Sentença foi exarada no último dia 16, pelo juiz da 90ª zona Eleitoral, Genivaldo Alves Guimarães. Eduardo Vasconcelos e Édio Pereira vão recorrer e permanecem no cargo até que o recurso seja julgado pelas Instâncias Superiores
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Em decisão proferida no último dia 16, o juiz titular da 90ª Zona Eleitoral, Genivaldo Alves Guimarães, seguindo parecer do Ministério Público Eleitoral na Ação de Investigação Judicial Eleitoral, cassou os diplomas e, consequentemente, os mandatos do prefeito e do vice-prefeito de Brumado, respectivamente Eduardo Lima Vasconcelos (PSB) e Édio – Continha – da Silva Pereira (PCdoB). Ambos são acusados pelos crimes de abuso de poder econômico [captação e gastos ilícitos], propaganda antecipada, omissões em prestações de contas e contratação de pessoal com recursos que não transitaram pela conta bancária específica.
O processo contra o socialista Eduardo Lima Vasconcelos e o comunista Édio – Continha – da Silva Pereira foi iniciado ainda em 2016, antes do pleito eleitoral, quando Eduardo Lima Vasconcelos foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral e condenado a pagar multa no valor de R$ 25 mil por propaganda política extemporânea.
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Na Ação de Investigação Judicial Eleitoral protocolizada pelo Ministério Público Eleitoral no Juízo da 90ª Zona Eleitoral de Brumado, foram juntadas, entre as provas dos supostos ilícitos cometidos pelos dois políticos [Eduardo Lima Vasconcelos e Édio da Silva Pereira], gravações e vídeos de campanha realizados antes do registro da candidatura e da celebração do contrato com a produtora; contratação de serviços [produção e filmagens] não informadas na prestação antecipada de contas; auto de apreensão de veículo e mídia com propaganda eleitoral antecipada; extrato bancário da campanha demonstrando, segundo a denúncia do Ministério Público Eleitoral, “que as despesas com pessoal, comícios, eventos de promoção da candidatura, produção de jingles, vinhetas e slogans, bem como atividades de militância e mobilização de ruas” não contabilizados; depoimentos de pessoas que teriam sido contratadas e trabalharam na campanha sem que os pagamentos tivessem sido contabilizados; noticia de uma Promotora de Justiça de Salvador que ouviu a informação, no Aeroporto da capital, de que pessoas estariam em Brumado realizando gravação para a campanha e combinando versão para a eventualidade de serem questionados por membros do Ministério Público Estadual, o que teria se confirmado; depoimentos que comprovariam o recebimento de doação eleitoral irregular.
Em sua decisão, o magistrado apontou que são diversos os bens jurídicos-políticos tutelados pelo Direito Eleitoral, ressaltando merecer destaque “a democracia, a legitimidade do acesso ao exercício do poder estatal, a sinceridade das eleições, a normalidade do pleito e a igualdade entre os candidatos”. Ponderou, ainda, que a análise dos documentos acostados aos Autos pelo Ministério Público Eleitoral demonstraram “a ocorrência de arrecadação e gastos ilícitos, propaganda antecipada, omissões em prestações de contas e contratação de pessoal com recursos que não transitaram pela conta bancária específica e abuso do poder econômico”. As denúncias, acrescentou o magistrado, teriam sido confirmadas nas oitivas das testemunhas e documentos juntados à Aije, “(…) com grave e inequívoco desequilíbrio entre os candidatos aos cargos de prefeito e vice-prefeito de Brumado”.
Além de sentenciar Eduardo Lima Vasconcelos e Édio da Silva Pereira, respectivamente prefeito e vice-prefeito de Brumado, “a pena de inelegibilidade para a eleição na qual foram diplomados, bem como para aquelas a serem realizadas nos oito anos subsequentes”, o juiz eleitoral titular da 90ª Zona Eleitoral, Genivaldo Alves Guimarães “considerando que suas condutas ilícitas comprometeram a regularidade das eleições, afetando sua normalidade e higidez, e acarretando a ilegitimidade dos mandatos, com fundamento no Artigo 222 do Código Eleitoral, declaro nulos os votos dados aos condenados, casso seus diplomas e, por consequência, seus mandatos”.
