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Mulheres-Poemas

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Estou envolvido com literatura há muito, muito tempo, desde que eu era menino, pois quando tinha quatorze ou quinze anos eu já escrevia, até ganhei um concurso de contos em uma revista, com prêmio em dinheiro. Então continuei a escrever, que o incentivo foi bom e passei a escrever crônicas, também, que publicava no jornal da minha cidade, na cidade vizinha, e nos jornais dos Diários Associados de Santa Catarina.

Quando cheguei à faculdade, publiquei meu primeiro livro, fundei um jornal, e lançamos um suplemento literário, para publicar as colaborações do leitor: contos, crônicas, poemas. Assim nasceu o Grupo Literário A ILHA, da necessidade de abrir espaço para novos escritores. E já lá vão 37 anos.

De maneira que estou às voltas com literatura quase toda a minha vida. E nesta caminhada, tenho visto novos poetas aparecerem, sempre, alguns bons, outros nem tanto, alguns melhorando o fazer poético e se tornando bons poetas, outros desistindo por falta de talento, dedicação, talvez por falta de ler mais e escrever mais, sei lá.

Então me integro à Confraria do Pessoas, grupo de poetas que começou com quatro de nós e hoje já  somos nove. E percebi alguns detalhes nos integrantes da Confraria. Primeiro, a maioria é de meninas. Meninos, só eu e o Roney. Outro detalhe importante: das sete meninas, duas já são veteranas nas letras, a Norma e a Fátima de Laguna. Mas as novas poetas – poetisas, eu sei! – que coisa fenomenal! Elas já chegaram com a poesia pronta, com o olhar de poeta, com a alma de poeta, com o coração de poeta! Eu fiquei pasmo, maravilhado com a qualidade da poesia de nossas novas confreiras, com o talento, com a vocação poética. Eu me encanto – e não só eu – a cada novo poema que elas mostram. E não canso de me perguntar: onde estavam essas poetas tão poetas, tão cheias de poesia, todo esse tempo, sem que lhes soubéssemos da suprema inspiração?

Elas chegaram arrasando, algumas até com aquele receio inicial e natural de mostrar o que estavam poetando, e se poesiaram. Sim, elas se poesiaram, pois elas, verdadeiramente, começam a personificar a poesia. E eu agradeço a Deus por elas existirem, por saber delas, por poder usufruir de suas sensibilidades e lirismo, coisas que elas têm de sobra.  E olhem que sou exigente, não estou sendo condescendente nem gentil: são poetas de verdade, que eu admiro. Estão aí para provar isso a audiência da revista Suplemento Literário A ILHA, que publicou uma edição com todos os poetas da Confraria, das páginas do Grupo no Face e das páginas de jornais.

Chris Abreu veio vindo de mansinho e se revelou gigante na sua magnitude poética. Sua serenidade constrasta com a sua poesia forte, consistente, universal. Chegou esbanjando poesia, sensibilidade, lirismo. A poesia flui dela naturalmente, com uma facilidade invejável. Ela se poesia. Como em “alongo os músculos / dos sentidos, / desprendo os ferrolhos do olhar, /…/ permito-me desabrochar…” Ah, Chris, eu também quero aprender a desprender os ferrolhos do olhar… Ou como em “Recria o arco-íris / com tuas cores exuberantes / fecunda nossa existência /com o pólen da paz.” Ou ainda “A vida se guarda / para na próxima alvorada / reverdecer.” Reverdeçamos, Chris. E por aí afora, tantos outros grandes versos e grandes poemas que seduzem a gente.

Denise de Castro, outra poeta de mão cheia, chega e leva a gente de roldão no impacto da sua tecitura poética. A poesia viva, pulsante, transbordando sentimento. Onde estavam esssas poetas que a gente não tinha vivido, ainda, a sua poesia grandiosa? Denise é plena de inspiração e de criação e sua poesia enleva a gente, que se encanta com versos como este: “A menina espera na janela / alguém que lhe faça amanhecer.” Ou como este: “Lanço-me no ar como um instrumento / semeando pequenos pedaços de sonora paz.” Verdade, você é um instrumento da paz, através do seu canto, através da poesia. Poesia assim: “Vou ali me encontrar com a poesia / Sei seu endereço: Rua da Solidão, esquina com Travessa da Alegria…” Ou “Atravesso o oceano / e me encontro com Pessoa… / Há em mim muito mais / do que as calçadas de Lisboa.” Há, sim.

Cláudia Kalafatás, com esse nome bonito de poeta, é poeta com certeza. E chegou jogando poesia de verdade, sentida e vivida, em cima da gente. Privilégio poder usufruir da sua criação, poder recriar a força da sua poesia. Mais uma grande poeta que se nos revela, trazendo todo um universo em versos, ritmo, sensibilidade e emoção. Como em “Valsa e rapsódia / comungam meu viver / sensibilidade e poesia / querem ocupar o lugar…”. Já ocuparam, Cláudia. Sua obra prova isso. E tem mais, muito mais, como em “Quero que meus olhos / contem aos teus / o quanto me és”. Quem mais diria isso dessa maneira? Só Cláudia. Como, também, em “Sorvo minha tristeza / para garantir que você não veja / que meu silêncio te quer por perto.” E, ainda, em “Me empreste a vida / que habita o teu olhar.” Pra quê, Cláudia, se há tanta vida e tanta poesia em seu olhar?

Rita Marília eu já conhecia um pouquinho antes da Confraria, já lhe tinha sorvido a poesia em goles pequenos. Mas espantei-me com a sua maturidade poética, descobrindo bem mais da sua poesia, com sua admiração pelo poeta Manuel de Barros, o grande poeta que acho que a ajuda a ser grande também. Rita é profunda e densa, como em “Vida é amor represado / Morte, amor trans-bordado…”.  Rita, eu vejo e entendo “o brilho das estrelas / no seu olhar.” Ou então, dando continuidade à poesia do mestre: “Quando me escondo na lua de lata e o vento me empina como pandorga, minha cabeça salta de estrela em estrela para pegar uma e amarrar na cabeleira do cometa.” Ou ainda: “Eu fiquei rindo porque minha irmã não sabe que chorar também faz rio.” A sua poesia também me faz rio, Rita, a transbordar pelo universo.

Marli Lúcia Lisboa, a poeta Bulucha, chega com a sua poesia pejada de romantismo para nos lembrar que a poesia é irmã gêmea do amor. A paixão pelo mar, a fé na vida, são outras fontes de inspiração.  Bulucha não escreve de hoje e ao se juntar a nós, da Confraria do Pessoas, trouxe uma obra vasta. Na edição especial da revista Suplemento Literário A ILHA com os poetas do novo grupo, Bulucha não podia faltar. E após a leitura da revista, o professor Celestino Sachet deu destaque à poesia dela, consolidando o valor poético que já conhecíamos: “Duas almas, dois seres, uma vida! / Viver tão só, me dê a mão! / Águas que passam, água infinita / Águas tristes, águas frias, chuva de verão…” Com esse aval, não é preciso dizer mais nada. Só assinar em baixo da aprovação desse outro mestre.

E muito mais eu poderia mostrar dessas grandes mulheres poetas, que se revelaram tão fantasticamente para nós, seus leitores e admiradores. Há que lermos e sentirmos a sua obra.

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