Produção mineral verticalizada amplia receita e reduz impactos ambientais
Por: Assessoria de comunicação – Ascom/Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM
No primeiro semestre de 2022, o vanádio foi um dos três principais minerais exportados pela Bahia, juntamente com o ouro e o níquel, segundo o Sumário Mineral de Julho, divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE). O estado baiano é o único produtor de vanádio do Brasil e esse ineditismo se ampliará com a geração de outros produtos resultantes do próprio mineral, sem provocar novos impactos ambientais.
A empresa responsável pela produção é a Largo Vanádio de Maracás, que é destaque mundial por exportar produtos oriundos de um dos depósitos de vanádio de maior teor do mundo, em áreas descobertas pela CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral). A empresa produz pentóxido de vanádio, trióxido de vanádio e ferrovanádio e, desde 2018, tem feito investimentos em pesquisas com foco na economia circular e no aproveitamento de resíduos gerados pela produção do vanádio. A mineradora tem dois projetos em fase implantação: a produção de ilmenita, em Maracás, e a fabricação de pigmento de titânio no Polo Industrial de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Só com o processo de reaproveitamento do sulfato de sódio, previsto para 2023, a expectativa da empresa é a redução de 20 mil toneladas de resíduos por ano.
“A estratégia da Largo é verticalizar sua produção, com dois principais objetivos: reduzir a geração de rejeitos e ser a primeira empresa a colocar no mundo uma produção de bateria de vanádio como algo viável economicamente, possibilitando a transição do mundo para um mundo com menor impacto ambiental, menor emissão de carbono e de gases do efeito estufa”, disse o coordenador de produção da mineradora, Ítalo Araponga, durante o 4º Seminário de Mineração da Bahia, realizado em Jacobina.
Segundo Araponga, já existe mão de obra contratada e em treinamento para o início das operações no ano que vem. A Largo destaca que haverá aumento da vida útil das bacias de rejeitos, crescimento de receita para a empresa e da arrecadação de impostos, além do aumento da reserva mineral.
“No caso do titânio, por exemplo, haverá um novo produto sem a geração de um novo impacto ambiental, é algo que vai gerar mais emprego, mais renda. Nesse caso do pigmento específico, dois terços de dióxido de titânio (TiO2) consumido, hoje, no Brasil são importados, principalmente da China. Então, nós estamos falando de trocar um produto, que gera renda e emprego lá, por outro que vai gerar mais postos de trabalho e fazer girar a economia daqui,” diz Heitor Duarte, gerente de P&D da Largo.
Debate sobre uso de resíduos é fundamental
Os projetos desenvolvidos pela Largo dialogam com a defesa da CBPM de que o setor deve atentar para as potencialidades da geração de subprodutos da mineração. A partir dessa temática, a companhia tem realizado uma série de debates sobre o aproveitamento de resíduos da mineração na agricultura, na construção civil, na indústria química, entre outros.
“As iniciativas da CBPM são muito importantes, não só no sentido econômico, mas no aspecto ambiental mesmo, porque estamos falando de um tema muito polêmico, porque a mineração gera muitos resíduos e rejeitos que precisam ter um reaproveitamento. A reutilização desses materiais numa expressiva quantidade, evita que ele seja descartado em pilhas, barragens de rejeitos com risco de acidentes, riscos de contaminação do solo e lençóis freáticos. Então, para o meio ambiente esse é um tema essencial para ser debatido”, diz Leonardo Carneiro, diretor de Regularização Ambiental do INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos).
“É preciso investimento e integração entre as indústrias”
Na Bahia, instituições como o SENAI CIMATEC, em parceria com empresas privadas, têm realizado estudos sobre aproveitamento de resíduos de várias substâncias. Uma delas se refere aos processos de produção de Terras Raras, que são oriundas dos rejeitos do processamento da argila. Essas substâncias minerais podem ser usadas na fabricação de superímãs, eletrônicos, indústria aeroespacial, energia, entre outros. As equipes regionais do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) na Bahia também têm pesquisas relacionadas ao uso de resíduos da mineração na agricultura, sendo estes provenientes de rochas, como o “Projeto Calcários da Bahia” e o “Projeto Agrominerais da Região de Irecê-Jaguarari”. Apesar disso, a fabricação e o uso de subprodutos da mineração ainda não são correspondentes ao potencial que o setor possui.
A geóloga Ana Fábia Mattos, assessora técnica da CBPM, traz o exemplo do mármore Bege Bahia, que é produzido nas cidades de Ourolândia, Mirangaba e Jacobina. Segundo ela, do material que é retirado do solo, em média, apenas 30% é aproveitado para a comercialização, os outros 70% são rejeitos. “Já foram realizados estudos sobre o Bege Bahia que mostram que o rejeito da rocha é composto predominantemente por calcário. Essa substância e suas derivações podem ser usadas como corretivo de solo, na composição de materiais usados na construção civil, na indústria siderúrgica e alimentícia, entre outros”, destaca Ana Fábia.
Além do calcário, outra substância que pode ser aproveitada é a sílica (dióxido de silício), que é encontrada em rochas, areias, quartzo, quartzito e em outros materiais, podendo ser utilizada pela indústria química em diversas aplicações comerciais (tintas, plásticos, cosméticos entre outros). Outro exemplo de uso variado é do manganês, que é usado na fabricação de ligas metálicas e também pode ser usado no preparo de comida animal, entre outras aplicações.
“Um mineral pode ser plenamente aproveitado. O que observamos, atualmente, é a falta de divulgação das pesquisas, a falta de conhecimento das empresas sobre o potencial de beneficiamento, aplicação e comercialização dos subprodutos da mineração. Os estudos existem, mas é preciso investimento e integração entre as indústrias locais, além de infraestrutura”, explica a geóloga.
Mineração investe em sustentabilidade
Segundo o IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), 40,44 bilhões de dólares devem ser investidos no setor mineral até 2026. Desse valor, mais de quatro bilhões estão direcionados a projetos socioambientais, alguns deles em andamento. As iniciativas relacionadas à responsabilidade social na mineração fazem parte da colaboração de empresas e instituições para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, que são metas elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para proteger o meio ambiente e promover o bem para a humanidade. Dos 17 ODS, os números 11 e 12, entre outras coisas, apontam para o reaproveitamento de resíduos da mineração e para a redução da produção de rejeitos, respectivamente.
De acordo com especialistas, o aproveitamento de resíduos consiste em dar valor agregado a um material que só possui despesa associada. A prática de reuso promove a formação de uma nova cadeia de negócios e a inserção de uma política mais sustentável nas empresas.
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