Presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, aprova a volta do MDIC, mas acrescenta que a indústria deve ser prioridade se o Brasil pensa em se desenvolver de forma sustentada
Mais do que recriar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) – o que foi proposto pelo governo do presidente eleito –, o Brasil precisa de uma política industrial de longo prazo. É o que acredita o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. Apenas com a indústria como protagonista do setor produtivo é que o país vai conseguir se desenvolver e gerar emprego e renda para a população com consistência.
“Nós achamos importantíssima a recriação do MDIC, com uma estrutura boa, adequada, diretamente ligada ao presidente, claro, mas que também tenha os recursos necessários para fazer um plano, uma política industrial de longo prazo”.
Segundo o presidente da CNI, países desenvolvidos, como os Estados Unidos, Alemanha e Japão, por exemplo, têm investido na indústria após a recessão econômica causada pela pandemia da Covid-19 e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Por isso, o Brasil não pode tomar um rumo diferente, argumenta Andrade.
“Nós precisamos investir fortemente na indústria, principalmente em inovação, tecnologia e nessa política de longo prazo, porque o Brasil precisa ter uma política industrial sólida, eficaz, para que possa fazer com que a indústria brasileira tenha uma retomada grande. Hoje, nós participamos com 22% do PIB e temos condições de chegar a 25% do PIB em três, quatro anos”, acredita.
De acordo com a CNI, a indústria é o setor que tem o maior potencial de gerar riqueza e ainda impulsionar o crescimento econômico do país. Afinal, para cada R$ 1 produzido pela indústria, são gerados R$ 2,43 adicionais na economia brasileira. A agricultura gera R$ 1,75 e o setor de serviços R$ 1,49, para cada real gasto.
Além disso, a indústria, mais do que qualquer outro setor, desenvolve produtos de alto valor agregado, destaca Marco Antonio Rocha, pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Um automóvel, por exemplo, passa pelo setor siderúrgico, metalúrgico, petroquímico, de vidro e de componentes elétricos. Tudo isso vai puxando o trabalho humano em relação à produção de mercadorias e acaba criando um bem final industrial. Quanto maior for sua sofisticação tecnológica, maior valor adicionado e isso também é uma característica muito particular da indústria”.
Política de Estado
Para o professor de Planejamento Industrial na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Luís André Helleno, recriar o MDIC é uma medida secundária. Para ele, a melhor iniciativa a se tomar, não apenas pelo próximo governo, para beneficiar o país é tratar a indústria como um pilar para o desenvolvimento econômico.
“Não existe nenhum país industrializado, nenhum país que a gente considere como um país desenvolvido, que não colocou a sua como um eixo motriz de geração de riqueza, agregação de valor, para realmente desenvolver as tecnologias e as soluções que são necessárias para a sociedade se desenvolver”, afirma.
O professor destaca que não é um ciclo de quatro anos que vai inverter o processo de desindustrialização que o Brasil vem passando desde a década de 1980. Por isso, defende que o desenvolvimento da indústria brasileira seja uma bandeira do país, de Estado, e não fique tão sujeita às mudanças de governo. “Quando um governo A ou B vão se alternando, eles possam fazer os seus ajustes, com as suas intenções, conforme seus planos de governo, mas a gente tem que ter o alicerce, uma espinha dorsal, que é o programa de Estado”.
Segundo Helleno, essa política de Estado tem que levar em consideração quais são as principais características do país e como a indústria pode aproveitá-las para competir em um mercado globalizado, de alta tecnologia e concorrência.