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Número de crianças hospitalizadas com desnutrição volta a crescer no Brasil

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Mais de 43 mil menores de cinco anos foram internadas no SUS por desnutrição nos últimos 10 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria

Por: Nathália Ramos Guimarães/Brasil 61

O Brasil não avançou no combate à desnutrição infantil nos últimos 10 anos, aponta estudo da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Segundo o levantamento, deficiências nutricionais levaram à internação hospitalar de mais de 43 mil crianças menores de cinco anos.

De acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares, do Ministério da Saúde, somente na rede pública foram registradas quase 400 mil hospitalizações motivadas pela desnutrição. Cerca de 28,6 mil foram de crianças menores de 1 ano e outros 14,7 mil casos envolveram crianças entre 1 e 4 anos. A proporção de internações de menores de 5 anos cresceu, passando de 8%, em 2012, para 16%, em 2021, e 18%, em 2022.

Imagem: Sociedade Brasileira de Pediatria

Para a SBP,  a crise econômica, a pandemia de Covid-19, a piora da renda das famílias, o aumento do preço dos alimentos, as condições de moradia e de saneamento básico e a queda das taxas de imunização são alguns fatores que podem ter contribuído para a piora do quadro de hospitalizações de crianças associadas à desnutrição.

O nutricionista Eduardo Lustosa aponta que as crianças mais acometidas com desnutrição são de locais com menores níveis de desenvolvimento socioeconômico e populações mais vulneráveis. “E isso é um problema gravíssimo, porque ele atinge principalmente os pretos e pardos. Então isso também mostra a questão do contraste social onde a população mais pobre é mais atingida pela falta de renda, pela falta de instrução, pela falta de oportunidade. Isso é a consequência de anos e anos de uma desigualdade social, de falta de emprego”, informa.

Segundo Lustosa, esse cenário gera crianças desnutridas que vão crescer doentes, e o ciclo deve se repetir por gerações. Por isso, é importante combatê-lo.

A nutrição infantil está associada também à materna, de acordo com Paloma Popov, professora de Nutrição do Centro Universitário de Brasília (CEUB). “Então se mãe tem um quadro de desnutrição, foi usuária de drogas, alcoólatra, ou que tenha alguma patologia associada, o HIV positivo por exemplo, existe uma propensão da criança a nascer desnutrida”, alerta.

Popov ainda afirma que a desnutrição infantil mais comum no Brasil é a proveniente da falta de calorias e que muitas vezes não apresenta muitos sinais da condição.

Já a nutricionista materno infantil, Dyandra Loureiro, informa que 15,5% da população brasileira sofrem com insegurança alimentar grave, que afeta de forma mais frequente e intensa as crianças.

O Departamento Científico de Nutrologia da SBP aponta problemas que essa condição pode causar. “Crianças que sofreram com desnutrição no início da vida também podem apresentar prejuízo do desenvolvimento neuropsicomotor e aumento do risco para desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis como diabetes, hipertensão e, inclusive, excesso de peso.”

Loureiro afirma que essas consequências da má nutrição no início da vida ainda podem ser transmitidas às próximas gerações.

Como evitar?

Para conter o avanço da desnutrição no Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a geração e ampliação de políticas públicas que levem mais investimento a ações de promoção à saúde e educação para primeira infância; e o fortalecimento do sistema de saúde na Atenção Básica, especializada e hospitalar com a presença do pediatra no atendimento e planejamento do cuidado integral da criança, vigilância do crescimento e desenvolvimento.

Segundo Rodrigo Lima, professor de pediatria clínica na Universidade de Brasília (UnB), a desnutrição é um problema multifatorial e, para evitar esse cenário, é necessário um conjunto de ações. “Ampliar medidas de educação em relação ao planejamento familiar, estimular o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida da criança, e se possível, que esse aleitamento seja estendido até os dois anos, permitir o acesso universal das crianças aos serviços de atenção básica à saúde”, aponta.

Lima também coloca o acesso à educação como um fator importante, já que muitas crianças fazem refeições na escola. “Geralmente um cardápio controlado por especialistas, garantindo uma dieta de qualidade. Então a criança que vai na escola é beneficiada em vários setores da sua vida, ela aprende, se desenvolve, a se relacionar com o outro, pratica atividade física e também se alimenta”, afirma.

Foto de capa: Arquivo/Agência Brasil

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745