Mulheres quilombolas lideram preservação e empreendedorismo na Amazônia
Por Carbonext
Gurupá (PA), 16 de janeiro de 2025 — Na imensidão da Amazônia paraense, mulheres quilombolas estão escrevendo uma nova história de protagonismo e resistência. No município de Gurupá, o projeto AWA, uma iniciativa pioneira do mercado voluntário de créditos de carbono, está unindo preservação ambiental, combate às mudanças climáticas e geração de renda sustentável. Essas ações, lideradas pela Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo de Gurupá (ARQMG) em parceria com a Carbonext, mostram como a força feminina pode transformar a realidade local, protegendo 73 mil hectares de floresta e promovendo o desenvolvimento econômico.
Durante a última expedição do projeto, realizada entre 22 de novembro e 1º de dezembro de 2024, as comunidades quilombolas receberam treinamentos, equipamentos e oficinas que fortalecem tanto a gestão territorial quanto as oportunidades para as mulheres. Dois exemplos de destaque são as iniciativas “Filhas da Mãe do Fogo” no projeto AWA e o “Sabores do Quilombo”, que têm mobilizado lideranças femininas para conservar a floresta em pé e incentivar o empreendedorismo local.
“Filhas da Mãe do Fogo”: proteger para transformar
A brigada de incêndio feminina do projeto AWA já é um orgulho de Gurupá. Nascida a partir da iniciativa “Filhas da Mãe do Fogo”, do Observatório do Clima do Marajó, a brigada reúne mulheres da comunidade ARQMG, proponente e beneficiária do projeto. As moradoras tiveram um primeiro contato com a iniciativa do Observatório há cerca de um ano e meio atrás e decidiram incorporar a brigada de incêndio feminina no território do AWA, com o apoio da Carbonext.
Durante a última expedição ao projeto, 26 mulheres participaram de um treinamento intensivo para brigadistas, ministrado por bombeiros especializados. Elas aprenderam técnicas de combate a incêndios, noções básicas de primeiros socorros e receberam equipamentos como mochilas costais, abafadores, ferramentas, EPI (camisa e calça de campo, bota, respiradores, óculos, balaclava) e todo o insumo necessário para atuar no combate às queimadas.
“O que estamos fazendo aqui é mais do que apagar incêndios: é proteger o que é nosso e garantir o futuro da floresta para as próximas gerações. Isso mostra que as mulheres também podem liderar e cuidar do território”, destaca Regiane Machado, uma das líderes do grupo. Essa capacitação foi fundamental para formalizar a atuação das brigadistas dentro do projeto AWA. Além de fortalecer a segurança ambiental da área, o grupo representa um símbolo de autonomia e resiliência, mostrando como as mulheres podem ser protagonistas na conservação do meio ambiente.
Sabores do Quilombo: geração de renda com identidade amazônica
Enquanto algumas mulheres se destacam na proteção da floresta, outras têm transformado os recursos naturais em oportunidade de empreendedorismo sustentável. O grupo “Sabores do Quilombo” é formado por mulheres que se dedicam à produção artesanal de biscoitos e bombons de castanha do Brasil. Durante a última expedição, 36 participantes participaram de oficinas voltadas ao aperfeiçoamento técnico, abordando boas práticas de manipulação de alimentos, rotulagem e gestão de negócios.
Lucinete, uma das participantes, já viu sua vida mudar. “Com o que aprendi, consegui abrir uma microempresa familiar, junto da minha irmã Benedita e nossa matriarca Carmelena. Pretendemos fornecer biscoitos para a merenda escolar do município. É muito gratificante saber que isso está gerando renda e ao mesmo tempo valorizando nossa cultura enquanto mulheres amazônidas, rurais e quilombolas”, conta ela, emocionada.
Além do treinamento, o grupo recebeu um kit completo para equipar uma cozinha profissional, incluindo forno e mesas de inox. A entrega desse material permitirá que as mulheres elevem o padrão de qualidade de seus produtos e aumentem o alcance de suas vendas. “Em abril, o grupo participou da Feira de Negócios do Cooperativismo (Fencoop) em Belém e vendeu todos os biscoitos que tinham em menos de um dia. Essas mulheres são a prova viva de que o desenvolvimento sustentável pode ser liderado por quem está na linha de frente da Amazônia”, comenta Lana Farias, coordenadora social da Carbonext.
Projeto AWA: conservar a floresta, fortalecer comunidades
O projeto AWA, cujo nome significa “Espírito da Terra” no idioma quimbundo, é a primeira iniciativa brasileira no mercado voluntário de créditos de carbono gerida integralmente por uma população quilombola. Seu objetivo principal é reduzir as emissões de gases de efeito estufa por meio da conservação de florestas nativas ameaçadas pelo desmatamento. Desde seu início em 2022, o projeto já beneficiou mais de 2.300 quilombolas, com ações que promovem a autonomia comunitária e a sustentabilidade econômica.
“A comunidade quilombola não é apenas beneficiária do AWA, ela é a dona do projeto e dos créditos gerados. Isso é o mais importante: a floresta está sendo protegida por quem realmente vive e cuida dela”, conclui Lana Farias.
A última expedição ao projeto trouxe ainda avanços significativos, com 11 atividades realizadas, beneficiando diretamente 121 quilombolas e fortalecendo cinco grupos locais. Essas ações não apenas preservam a floresta, mas também mostram que o futuro da Amazônia passa pelas mãos de quem mais entende a importância de mantê-la em pé.
Fotos: Divulgação/ Carbonext