No lançamento do meu segundo livro de contos, há muito tempo, recebi vários cumprimentos – verbalmente, por telefone, por carta, por todos os meios disponíveis na época, de pessoas que fizeram questão de se pronunciar a respeito, dar a sua opinião. Excelente, pois o termômetro para medir a qualidade do nosso trabalho é o leitor.
Passado algum tempo da euforia do lançamento, recebi outras duas ligações que se destacaram e me fizeram escrever esta crônica. A primeira, de uma pessoa que eu não conhecia e que, tendo comprado o livro, ligou para dizer que se identificou com a verossimilhança dos meus contos, que gostou da maneira como abordei a realidade do cotidiano das personagens – personagens que poderiam existir do lado de cá, de fora dos livros.
E a outra ligação, era de pessoa que eu também não conhecia, muito zangada, indignada, até, porque num dos contos havia uma personagem com características e em situações que guardavam semelhança com alguém de sua família.
O mais importante de tudo isso é a comprovação de que aquelas pessoas leram os livros. Talvez isso não aconteça, ainda, com a frequência que desejaríamos, mas está acontecendo. E agora esse feed back é ainda mais rápido, pois há internet para isso: o e-mail, aplicativos como Whatsapp, Facebook, etc., facilitam a comunicação. Se o leitor entra em contato com a gente para comentar a obra, é porque realmente leu o livro.
Devagar, com bons livros, com boas aulas de leitura e literatura nas escolas, boas bibliotecas, boa literatura infantil – coisa que, com certeza, temos em nosso país – e, principalmente, colocando a criança em contato com livros desde muito cedo, vamos conseguindo atenuar aquela história de que brasileiro não lê. Poderia ler mais, se o preço do livro fosse um pouco menor, mas existem as bibliotecas municipais, de escolas, de associações, de clubes, existem os sebos e as feiras, onde se encontram bons livros que, às vezes, nem existem mais em livrairas.
E se nós, autores, levarmos até o leitor uma literatura que se identifique com ele, que tenha mais em comum com ele, que divida com ele espaço, tempo e costumes, sem que com isso tenha que colocar de lado a criatividade e a imaginação, estaremos colocando o livro mais perto do publico leitor e distanciando-o de pseudas literaturas que grassam por aí.
É verdade que chegar até o leitor não é fácil, pois publicar um livro esbarra em diversos e enormes obstáculos. A edição própria é muito cara e a editoras querem títulos de autores conhecidos, que vendam pelo nome do autor, e a distribuição de autores novos é praticamente inexistente.
Resta a democracia da internet, que tem possibilitado a publicação e projeção de muitos novos escritores, e as editoras sob demanda e on line, que vendem o livro impresso e em e-Book, como Clube de Autores, publicando sem custo para o autor. Elas levam a parte delas quando da venda do livro. É bem verdade que essa parte que elas levam é a parte do leão, bem substancial, mas o espaço é deles, estão colocando, no mínimo, nosso livro na vitrine. Se for bom, venderá. E é assim que se têm revelado autores de best sellers.
O meio eletrônico é acessível a todos e o espaço está lá para quem quiser. Há também a publicação de antologias, tanto impressas como em e-book, o livro eletrônico que já é uma realidade. O sistema de cooperativa, para financiar essas antologias, facilitam um pouco, pois cada um paga uma fatia. Os autores se reúnem, dividem despesas, resultados e trabalho, fazendo lançamentos e colocando o livro debaixo do braço para oferecê-lo ou usando a internet para divulga-los e vendê-los, digitais ou impressos.
A divulgação dos autores novos ou regionais é muito pequena, os veículos de comunicação não dão a cobertura esperada para motivar o autor a continuar produzindo ou o leitor a criar o hábito da leitura. As escolas já não têm, em seu conteúdo programático, espaço para a literatura como havia no passado. Aos poucos, no entanto, esse cenário pode mudar, quem sabe? A Internet, como já dissemos, está aproximando mais o autor do leitor. As revistas literárias sobrevivem às custas de autores abnegados que, muitas vezes, gastam dinheiro do próprio bolso para que as publicações não acabem. Ou então essas revistas precisam contar com colaborações dos autores nelas publicam, para pagar os custos de edição, mesmo passando a ter apenas edições eletrônicas. O importante é que resistam e, quase sempre, nas suas edições eletrônicas, têm acesso gratuito, a exemplo das revistas do Grupo Literário A ILHA, o SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, com 43 anos de circulação, e a nova ESCRITORES DO BRASIL.
Infelizmente as páginas literárias em jornais e revistas são coisas do passado, é um espaço que praticamente deixou de existir. Grandes suplementos literários de jornais não existem mais, como o PROSA, do Globo. Mas há o recurso da Internet, onde os novos podem publicar seus trabalhos, seja em blogs, redes de relacionamento como Facebook, Instagram e outros e em sites literários.
Já disse isso, antes, mas não custa repetir: nós, escritores, precisamos ir às escolas que existem em nossa cidade, ao nosso redor, na nossa região, para divulgar a nossa literatura, a literatura dos autores com quem convivemos e até os consagrados e os clássicos, pois se os leitores em formação conhecerem os escritores perto deles, a obra desses escritores e de outros que forem recomendados, quem sabe não passarão a ler mais, não adquirem o hábito de ler?