Hoje ele toma forma.
Guardei há tanto e nunca mais fui vê-lo, mas hoje ele começa a se realizar.
Deixe-me ver, lembro que coloquei em uma caixa como se para presente fosse e depositei longe do sol, da poeira e dos curiosos.
Bem ali, no fundo daquele armário onde ninguém mexe.
Onde foi mesmo?
Pensava que tinha sido nessa porta.
Ou quem sabe nesta daqui.
Aqui, achei!
A caixa parece um pouco amarelada, mas continua linda.
O laço um tanto amassado, afinal o tempo passou e o coloca e tira das coisas acabou amassando o pobre enfeite.
Mas deixe-me enfim olhar de novo em seus pequeninos olhos.
Ué?
Onde ele foi parar?
A caixa está absurdamente vazia!
Que tristeza, ele sumiu!
E o pior de tudo: não sei como ele era de fato, não tenho como reconstruí-lo nem fazê-lo novamente.
Foi assim que eu descobri que sonhos guardados, mesmo que muito bem guardados, perdem sua forma, seu cheiro, sua essência e, enfim, desaparecem.
Sonhos encaixotados para serem depois “disso ou daquilo” realizados deixam de existir.
Em vez de gavetas, sonhos têm que ocupar paredes, porta-retratos, corações.
Por que sonhos longe dos corações são apenas desejos comuns, que se perdem com o tempo.
Então, deixe-me ir, por que eu, hoje, acordei para realizar meu sonho.