Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela/ Via MF Press Global
Em um mundo onde ciência e espiritualidade frequentemente se cruzam, um recente estudo envolvendo o gene ZAP-70 e sua possível ligação com a mediunidade trouxe à tona debates sobre genética, cognição e a natureza das percepções humanas. Para o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD em Neurociências, especialista em genômica e estudo de caso em relatórios genéticos de inteligência, a narrativa que associa mediunidade a “poderes especiais” deve ser vista com cautela.
A Genética por Trás do ZAP-70
O gene ZAP-70, conhecido por sua função no sistema imunológico e na ativação das células T, foi recentemente associado à mediunidade por um estudo da Universidade de São Paulo (USP). O estudo sugeriu que alterações genéticas nesse gene poderiam tornar algumas pessoas mais sensíveis a estímulos ambientais, levando-as a experimentar fenômenos considerados espirituais ou mediúnicos.
No entanto, o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, cujo próprio sequenciamento genômico foi realizado por instituições renomadas como Nebula (vinculada a Harvard) e TellmeGen (na Espanha), oferece uma perspectiva diferente. Seus resultados indicaram uma predominância de estabilidade nos níveis da proteína ZAP-70, com uma tendência ao aumento, sem evidências de diminuição. Para o Dr. Fabiano, essa estabilidade não está relacionada à mediunidade, mas sim a uma cognição potencialmente mais desenvolvida.
A Conexão entre Genética e Inteligência
O Dr. Fabiano de Abreu Agrela destaca que o seu perfil genético, analisado em estudos de caso e relatórios GWAS, apontou uma predisposição genética alta para extrema inteligência. “A questão aqui não é sobre habilidades sobrenaturais, mas sobre como o cérebro processa informações de maneira mais rápida e eficiente. Pessoas com variantes genéticas específicas podem ser mais sensíveis ao ambiente, mas isso não significa que estejam percebendo algo místico. É, na verdade, uma capacidade cognitiva superior”, afirma o neurocientista.
Entre os genes associados à extrema inteligência, o Dr. Fabiano cita exemplos como ADAM12, além das principais variantes do gene ZAP-70, como:
- rs4680 (COMT): Associado à regulação da dopamina no córtex pré-frontal, o que impacta o controle cognitivo e a tomada de decisões.
- rs1800497 (ANKK1): Relacionado ao receptor de dopamina D2, influenciando a memória de trabalho e o aprendizado.
- rs6295 (HTR1A): Ligado à modulação do humor e ao processamento emocional, o que pode contribuir para uma maior resiliência cognitiva.
- rs11085197 (ZAP-70): Associado à diminuição dos níveis de ZAP-70, o que pode influenciar a sensibilidade a estímulos ambientais.
- chr6:31944593 (ZAP-70): Relacionado ao aumento dos níveis de ZAP-70, sugerindo maior atividade imunológica.
- rs187640760 (ZAP-70): Impacta negativamente os níveis de ZAP-70, podendo reduzir a resposta sensorial.
Um Alerta sobre a Narrativa da Mediunidade
Para o Dr. Fabiano, a interpretação de estudos genéticos como o do ZAP-70 deve ser feita com responsabilidade. “Uma matéria de um estudo como esse deveria não apenas expor as SNPs relacionadas, mas também alertar sobre a narrativa de mediunidade. Precisamos entender que isso tem muito mais relação com uma cognição mais desenvolvida do que com poderes para desvendar algo”, conclui.
Ao revelar a complexidade da genética e ao desvendar os mistérios da cognição humana, o Dr. Fabiano de Abreu Agrela reforça a importância de basear conclusões científicas em dados concretos, evitando interpretações que possam levar à desinformação ou à criação de mitos. A ciência, ao fim, continua sendo a melhor ferramenta para decifrar o que antes era considerado inexplicável.
Foto: Divulgação / MF Press Global