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Napoleão Bonaparte, o jornalismo da obediência e a grandeza de Manuela D’Ávila

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Se existe uma peremptória percepção de que o jornalismo da Rede Globo de Televisão, não vem fazendo nos últimos quatro anos outra coisa senão propaganda política contra as forças políticas de esquerda, em vez de jornalismo propriamente dito, isso pode até ser compreendido porque a Globo é comercial e faz propaganda de quem lhe paga, porque não existem regras claras no Brasil sobre o assunto. Mas não pode ser compreendido e nem sequer tolerável numa suposta democracia, uma televisão estatal do porte da TV Cultura fazer o que fez na última segunda-feira em seu programa de entrevista Roda Viva com Manuela D’Ávila.

Ninguém deve se iludir que existe jornalismo com profissionais que não tenham opinião política própria, porque isso é prerrogativa da democracia. Mas jornalismo que escolhe fazer opinião apenas parcial não é jornalismo, é jornalismo da obediência. O Roda Viva ao interrogar como polícia a pré-candidata do PCdoB à Presidência, Manuela D’Ávila, deixou de ser talvez o melhor espaço de debates que a sociedade brasileira já teve em todos os  tempos. Não é jornalismo convidar uma mulher do porte intelectual de Manuela para expor suas idéias, e colocar como entrevistador um representante de outro pré-candidato com idéias totalmente contrárias, e ter um mediador que fica rindo da sua entrevistada, permitindo que ela seja interrompida 68 vezes num espaço de apenas uma hora de conversa.

O jornalismo conservador sempre teve lado, isso é fato! Mas em tempos de total liberdade de escolhas ele deve ser obrigado a respeitar os diferentes, pois não pode ser como aqueles jornais do tempo de Napoleão Bonaparte, em que apenas um espaço dizia o que o povo deveria ouvir.  Para lembrar, quando Napoleão fugiu da Ilha de Elba e desembarcou no Golfo Juan, o maior jornal da França escreveu em sua manchete principal: “O bandido corso tenta voltar à França”; quando o bandido corso alcançou o meio caminho de Paris, o mesmo jornal escrevia: “O general Bonaparte continua sua marcha rumo à Paris”; quando o General Bonaparte se encontra a um dia de Paris, o jornal dizia: “Napoleão segue sua marcha triunfal”; quando Napoleão entrou na capital de seu império perdido, o periódico arrematou o processo de sua informação com esta manchete: “Sua Majestade o imperador entrou em Paris, sendo entusiasticamente recebido pelo povo”.

Lembrei disso para dizer que o que fizeram com Manuela D’Ávila no Roda Viva da TV Cultura não se difere em nada do que faziam os jornais da época de Napoleão, com a diferença de que naquela época não havia diversidade jornalística como hoje. O que fizeram com Manuela é para se repensar esse jornalismo torno dos jornalões no Brasil, que acham que somente eles é que devem exercer o poder de influência política e de escolhas, e principalmente tomar literalmente conta, como se fossem os donos, do dinheiro público e das estatais públicas de comunicações, para fazer não jornalismo, mas jornalismo da obediência e da perseguição política contra pessoas e projetos políticos que têm o apoio da maioria do povo brasileiro.

Não defendo a censura e o cerceio da liberdade de expressão, defendo a regulação econômica e a criação de regras claras de respeito às diferenças e a imparcialidade na formação de idéias e opinião, e principalmente o fim do monopólio das comunicações no Brasil. E chamo à atenção aos pré-candidatos à Presidência da República de esquerda, que ao serem convidados para participar destes programas televisivos, dialoguem primeiro para ver quem são os mediadores e entrevistadores, porque senão quem está certo em não ir a debates é Jair Bolsonaro, que ainda tem o direito de colocar seus assessores como entrevistadores de seus adversários. Aí tem coisa!

Não esquecendo ainda que os representantes do DOPS moderno da TV Cultura pensaram que ao interrogar Manuela D’Ávila sobre coisas do passado de Josef Stalin e de Mao Tsé-Tung, e de outros países que nada dizem respeito aos problemas brasileiros que devem ser debatidos nesse processo de pré-campanha eleitoral, encontrariam uma mulher fraca e despreparada, que somente é candidata para se aparecer em público como os artistas da Rede Globo. Manuela D’Ávila em meio aquele estúpido interrogatório policial demonstrou a grandeza de ser capaz de governar esse país sendo Presidente da República, compreendendo os diferentes e trabalhando para todos.

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