com um aumento de 1,5%. Também foram registradas elevações nos setores de Despesas Pessoais (0,38%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,26%), Educação (0,13%) e Artigos de Residência (0,04%). O grupo Comunicação não demonstrou variação (0%).
De acordo com o IBGE, a gasolina foi o principal responsável pelo impacto nos resultados de julho, com um aumento de 4,79% nos preços. Em junho, o combustível havia apresentado uma queda de 1,14%.
Marcos Melo comenta que a boa notícia é que o aumento não se disseminou em uma ampla gama de itens de consumo.
“O principal contribuinte para essa inflação foi o aumento de 4,79% nos preços da gasolina. No entanto, não se trata de um aumento generalizado em muitos itens comumente adquiridos. Esse aumento na gasolina acaba por influenciar outros indicadores. Portanto, é provável que, em algum momento, a taxa de inflação retorne à tendência observada nos meses anteriores, devido a uma estabilização dos preços da gasolina.”
André Braz explica que o aumento do preço da gasolina em julho se deveu à reintrodução completa dos impostos federais.
“Uma parte desses impostos foi reajustada em março deste ano, mas não completamente. O valor total dos impostos PIS e Cofins foi retomado para a gasolina em julho. Portanto, a inflação de julho foi fortemente influenciada por esse aumento da gasolina devido à reintrodução integral dos impostos federais PIS e Cofins.”
O economista acrescenta que, caso não ocorram aumentos substanciais nos preços da gasolina, a estimativa é que a inflação encerre o ano em torno de 4,4%. Contudo, a recente elevação nos preços do barril de petróleo e sua discrepância em relação ao preço anterior podem pressionar a inflação para cima, dada a importância da gasolina no cálculo do IPCA.
Setores em Declínio Os grupos de Habitação e Alimentação e Bebidas impediram um aumento ainda maior na taxa de inflação de julho, registrando quedas de 1,01% e 0,46%, respectivamente. Além disso, houve uma redução de preços no setor de Vestuário (-0,24%).
No grupo Habitação, a redução nos preços se deveu ao declínio no preço da energia elétrica residencial durante o período, com uma queda de 3,89%. Essa mudança resultou da inclusão do Bônus de Itaipu.
Newton Marques, economista membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF), explica que a queda nos preços dos alimentos está relacionada à dinâmica entre oferta e demanda na agropecuária.
“Sempre que os preços da agropecuária sobem, os produtores tendem a aumentar sua produção. Quando a demanda se equilibra com a oferta, os preços têm uma tendência a diminuir. A agropecuária é sempre marcada por essas oscilações: preços altos seguidos por preços baixos. Isso é determinado pela sazonalidade, condições climáticas e preços internacionais.”
Inversão no INPC O levantamento do IBGE também revelou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que apresentou uma queda de 0,09% em julho, quase em linha com o mês anterior (-0,10%). Em julho de 2022, o índice havia registrado uma variação de -0,6%.