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Motivação para o brutal assassinato de líder sem-terra gera controvérsias. Governador diz que foi “crime de mando”

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O brutal assassinato do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Márcio Oliveira Matos, 33, ocorrido na noite do último dia 23, no Assentamento Boa Sorte Una, no município de Iramaia, na Chapada Diamantina, já estaria sendo politizada e servindo de mote para acirrar os ânimos de lideranças de diferentes correntes ideológicas.

Enquanto as autoridades policiais trabalham para desvendar a motivação de crime e, embora sem descartar qualquer hipótese, a princípio entendem que o líder sem-terra teria sido assassinado em uma tentativa de assalto, lideranças políticas e de movimentos sociais estão convencidas de que Matos teria sido vítima de um crime a mando, uma execução motivada pela atuação da vítima na luta pela terra.

Segundo declarações publicadas no Portal de Notícias Correio 24Horas, no dia 26, atribuídas ao titular da 9ª Coordenadoria de Polícia Civil do Interior (9ª Coorpin), de Jequié, responsável pelas investigações, Bel. Fabiano dos Santos Aurich, os homens teriam chegado à casa do líder sem-terra pedindo dinheiro, mas saíram do local do crime sem levar nada de valor. Ainda segundo o Correio 24horas, Aurich teria afirmado que a Polícia trabalha com várias linhas de investigação e que algumas pessoas já foram ouvidas e o local do crime periciado. Nos depoimentos já colhidas a Polícia Civil não teria sido informada de que Márcio Matos tivesse ou viesse sendo ameaçado, o que descartaria, a princípio, a vingança ou disputa por terras como motivação para o crime.

Um dia depois da divulgação das declarações atribuídas ao Coordenador da Polícia Civil encarregado das investigações, visivelmente emocionado ao sair do velório do líder sem-terra, em Vitória da Conquista, o governador do Estado, Rui Costa dos Santos (PT), foi incisivo ao creditar a motivação do crime às disputas por terras na região, descartando a hipótese defendida pela autoridade policial. “Foi crime de mando”, enfatizou o governador, reafirmando que espera que os assassinos e mandantes sejam identificados e presos o mais rapidamente possível. “Foi um crime de mando contra um militante, um trabalhador rural, um militante do MST, um militante político, que foi assassinado por crime de mando, não foi crime econômico”, insistiu Costa, lembrando que ainda na noite do dia 22, ao ser informado do ocorrido, teria imediatamente determinado a formação de um grupo de advogados e investigadores para apuração do delito. “(…) Espero que o mais breve possível nós consigamos identificar não só quem executou, foram duas pessoas, mas também quem contratou ou quem encomendou o assassinato de Marcinho que, de forma cruel, foi morto na presença de seu filho de seis anos de idade”, afirmou o governador.

Costa subiu o tom ao fazer uma análise crítica da situação social que o País experimenta, afirmando que, como “como pai que sou de quatro filhos, como ser humano, cidadão baiano e brasileiro, muitos dedicam sua vida a construir um Brasil melhor, que rezo todos os dias para que o Brasil possa superar, deixar no passado esta maldita herança escravocrata, que persiste até hoje na cabeça de alguns brasileiros, de vários níveis, vários setores sociais e várias regiões brasileiras. A herança escravocrata que se expressa no preconceito, no racismo, na discriminação, no tratamento arbitrário das instituições, que deveriam tratar de forma igual e harmônica os cidadãos brasileiros, que se expressa na discriminação de quem é empregada doméstica, que pelo simples fato de ter uma carteira assinada, de ter horário para entrar e sair do seu trabalho, é motivo de indignação daqueles que as contrataram”, apontou o governador.

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