Naquela pequena mala levava todos os seus pertences.
Nem sempre fora assim.
Tinha casa e tudo que era preciso para encher uma.
Mas agora, não mais.
O que enchia a casa?
Vendera, doara, deixara para trás, esquecera.
Agora, seu mesmo, só o que conseguia carregar.
Ao descer do avião ninguém a esperava.
Prestou atenção ao que conversavam ao seu redor e não compreendeu uma só palavra.
Língua desconhecida.
País desconhecido.
Pessoas desconhecidas.
Ela decidira o que acreditou ser o melhor para si.
Ao encarar tudo a sua volta teve outra vez a mesma sensação de hora do embarque, quando se despediu de seus amores: um frio na barriga sem tamanho misturado com vontade de se encolher em sua zona de conforto.
Estufou o peito.
Fora recomeçar.
Sozinha.
Completamente sozinha.
Não tinha para onde voltar.
Queimara todas as suas pontes.
Tivera oportunidade de recuar, continuara.
Aquele caminho que escolhera trilhar não tinha retorno ou opção de marcha ré.
Era somente para frente.
Ainda com medo, e com o frio subindo e descendo pela sua barriga, parou em frente ao espelho mais próximo.
Ficou olhando nos olhos daquela criatura assustada que a encarava e tomou sua posição de coragem: peito estufado, mãos na cintura, queixo levantado.
E assim, empoada como a Mulher Maravilha sem a roupa vermelha, declarou na língua que ninguém ali entendia:
“Você veio tão longe para realizar seus sonhos e ser feliz. Não saiu do meu país pra vir ter medo em terra alheia!”
Pronto!
Saiu do aeroporto como quem pisa no próprio chão e com cara de vencedora foi rumo ao desconhecido!