É um grito, uma cicatriz aberta
Por Janary Damacena/ Agência Voz
Outros Jeitos de Usar a Boca não é apenas um livro de poesia — é um grito, uma cicatriz aberta, um sussurro de dor e cura em que a autora Rupi Kaur nos conduz por uma jornada intensa, de versos curtos, mas carregados de significado e que parecem tentar falar diretamente com a alma. As palavras por todas as poesias não têm mistério, não se escondem atrás de metáforas inalcançáveis ou palavras difíceis. Ao contrário, elas tocam feridas que muitos preferem ignorar. Com uma escrita visceral, a autora transforma a dor em arte e experiências em sobrevivência, revelando o impacto do abuso, da perda, do amor e da redescoberta de si mesma.
A obra se divide em quatro partes: a dor, o amor, a ruptura e a cura. Na primeira, a autora dá voz às feridas profundas da violência e do abuso, escancarando situações que a sociedade tantas vezes silencia. Em seguida, mergulhamos nos encantos do amor, nas delícias do desejo, no acolhimento de um relacionamento amoroso. Mas, assim como a vida, as poesias aqui não se prendem à idealização, então a terceira parte nos arrasta para a ruptura — o fim de algo que já não faz mais sentido, a frieza da despedida, as tentativas frustradas de segurar o que escapa pelos dedos.
Quando tudo parece perdido, chega a cura. E é quando Rupi ressurge, reconstruída, celebrando sua própria força. Seus versos se tornam um afago direcionado às mulheres que um dia se sentiram pequenas, insuficientes, quebradas. E assim a autora resgata suas raízes, exalta sua cultura indiana e enaltece a mulher em suas múltiplas formas. É um renascimento que não apaga a dor do passado, mas a transforma em aprendizado. Publicado inicialmente de forma independente, Outros Jeitos de Usar a Boca se tornou um fenômeno, conquistando leitores pelo mundo. Em sua poesia, há uma eterna lembrança de que a dor pode nos moldar, mas não tem o poder de nos definir.
Foto: Redes Sociais Rupi Kaur/ Reprodução