Por Izabelly Mendes
Nos últimos anos, a construção civil tem se reinventado para atender às demandas de um mundo mais sustentável. A crescente preocupação com os impactos ambientais da construção, como a emissão de gases de efeito estufa, o desperdício de recursos naturais e a degradação do meio ambiente, tem levado à busca por soluções inovadoras e ecologicamente corretas. Nesse cenário, os materiais autossustentáveis surgem como uma das grandes promessas para a evolução do setor, representando a nova geração de práticas sustentáveis na construção civil.
A construção civil tradicional sempre esteve atrelada ao uso intensivo de recursos naturais, como madeira, areia, cimento e água, e, embora esses materiais desempenhem um papel fundamental, sua produção e uso geram impactos ambientais significativos. A escassez de alguns desses recursos e o aumento da conscientização ambiental têm acelerado o desenvolvimento de novos materiais que sejam, ao mesmo tempo, eficientes, duráveis e ecológicos.
Materiais autossustentáveis são aqueles que, além de serem ecologicamente responsáveis durante sua produção e utilização, também podem se regenerar ou se adaptar a mudanças, garantindo uma utilização mais inteligente dos recursos ao longo do tempo. Essa abordagem vai além do conceito de sustentabilidade, pois envolve a ideia de que os materiais podem não apenas reduzir impactos, mas também contribuir positivamente para o ambiente.
Um exemplo notável são os materiais biodegradáveis e recicláveis. A utilização de plásticos biodegradáveis, como os feitos a partir de fontes vegetais, tem se expandido no setor. Esses materiais, ao fim de sua vida útil, se decompõem de maneira mais rápida e com menos danos ao meio ambiente em comparação com plásticos tradicionais. Além disso, o uso de materiais reciclados, como vidros e metais provenientes de processos de reutilização, tem ganhado força, reduzindo a necessidade de extrair novos recursos naturais e minimizando os resíduos.
Outro exemplo de inovação são os materiais que utilizam a fotossíntese para melhorar a eficiência energética dos edifícios. Pesquisas recentes têm explorado a criação de superfícies de construção que imitam o processo natural de fotossíntese das plantas. Esses materiais podem absorver e transformar a luz solar em energia, o que contribui para a redução do consumo de eletricidade em construções. Em uma linha semelhante, materiais como as telhas fotovoltaicas têm ganhado destaque, combinando a funcionalidade da cobertura com a geração de energia solar.
Além disso, os materiais de construção que utilizam a autolimpeza estão se tornando cada vez mais populares. Esses materiais, como certos tipos de tintas e revestimentos, possuem propriedades que permitem a degradação de sujeiras e poluentes por ação da luz solar ou pela chuva. Isso não só diminui a necessidade de manutenção constante, mas também reduz o uso de produtos de limpeza químicos, contribuindo para um ciclo de vida mais sustentável das construções.
A incorporação de materiais naturais também está ganhando força. O uso de madeira proveniente de manejo sustentável e o aproveitamento de técnicas antigas de construção, como o uso de terra crua, são práticas que têm voltado à cena com uma nova roupagem. A terra crua ou adobe, por exemplo, é um material que possui baixíssimo impacto ambiental na sua produção e é altamente eficiente no isolamento térmico e acústico, o que torna os edifícios mais confortáveis e com menor consumo de energia.
Além de suas propriedades ecológicas, muitos desses materiais oferecem vantagens práticas, como maior durabilidade, resistência e conforto térmico. O uso de concreto reciclado, por exemplo, tem se expandido, visto que o material é leve, resistente e pode ser feito a partir de restos de construções demolidas, diminuindo a quantidade de resíduos que são despejados em aterros.
A eficiência energética é outro aspecto importante dos materiais autossustentáveis. Com o avanço das energias renováveis, como a solar e a eólica, o setor de construção tem se integrado mais estreitamente com essas fontes de energia, desenvolvendo materiais que ajudam a reduzir a necessidade de aquecimento ou resfriamento artificial. Painéis solares integrados, isolantes térmicos naturais, janelas eficientes e paredes de alta performance são exemplos de como a construção pode reduzir seu consumo energético e sua pegada de carbono.
Os materiais autossustentáveis não apenas reduzem o impacto ambiental durante a sua vida útil, mas também podem contribuir para a regeneração dos ecossistemas e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Ao adotar essas novas tecnologias e práticas, o setor da construção civil dá um grande passo rumo a um futuro mais sustentável, onde a harmonia entre o ambiente natural e as construções humanas não seja mais um objetivo distante, mas uma realidade concreta.
Essa transformação demanda, no entanto, uma mudança de mentalidade por parte dos profissionais da área e da sociedade em geral. Investir em materiais autossustentáveis em obras em andamento pode demandar custos iniciais mais elevados, mas os benefícios de longo prazo, tanto em termos ambientais quanto econômicos, são inegáveis. A implementação dessas tecnologias inovadoras não é apenas uma necessidade urgente, mas uma oportunidade de construir um mundo mais resiliente e equilibrado.
Foto: Izabelly Mendes/ Divulgação