Por: Fabiano de Abreu
Uma portaria publicada nesta sexta-feira pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) está chamando a atenção da comunidade acadêmica de todo o país: Segundo determinação da presidente da entidade, Cláudia Queda de Toledo, todos os 20 integrantes do conselho responsável por avaliação dos cursos de pós-graduação existentes no Brasil foram destituídos do cargo.
O órgão tem como finalidade regular o fomento dos cursos de pós-graduação no país, sendo que atualmente cerca de 5 mil são lecionados nas faculdades brasileiras. No documento, a presidente argumentou que a dissolução ocorreu para corrigir o número de membros do Conselho Técnico-Científico da entidade. O estatuto da entidade previa 18 vagas, mas contava atualmente com 20 membros.
A adoção desta medida vai de encontro com o que há tempos vem alertando a diretora da Escola Superior de Estética Cosmetologia (ESEC), Daniela Valentina López. Ela lembra que até o momento, quem deseja se especializar em uma área após a faculdade, fazer uma pós-graduação é, teoricamente, a melhor opção. “Só que no Brasil, qualquer pessoa que possua um diploma, seja de bacharelado, licenciatura ou tecnológico, pode cursar uma pós lato sensu (especialização) e/ou stricto sensu (mestrados e doutorados) em qualquer área e quantas vezes quiser”.
Sobre esta situação no Brasil, ela acrescenta: “Infelizmente, existe uma zona acadêmica, o qual as próprias instituições criam essa baderna. Não é possível que um fisioterapeuta, por exemplo, exerça as mesmas funções que um esteticista, ambos são de áreas diferentes”. No caso de sua profissão, por exemplo, ela lembra: “Estética não é especialização, estética é profissão, que está desde 2009 na área da saúde e merece sua atenção”, disse a especialista, citando a Lei Federal 13643/2018.
Daniela ainda critica a atuação do MEC nesta frente: “É um absurdo o ministério da educação aceitar que a pessoa com graduação de qualquer coisa faça uma pós-graduação em estética e cosmetologia. Como o nome já diz, pós-graduação é uma PÓS de uma graduação que esse cidadão já tem. Sou graduada em biomedicina e vou ali fazer uma especialização em estética e cosmetologia, por tanto serei esteticista e cosmetóloga? Ou melhor vou ali fazer uma pós-graduação em Direito Penal, serei advogada? Não. Mas, no Brasil, muitos se apoderam do título para exercer ilegalmente outra profissão. Um absurdo, estamos combatendo dia após dia esse crime do jaleco branco, que avassala no sol deste país”.
Quem endossa essa opinião é o PhD, neurocientista, psicanalista e biólogo Fabiano de Abreu. Responsável por um centro de pesquisas, ele complementa: “A pós-graduação em neurociência no Brasil não é boa e nem pode formar cientistas. Em todos os países cientificamente relevantes do mundo, para atuar nesta área a pessoa tem que ter uma graduação equivalente, só depois poderá ter o título da especialização, além de precisar publicar muitos artigos científicos. Em muitos casos, se exige até o doutorado para obter a formação. Há casos de pessoas que se graduaram em marketing, por exemplo, que depois faz um curso em neurociência e já autointitula neurocientista em marketing. Isso é algo completamente errado”, finaliza.
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