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O bobo fala a verdade

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Fazer rir não é a mais fácil das tarefas.
Dizer a verdade quando a pessoa não quer ouvir também não.
Quando, em um mesmo discurso, se quer juntar as duas coisas, a tarefa torna-se ainda mais difícil.
Conta a história que os bobos da corte eram os únicos que podiam falar, sem medo, aos reis e nobres as verdades que queriam, sem sofrer qualquer punição.
O motivo de tamanha liberdade?
Falavam tudo, como queriam, fazendo rir.
As pessoas ouviam o que nem sempre queriam, mas ouviam sorrindo.
Saiam assim, da presença do bobo, não ridicularizadas, mas felizes.
Por terem ouvido piadas a seu respeito?
Não!
Por saberem enfim o que todos queriam há muito lhes dizer, mas não tinham coragem?
Não!
Claro que não!
Eles saiam felizes por que tinham gargalhado, tinham se divertido.
E quanto às verdades que ficavam sabendo?
Ah! Essas eles simplesmente ignoravam, ou, quem sabe, pensavam em seus travesseiros.
Não sabemos ao certo se algo foi mudado na conduta de algum nobre ou rei depois de ouvir as verdades do bobo, afinal, estavam sendo ditas apenas por um bobo.

Que valor teriam?
Nenhum?
Seriam elas sem real valor mesmo?
Vai nessa.
Acredita nessa onda.
Diz uma sábia mulher, dos dias de hoje, que as verdades ditas com um sorriso são ouvidas sem resistência.
Ouvidas e aceitas.
Não vale terminar com um “Estou brincando”.
Caso assim o faça, fica cínico.
Desagradável.
Sem cinismo, a verdade cristaliza, a aceitação torna-se mais fácil e o diálogo acaba sendo natural, até mesmo favorável.
Dá até para parar, refletir e, quem sabe, mudar.
Palavras ditas com sabedoria, ditas sorrindo, por vezes brincando, fazendo rir, podem mudar o rumo das coisas.
Fazer com que o que é deixe de ser.
E tornar real o que não existia há pouco.
Fazer rir é um dom, falar a verdade também e falar a verdade fazendo rir, uma arte.

 

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744