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Jacatirão, a árvore do Brasil

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Como dizem minhas filhas, “moro onde muita gente tira férias”. Uma mora em Nice, na França, e outra em Lisboa. E eu moro em Florianópolis: um privilégio poder ver o mar para praticamente qualquer lado que eu olhe, aqui na capital catarina, mas meus olhos míopes se revitalizam, se iluminam com a visão de matas mesclando o verde com o vermelho, com o arvoredo todo pintado de cores que vão desde o branco até o vinho, no litoral do norte de Santa Catarina e por outros tantos Estados como Paraná e São Paulo. É primavera, é inicio de novembro e é quando o jacatirão nativo começa a florescer.

Tenho uma relação de amor e dor com o jacatirão. Quando perdi minha primeira filha, há bastante tempo, fazia poucos anos que eu tinha descoberto essa árvore grande e generosa, que se cobre de flores no meio da primavera e fica esbanjando beleza até o final do verão. E me tornei admirador e propagador da sua beleza. Então, quando estávamos indo sepultar minha menina, no final de um outubro já longe no tempo, um raio de luz e cor conseguiu atravessar a névoa de dor que cobria meus olhos e eu vi as primeiras flores de jacatirão daquela temporada, numa árvore ao lado do cemitério.

Aí nasceu um pequeno/grande poema: pequeno no tamanho, mas grande no significado: “A primeira flor / de jacatirão / da primavera, / em outubro, / tem um nome: / saudade…”

A relação que temos, eu e o jacatirão, na verdade não é só de amor e dor, mas também de cumplicidade. Porque acho que ele veio me consolar numa hora em que eu precisava muito de luz para mostrar o caminho, mostrar o chão para seguir em frente, mostrar que havia esperança. Que a vida segue e que o tempo cura quase tudo, que a saudade vai se tornando companheira e a dor vai diminuindo, embora volte, às vezes, um pouquinho mais forte. Que a perda ensina a gente a valorizar mais o que se tem, ensina a amar mais e melhor a vida e nossos entes queridos.

Então gosto de falar do jacatirão, de todos os tipos de jacatirão: daquele nativo, que floresce no meio da mata, no verão, no nordeste da nossa Santa e bela Catarina, autêntica árvore de Natal, se enfeitando para o 25 de dezembro e a virada do ano – em meados do verão ele floresce no Paraná, São Paulo e pelo Brasil afora; do jacatirão também chamado de quaresmeira, que floresce mais ao sul de Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e também por quase todo o país, na época da Páscoa, com suas flores menores mas mais coloridas. E o do jacatirão de jardim, que chamam de manacá-da-serra e floresce no inverno, o jacatirão híbrido feito para florescer fora de época. Sem contar o jacatirão roxo e outras variedades menos votadas, que eu chamo de parentes do jacatirão.

Gosto de falar dele, de lembrar sempre dele, também para esclarecer o que diz o verbete correspondente a ele no dicionário Aurélio, que o descreve como uma árvore com “flores insignificantes”. Penso que a alusão é uma opinião que evidencia desconhecimento.

Você, leitor de qualquer parte do Brasil, que não sabe o que é o jacatirão, preste atenção se um dia viajar aqui para o sul ou para o sudeste: do final de outubro até fevereiro, em vários pontos da BR 101 e outras rodovias, você poderá ver as manchas vermelhas nas matas que ladeiam as estradas. É ele, o jacatirão nativo enfeitando nossos caminhos, lembrando-nos que o mundo é bonito e que podemos, sim, ser felizes, se quisermos. Ele estará sempre por aí, arauto da Mãe Natureza, tributo à renovação, à vida. O jacatirão não pega o coronavírus, e segue espalhando sua beleza indiferente à pandemia. É impossível se furtar a ele, admirar a sua beleza, agradecer ao Universo por poder ver tamanho espetáculo.

A virada de ano será ainda mais bonita, pois o manacá-da-serra, o jacatirão de inverno, também está florido, para comemorar com o jacatirão nativo, matriz, a chegada de um Menino Divino e a chegada de um ano novo que será bom, se deixarmos, se seguirmos o exemplo dos jacatirões.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745