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JOÃO FRANCISCO PEREIRA

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“JOÃO FULIA”

*16/03/1916†12/04/2000

João Francisco Pereira (João ‘Fulia’) nasceu em Maragogipe, no dia 16 de março de 1916 e morreu em João Amaro/Iaçu, no dia 12 de abril de 2000. Não se sabe como ele veio para a vila de João Amaro. Seus pais nunca o visitaram e vice-versa. Parentes jamais tomaram essa iniciativa e nem por ele foram procurados. Um enigma a ser desvendado.

 Era analfabeto, apesar disso, inteligente, e memoria privilegiada.  Negro, Alto, magro, meio careca, muito alegre, mulherengo e de andar vagaroso. Desenvolvia a atividade de trabalhador braçal na Rede Férrea Federal – RFFSA.  Por ter emprego certo, tinha várias mulheres. Dizem ser a concupiscência uma característica que lhe era peculiar.

Consta que dois foram os amores prediletos de sua vida: Duvanita e Helena, com as quais teve 10 (dez) filhos, dando a todos a paternidade e proporcionando-lhes o sustento de acordo as suas posses.

Tratava as pessoas conhecidas, do sexo masculino, por “Cabo Véio” e as mulheres, por “Sinhá Dona”, em tom de respeito. Era um elemento que gozava de simpatia da comunidade.

Por ser amigo de policiais, tinha regalias propiciadas e prerrogativas, com isso conseguiu ser “nomeado inspetor”, segundo ele “inspetor juramentado” e passou a se intitular como autoridade policial, se impunha e agia como se fosse delegado, pois o lugarejo não tinha autoridade policial.

 Católico, exercia o ofício de sacristão por consentimento dos padres missionários. Era o cruciferário da procissão.  Organizava os fiéis para os batizados, crismas e casamentos nas missões dos festejos do padroeiro, Santo Antonio e do co-padroeiro São Benedito. Embora inculto, porém realizava a contento, tudo de memória, a sua função de auxiliar dos missionários.

Comenta-se que o chefe político local, dono de um serviço de alto-falante, que funcionava em ocasiões especiais, a pedido de “Fulia”, anunciou a chegada do bispo “fulano de tal”, acompanhado do padre “sicrano” e de um ‘SACRISTA’ (Sacristão) não identificado, esclarecendo que veio em missão trazer a mensagem divina aos fiéis e realizar os rituais católicos (casamento, batizado etc.). O comentário do assunto fica por conta do anedotário local ou da veracidade dos fatos.

 “Fulia”, era o cantador oficial dos leilões, na época dos festejos religiosos, a arrecadação das ofertas, era revertida a favor da Diocese. As oferendas eram feitas pelos fieis, tanto da cidade quanto da zona rural. Todos os católicos participavam do evento com fé e religiosidade em veneração ao padroeiro.

 João Fulia possuía um linguajar próprio para a entrega das oferendas, passando ao arrematador a oferta doada pela comunidade fervorosa, em devoção aos santos protetores. Anunciava a entrega da prenda com os seguintes dizeres: “A quem dara, mas que tomara, dou-lhe uma, dou-lhe duas, uma maior, outra menor, e outra mais pequenininha, e que o padroeiro lhe faça feliz”. Esse linguajar antes da entrega da prenda, era o tempo que dava para que outro oferecesse um valor maior.

 Ele se encarregava de contratar as bandas, para abrilhantarem as festas religiosas, custeadas pela comunidade e ou pela prefeitura. A banda OS BABÕES era a mais solicitada, pelo desempenho apresentado, e tinha a preferência da comunidade.

  João Fulia tinha um arruado de casebres pequenos e baixos, chão de terra, sem nenhum conforto, alugados por preços ínfimos.

No arruado ele tinha uma vendola que comerciava vários produtos:  gêneros alimentícios, produtos pessoais e outros. Tinha ali uma freguesia pobre, mas fiel e infalível.

 Era muito festeiro. Recebeu, por isso, o apelido de “João Fulia”, por proporcionar várias folganças sob o seu comando. Aos domingos e feriados, promovia festas com várias atrações, como pau-de-sebo, quebra-pote, corrida de sacos, ovo na colher e outras do gosto da galera, sempre com a finalidade de faturar. Antes, porém, fazia o convite pelo serviço de alto-falante, solicitando comparecimento do povo ao “fuliativo” de João Francisco.

 À noite, para os adultos, Fulia promovia, em seu ‘cabaré’, “festas de arromba”. Vendia bebidas alcóolicas, refrigerantes e tira-gostos. Frequentavam o ambiente além das ‘mulheres damas’ conhecidas do lugar e outras que vinham de fora, a convite, para o dancing noturno. Tudo funcionava dentro do maior respeito, e de suas exigências. Segundo o dono do cabaré, quem pisasse fora da linha dos bons costumes era posto para fora. Ele se gabava da “seriedade” do ambiente, por ele ser uma autoridade juramentada e respeitada. As possíveis relações sexuais dos casais, eram consumados fora do local do cabaré.

Conta-se que ele registrava filhos de mulheres não casadas, para obter da LESTE e do INSS, um salário-família que era pago ao trabalhador, por filhos menores de 18 anos. O salário pago pela LESTE era de uma quantia bem superior ao salário-família do Instituto Previdenciário, e com isso aumentava a sua renda.

  As más-línguas dizem que ‘Fulia’ nunca trabalhou ou pouco trabalhou. Sempre tirava licença por motivo de doenças ou alegava ao mestre de linhas da RFFSA, seu superior e católico, que estava a serviço da Igreja, providenciando a manutenção e arranjos da capela para a devoção do povo, entre outras providências. Com isso engabelava o mestre de linhas.

 Quando, porém, o serviço apertava e era exigida a sua presença, alegava, problema de saúde, e mandava o filho mais velho substituí-lo no serviço. Naquele tempo, não se fazia concurso e ‘Fulia’ entrou para a estrada de ferro por indicação de algum padrinho, onde se aposentou.

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