Um autor chamado Isaac de Nínive, ele nos diz a seguinte palavra: “Esforça-te por encontrar o tesouro que está dentro de ti, e assim verás os tesouros celestes. Pois aquele e estes são a mesma coisa. Ao entrares verás uns e outros. A escada para o reino dos céus está escondida em tua alma. Salta do pecado para o mergulho em ti mesmo, e assim irás encontrar a escada por onde poderás subir”. É muito importante para nós percebermos que a nossa vida é sempre uma mistura de luz e de sombras. Existe ainda hoje, e existiu mais nos tempos passados, uma pregação que dizia que nós devíamos nos afastar do mundo para chegar a Deus. Então, te afasta de toda a realidade de pecado para chegar a Deus. Como é possível isso? O que se percebe a partir desta primeira palavra, que o caminho para Deus é o de ser a própria realidade. O salto para o mais profundo de si mesmo ocorre a partir do pecado. Precisamente, o pecado é capaz de forçar-me a abandonar os ideais construídos por mim mesmo e mergulhar nos abismos de minha alma. Ou seja, quando eu percebo o meu pecado, aí eu percebo que não sou tão forte, que não sou o melhor que eu preciso de Deus. Aí, eu me encontro com o meu coração e ao mesmo tempo com Deus. Aí encontro a escada pelo qual posso subir até Deus. Por isso, a espiritualidade mais sadia é essa que percebe que nas quedas há oportunidade para avançar em Deus. Um outro abade dizia assim: Tua queda, diz o profeta Jeremias, te há de educar. Precisamente a queda, o fracasso e o pecado podem ser para nós o pedagogo que nos guia no caminho para Deus. É justamente nas dificuldades que encontramos Deus, ou também as falhas e fracassos tem o seu sentido para nos impulsionar na busca de Deus. Por mais graves que sejam os males, não podemos deixar que nosso ânimo fique abatido, pois tudo está sujeito à divina providência e serve para que o nosso caminho seja um caminho de luz, de superação e de encontro. Por isso a espiritualidade que faz bem ao coração é aquela que me faz ir ao encontro com a minha própria realidade, ou precisamente com as falhas e os fracassos, para que assim nós cheguemos até Deus. Não dá para mostrar para Deus só aquilo que em nós é luz, precisamos mostrar para Deus
também aquilo que em nós é sombras. Aí o encontro é verdadeiro. Que o Senhor seja a nossa força, que nós possamos encontrá-lo e sentir que nele há sentido para a vida.