– Mexa-se! Mexa-se!
Ela ali.
Parada, olhar perdido, pernas bambas.
Um dia, sem que o relógio ou o calendário houvessem parado, a Senhora a convida para conversar:
– Minha querida, você precisa se mexer.
Ela, cabisbaixa e lacrimosa, concorda em silêncio.
– O que você tem? Não está feliz?
Levanta os olhinhos cheios de lágrimas e maneia a cabeça com um sorriso há muito escondido.
– Está? Você está feliz? É isso mesmo que quer?
Ainda sem palavras, ela concorda sorrindo, enquanto uma lágrima solitária rola lentamente.
– Então, minha querida! Já que está feliz e é isso que você quer, tem de se mexer!
Ela passa as mãos pelos cabelos como quem tira dali um pó invisível.
Ajeita os ombros, respira fundo e começa a trabalhar.
Telefonemas.
Visitas a sites especializados.
Roupas.
Guloseimas.
Bolo.
Anúncios.
O tempo, que nunca havia parado, passa a velocidade da luz.
Ela, que agora toma providências e decisões, nem nota quando o dia chega.
Tudo pronto.
Entra sorridente.
Andar firme e altivo como se nunca tivesse sido tomada pela agonia.
Tudo lindo.
Perfeito.
A Senhora, que estivera à frente, ao lado e junto todo o tempo, a chama em um canto:
– Tudo isso está belíssimo. Você se mexeu na direção certa. Meus parabéns!
E Ela, que sempre se mantivera em silêncio quando o assunto era sua falta de movimento, sorri:
“Ficava quieta para ter a quem culpar.” – falou na maior naturalidade.
– Como assim?
“Eu tive medo.”
– Então, eu declaro: a partir de hoje, todos os medos que você tiver serão asas. Assim, quando algo que a amedronta surgir, em vez de ficar parada, você vai voar, olhar do alto o que aflige e, quando descer, saberá exatamente o que fazer. Não se preocupe, a partir de hoje será tudo mais fácil.
Elas se abraçaram satisfeitas e foram curtir a festa.