O magistrado assinalou, no entanto, que, por se tratar de eleições municipais, os efeitos da condenação não são imediatos. Portanto, Eduardo Lima Vasconcelos e Édio da Silva Pereira continuam nos cargos até que a sentença transite em julgado ou seja confirmada por órgão colegiado.
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Em suas defesas, nos Autos do processo, o prefeito e o vice-prefeito de Brumado, respectivamente Eduardo Lima Vasconcelos e Édio da Silva Pereira arguiram cerceamento da defesa, destacando que testemunhas não puderam comparecer para depor. Destacaram, ainda, “haver carência de ação por falta de interesse de agir, argumentando que a Ação de Investigação Judicial Eleitoral teria sido “proposta três dias antes da diplomação” e que no entendimento da defesa somente poderia ter sido oferecida após a habilitação para posse. A defesa do prefeito e do vice-prefeito também alegaram “ilicitude da prova decorrente do procedimento eleitoral preparatório” e negaram ter havido a contratação e confecção antecipada de vídeo da campanha, bem como ter havido omissão na prestação parcial das contas e a contratação de pessoal com recursos não declarados. Toda a argumentação da defesa foi indeferida pelo juízo.
Na tarde do dia 17, através de um vídeo postado nas redes sociais, sob o pretexto de “tranquilizar o povo de Brumado”, o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos (PSB), disse que a decisão do juiz Genivaldo Alves Guimarães “é uma decisão local e isso não tem nenhum efeito suspensivo” e que continua exercendo o cargo e trabalhando em prol do município, ressaltando sua convicção de que a Justiça haverá de prevalecer, com a reforma da sentença nas Instâncias Superiores.
ntença do Juízo da 90ª Zona Eleitoral, e nas entrelinhas ataca o Ministério Público Eleitoral e o magistrado, ao afirmar, textualmente, que a decisão do juiz Genivaldo Alves Guimarães “está contaminada por teratologia”, aproveitando para fazer referência a uma reflexão do advogado criminalista, doutor em Direito Penal, professor dos cursos de Graduação, Doutorado e Mestrado da Faculdade de Direito do Estado do Rio de Janeiro e autor de várias obras, Christiano Fragoso, que destacou: “Os juízes são igualmente humanos, sujeitos às paixões terrenas, e, portanto, podem sim, em casos excepcionais, não conseguir manter a imparcialidade necessária ao exercício da atividade judicante. Isto não representa nenhum demérito ou agravo à pessoa do magistrado, mas tão somente a reafirmação da sua humanidade”.
O prefeito concluiu afirmando que irá recorrer da sentença para buscar a “correção a tamanha violação ao Estado Democrático de Direito e a vontade de 70% dos eleitores de Brumado”.
Ainda no dia 17, através da Assessoria de Comunicação Social, o prefeito Eduardo Lima Vasconcelos distribuiu uma “Nota de Esclarecimento”, com o mesmo teor das declarações expostas no vídeo que publicou nas redes sociais.
O vice-prefeito Édio da Silva Pereira (PCdoB), ouvido por telefone pela reportagem do JS, disse que preferia não fazer nenhuma consideração à respeito da decisão do juiz Genivaldo Alves Guimarães. “O Jurídico já está cuidando do recurso, Eduardo [prefeito Eduardo Lima Vasconcelos] já fez um pronunciamento que reflete o nosso pensamento e do grupo, portanto não é interessante ficar alimentando essa divergência. Vamos continuar trabalhando, como bem disse Eduardo, inaugurando obras, dando início a outras obras que estão e vão beneficiar a população brumadense, nos mantendo distante desse processo, certo de que no final a verdade prevalecerá “, apontou o vice-prefeito.